Morte Sem Tabu https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 Dec 2021 22:32:29 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 ‘Seríamos mais gentis uns com os outros se aceitássemos o medo da morte’ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/11/02/seriamos-mais-gentis-uns-com-os-outros-se-aceitassemos-o-medo-da-morte/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/11/02/seriamos-mais-gentis-uns-com-os-outros-se-aceitassemos-o-medo-da-morte/#respond Mon, 02 Nov 2020 14:39:16 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/98040940_1031999907195557_1772374123628986368_o-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2148 Finados é um momento importante para esse blog. Afinal, é um dia em que todos querem falar sobre morte, nosso assunto diário. É também próximo à nossa data de aniversário. Morte sem Tabu nasceu há seis anos. Não por uma coincidência, é a idade do meu filho.

Esse é um espaço para compartilhar a dor e a complexidade dos mais variados lutos, acolher relatos, falar sobre suicídio abertamente e sem pisar em ovos (mas com respeito e responsabilidade), entrevistar profissionais do setor funerário, abordar livros, arte, autonomia no final da vida. Vida.

Hoje é um Finados atípico, bem descrito por Fininho na Folha de S.Paulo (leia aqui). Os cemitérios abrem suas portas para receberem as famílias dos que morreram de COVID-19. Muitas, visitarão seus túmulos pela primeira vez. Sem a pressa e a dureza do enterro sem velório a que foram submetidas.  

Um dia propício para falarmos sobre narrativas de conforto para lidar com nosso medo da morte. Esse tema é explorado pelo filme “Into the Night: Portraits of Life and Death” (Noite adentro: retratos da vida e da morte), da premiada documentarista americana Helen Whitney.

Recentemente, a entrevistei por intermédio de Tom Almeida, idealizador do Movimento Infinito. 

O filme é uma exploração das narrativas de conforto oferecidas por pessoas como a diretora funerária e comunicadora Caitlin Doughty, o astrofísico Adam Frank, o ator Gabriel Byrne e o ambientalista Max More.

Para o ator, a arte conforta como uma possibilidade de legado e a transmutação de um sentimento complexo. Para o ambientalista, é a  ideia de imaginar o corpo retornando à terra e de lá crescer uma árvore, em sua beleza majestosa. Para o astrofísico, é contemplar nossa pequenez na vastidão do universo. 

“E o que me traz mais conforto, depois de ter feito esse filme, é entender que todos nós estamos todos juntos nessa. Isso me traz mais conforto do que qualquer outra coisa. As pessoas estão se perguntando as mesmas coisas, têm esperanças e receios que não são tão diferentes dos meus. Isso nos torna menos solitários. Sim, estamos nessa juntos”, diz Helen.

            A diretora entende que o medo da morte, apesar de nos unir, também pode nos separar, ao negarmos que temos isso em comum. Seríamos mais gentis uns com os outros se aceitássemos o medo da morte. É o que  está por trás de algumas das nossas maiores crueldades e das maiores conquistas. É  que está por trás da construção de catedrais, da escrita de poemas, da atividade de colocar tinta nas paredes, da arte”. 

Como reação ao filme, ela se surpreendeu com a adesão de um público mais jovem, enxergando a possibilidade de falar sobre morte para viver a vida de forma mais plena.  

Para o filme, Helen também trouxe as narrativas dos que buscam a imortalidade, como os transhumanistas. Mas ela  não gostaria de viver para sempre. “Eu sinto que, conforme envelheci,  fiquei mais inteligente e mais gentil com os outros e comigo mesma. Mas demorou um pouco para eu chegar aqui, então eu gostaria de aproveitar a recompensa disso tudo só um pouquinho mais…”. 

Infinito.etc

O lançamento desse filme foi um dos atrativos da edição desse ano do Festival Infinito, criado por Tom Almeida.

Ao abraçar seu pai nos últimos minutos da sua vida na cama do hospital, Tom acessou um amor tão intenso que sentiu o infinito dentro da finitude, o permanente na impermanência. Dessa percepção surgiu o nome do festival, que teve sua terceira edição neste ano.

            Ele começou em 2018 como “Inspiração sobre Vida e morte”, a primeira série de eventos organizados para abordar o tema da morte, trazendo aos brasileiros o conhecimento de iniciativas pioneiras ao redor do mundo. “Não podemos perder o protagonismo da nossa própria doença”, diz Tom. “A melhor forma de oferecer esse protagonismo é informar”. 

Tom agregou e potencializou nossa voz em uma série de eventos e estratégias de comunicação que têm alcançado muitas pessoas e ressoando em espaços importantes.

Pensando nas dificuldades impostas pela pandemia aos rituais fúnebres, ele organizou guias para cerimônias fúnebres virtuais (disponíveis nesse link) e a terceira edição, online, do Festival  Infinito, com 3 mil inscritos (2 mil foram gratuitos). Nas suas palavras “para passar um final de semana inteiro falando e ouvindo sobre a morte e se sentir completamente vivo”.

Algumas pessoas são presença registradas nas edições desse evento, como a médica paliativista Ana Claudia Arantes, a musicista Yoko Sen, que redesenha o som dos hospitais, os bipes dos aparelhos, para tornar a experiência mais acolhedora, o diretor do Zen Hospice Project Roy Remmer, o fundador da plataforma “Death Over Dinner”, Michael Hebb e a Ana Michelle Soares.

