Morte Sem Tabu https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 Dec 2021 22:32:29 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Depoimento: sobrevivi a duas tentativas de suicídio  https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2021/09/13/depoimento-sobrevivi-a-duas-tentativas-de-suicidio/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2021/09/13/depoimento-sobrevivi-a-duas-tentativas-de-suicidio/#respond Mon, 13 Sep 2021 19:25:18 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/ca880b1e-bd4e-4ac7-948d-cb1da7798b6d-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2509 Setembro é o mês da prevenção do suicídio. Falar sobre suicídio é importante, mas é necessário cuidados para não alimentarmos mitos e disseminarmos estatísticas falsas. Tenho visto bastante disso por aí, infelizmente. Na semana passada, publicamos uma entrevista sobre isso com a psicóloga fundadora do Instituto Vita Alere, Karen Scavacini.  Leia a entrevista aqui.

Hoje, trazemos o depoimento de Rodriggo Marucco “Eu sobrevivi a duas tentativas de suicídio”.

Rodriggo é professor de português e de música. Formado em piano clássico, sente que a arte o ajudou a sair da crise em que estava. “Eu me encontrei comigo mesmo. Eu não era aquela pessoa. Eu sou o Rodriggo artista, que gosta de viver, que gosta de amar, que gosta de escrever”. Rodriggo escreve poesias na sua página do instagram. 

Uma música para esse momento? Essa daqui.

Ele comentou que escrever sobre essa experiência para o blog lhe fez muito bem. “O que eu vivi era um fantasma dentro de mim, que poderia voltar a qualquer momento. Quando eu escrevi, percebi como isso tudo é distante de mim. Parece que nem foi comigo. Sinto como se tivesse acontecido com outra pessoa. Todo receio que eu tinha foi embora”.

Esse texto foi modificado para seguir as recomendações da OMS na cobertura desse tema. Não se deve mencionar o método e o local da tentativa para não acionar o risco do Efeito Werther. O nome do efeito é inspirado no livro do autor alemão Goethe (1749-1832), “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, escrito em 1774. O protagonista, Werther, morre depois de uma frustração amorosa. O drama incitou uma onda de suicídios com jovens usando a mesma roupa que o protagonista usava e o mesmo método que ele descreve no livro. Hoje, esse livro não teria esse efeito. Naquela época, ele foi inovador ao provocar uma reflexão sobre os sentimentos, o que não ocorria na literatura, e impulsionou o Romantismo na Europa.

Roddrigo, agradeço a confiança. Seu depoimento é recebido de braços abertos e coração aquecido.

 

Sobrevivi a duas tentativas de suícidio 

Por Rodriggo Maruco

Olá, eu sou o Rodriggo – tenho 42 anos de idade, 26 de depressão diagnosticada e duas tentativas de suicídio. Antes de contar minha história, quero dizer que estou bem e que estou à disposição de quem estiver passando por isso. Minha vida é muito boa, nunca me faltou nada – sobrava até. Nunca sofri bullying, tampouco fui desprezado ou repelido. E esse é o ponto de onde eu quero partir.

É um engano tão perigoso quanto comum acreditar que o suicídio vem unicamente da pobreza e/ou da solidão; pais, mães, maridos, esposas…, quem aparentemente está em consonância com a existência pode carregar o inferno dentro de si;  sufocando-se em seu desespero, rendendo-se perante a angústia, perdido na agonia.

Alguns dos que pretendem encerrar a própria vida se manifestam claramente – inclusive verbalizam acerca desse desejo – e não pense que essa manifestação é apenas da boca para fora: quem se manifesta acerca do fim da própria vida já pensou nele muitas vezes. Mas há ainda um tipo de “desesperado” mais passivo, mais complicado de entender, o meu caso.

De uma hora para outra, com minha linda namorada, meu filho repleto de boa saúde e meu trabalho indo muito bem, eu prostrei-me. Calei minha voz, alquebrei o meu corpo sobre o colchão de onde só saí para buscar o que iria me matar; não direi o quê porque para quem passa o que passei isso seria uma péssima dica.

Acordei zonzo no hospital, com um tubo no nariz e vendo a face estática da minha mãe. Saí de lá e tentei tocar a vida, mas sabia – temos muitas certezas ruins quando pensamos em morrer – que não daria certo. Passaram-se dois anos.

Dia 1 de fevereiro deste ano eu planejei meu suicídio e no dia sete eu escrevi uma carta (levem a sério as cartas, são um sinal muito claro de que as coisas não vão bem).  Eu vi a morte: não consegui voltar, quase desmaiei. 