Por ter sido um evento completamente online e contar  com figuras internacionais, como Andrew Solomon, o famoso autor de “Demônio do Meio-Dia”, a organização recebeu inscrições dos Estados Unidos, Portugal, Suíça. Existe toda uma estrutura de eventos e iniciativas para discutir a morte ao redor do mundo. Podemos dizer que o Brasil, finalmente,  está incluído nessa discussão.

 

Festival inFINITO 2020 01: Solenta Sonada e Tom Almeida
Festival inFINITO 2020: Tom Almeida (divulgação)
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Empresa faz funerais com temas da Disney https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2019/07/04/empresa-faz-funeral-com-temas-da-disney/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2019/07/04/empresa-faz-funeral-com-temas-da-disney/#respond Thu, 04 Jul 2019 13:49:28 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/mickeycasket-8-320x213.png https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=1727 A Disney é um dos destinos mais visitados para casamentos e lua de mel. Por 75 mil dólares você pode se fantasiar de princesa da Disney, encontrar seu príncipe no castelo da Cinderela e casar na frente de seus 100 convidados. Há a opção de uma cerimônia menor, para 18 pessoas, a partir de 12 mil dólares, e reservado com um ano de antecedência. É impossível contar quantas pessoas comemoram aniversário diariamente lá. Deve ter velinhas de 1 a 100 pipocando pelos parques.

Oficialmente, a Disney não organiza funerais. Mas o assunto não é surpresa para os funcionários, que vira e mexe, veem seus clientes despejando cinzas no parque, nos rios ou laguinhos que decoram os espaços, no brinquedo predileto e por aí vai. Se até nos clubes mais elitizados de São Paulo isso acontece, segundo relatos que eu já recebi, imagina na Disney. O Wall Street Journal apurou códigos usados pelos funcionários. Código V serve para avisar que um visitante vomitou no parque. Código U significa urina e o HEPA, para cinzas, indicando a necessidade de um aspirador de pó no local.  O jornal conversou com cinco visitantes que admitiram terem feito isso. Jackson Wells contou ter jogado as cinzas da mãe no parque, por ser seu “happy place”, um local de felicidade. Kym Pessolano passa os aniversários de morte da mãe lá, “ao invés de ir para um cemitério”, ela diz, “eu vou para a Disneylândia”.

De forma não oficial, funerárias americanas têm buscado se aproveitar do universo lúdico da Disney. O “Magical Passings” traz serviços customizados com os temas dos personagens. O slogan: “Send them to the castle in the sky” (envie-os ao castelo no céu). Oferecem decoração com o tema favorito, como um caixão da Branca de Neve e os Sete Anões acompanhando o velório.

O site não menciona um telefone, mas há um formulário a ser preenchido e enviado. Me responderam imediatamente com um email explicando como tudo funciona. Uma informação me chamou atenção: “Some items may require additional time to arrange transportation. This usually pertains to large items like the pirate ship bow, Cinderella’s glass viewing case, as well as the Hitchhiking Ghost mannequins”. (alguns ítens podem demorar um pouco mais para serem transportados, por serem muito grandes, como o suporte de navio do pirata,  a janela de visualização da Cinderella, e os manequins dos fantasmas Hitchhking).

Me recomendaram já fazer uma lista de músicas prediletas, que pode ir de “Rei Leão à Mary Poppins”.

No próprio site, mencionam a oferta desse serviço: ”Our in-house composer will mix the different songs and themes into one elegant ballad, or a fierce fight at sea. No matter what your musical requirements are, we are confident we can help you relive the magic.  After all, this is your grand finale”. (nosso compositor irá mixar as diferentes músicas e temas em uma balada elegante, ou uma intensa batalha no mar. Não importa quais são suas solicitações musicais, estamos confidentes de que podemos ajuda-lo a reviver a magia. Afinal, esse é seu grand finale)

A divulgação traz expressões dos personagens, como a de Peter Pan, “Never say goodbye, because saying goodbye means going away, and going away means forgetting” (nunca diga adeus, porque dizer adeus significa ir embora e ir embora significa esquecer). Oferecem os seguintes personagens: Mickey Mouse, Pateta, Minnie Mouse, Pato Donald, Capitão Jack, Ursinho Puff, Pluto, e o próprio Walt Disney. É possível solicitar serviço para crianças, adolescentes, adultos e animais de estimação.

Há a sugestão de um beijo final antes de fechar o caixão. Um beijo do Mickey. “Saying goodbye is never easy. It is all part of the great circle of life. When the time comes, and the service comes to a close, it is ended with a simple kiss goodbye. This final kiss can be performed open or closed casket”. (dizer adeus nunca é fácil. Faz parte do grande ciclo da vida. Quando for a hora de fechar o caixão, podemos terminar com um simples beijo de despedida. O beijo final pode ser performado com o caixão aberto ou fechado)

Justificam o uso dos personagens como um processo que pode ajudar os mais jovens a sentir um pouco de alegria durante um período normalmente muito confuso. “Their favorite mouse, or other character, will be there for them to comfort them in their time of need”. (Seus personagens favoritos estarão lá para confortá-los em um momento de necessidade)

Procurada, a Disney afirma que não atua nesse setor.

Alguma dúvida de que a ideia poderia pegar?

 

 

 

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