Uma cachorra recém chegada em casa, a Zara, mordeu meu calcanhar e por puro reflexo eu consegui fazer o último movimento de que fui capaz. Não fiquei em prantos nem caí ajoelhado, eu fiquei parado – corpo e mente parados. Depois de alguns minutos eu consegui entrar de volta em casa e até hoje sinto o medo da morte que vi tão de perto – não gostei, não era hora. Desisti de morrer e nunca quis tanto viver. 

Quero terminar dizendo que esse sofrimento doído vai passar, meu irmão, minha irmã – sua vida é seu bem mais precioso e você é um precioso bem da vida – aos que sofrem: peça ajuda, não é vergonha sofrer; aos que vêm sofrer: aja, o mais rápido possível.

Prostração, silêncio absoluto e descuido com a higiene são sinais claríssimos de um suicida em potencial. Vai passar, mas até isso acontecer – cuidemo-nos. 

Um abraço,  

Rodrigo 

Contato: letraseteclas@gmail.com

CANAIS DE AJUDA GRATUITA:

CVV – 188 SITE

INSTITUTO VITA ALERE – SITE

MAPA DO ACOLHIMENTO  – SITE

 

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O que você pode fazer pelo setembro amarelo? https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2021/09/03/o-que-voce-pode-fazer-pelo-setembro-amarelo/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2021/09/03/o-que-voce-pode-fazer-pelo-setembro-amarelo/#respond Fri, 03 Sep 2021 12:40:23 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/lina-trochez-ktPKyUs3Qjs-unsplash-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2495 O que você pode fazer pelo setembro amarelo?

Primeiro, entender melhor sobre o tema, com uma  especialista confiável do assunto. Entrevisto abaixo, Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere. Karen também representa o Brasil nas discussões internacionais sobre como tornar as redes sociais mais seguras, em termos de saúde mental, aos usuários, como veremos abaixo.

É importante termos em mente que falar sobre suicídio é fundamental e exige cuidados. O primeiro deles é pensar que quem lerá sua postagem, ou comentário, pode estar em uma situação de vulnerabilidade. Ou, pode ter passado por uma situação de risco, pessoalmente, ou acompanhado alguém em risco. Nesse caso, esse tema pode trazer memórias e sensações delicadas.

Outro ponto: sempre indicar locais de ajuda especializada, como o CVV (188), o Mapa da saúde mental e o instituto Vita alere.

Você pode se disponibilizar para uma escuta empática, sem julgamentos. Não tem problema perguntar para a pessoa se ela está pensando em suicídio. Perguntar não é colocar o pensamento na cabeça dela. Isso é um dos mitos do suicídio. Podemos também  usar a palavra ‘suicídio’, de forma clara. A pessoa se sentirá vista, escutada, se você não tiver constrangimentos durante a conversa e se abrir para uma relação profunda e conectada.

Muitas pessoas em risco sentem que não ‘pertencem a esse mundo’ porque ‘não são suficientes’ para ele. O fardo de precisarmos ser ‘bons o suficiente’ é terrível. Não podemos saber o que o outro está sentindo, mas podemos acolher. E encaminhar para ajuda especializada. Se houver risco iminente, se você perceber que essa pessoa planejou um suicídio e pretende fazê-lo nesse momento ou  em um momento próximo, tome cuidado com a crença de quem ‘ameaça não faz. Este é um mito também. Essa pessoa precisa de ajuda imediata e pode ser encaminhada a um pronto socorro psiquiátrico.

Esse é um dos maiores desafios de hoje. Termos espaços seguros para esses encaminhamentos, que seja específico para o comportamento suicida, com profissionais treinados nesse tema, e uma política nacional de prevenção. É sobre isso que deveríamos estar falando, e fazendo, no setembro amarelo. Para isso, não precisamos de um mês de pautas, sim de planejamento e atuação, qualquer dia do ano.

Esses são alguns aprendizados que eu trago da conversa abaixo. Boa leitura. Um abraço com carinho, Camila.

Por que setembro amarelo?

O setembro amarelo foi criado pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), pela Associação Brasileira de Psiquiatria e a Associação Médica Brasileira por conta do dia 10 de setembro, que é o Dia Internacional da Prevenção do Suicídio. 

Uma das versões para a opção da cor amarela é a de um rapaz que se matou nos Estados Unidos e tinha um camaro amarelo (um tipo de carro). Seus pais distribuíram laços amarelos no dia do velório, com mensagens de oferta de ajuda. 

Setembro amarelo é um mês todo dedicado a esse tema tão delicado quanto fundamental: prevenção do suícidio. Precisamos ter responsabilidade e empatia.  Um mês todo é muito tempo falando sobre isso?

É muito tempo falando desse tema. As pessoas que estão vulneráveis, que têm comportamento suicida, e as que perderam pessoas, podem ficar incomodadas neste mês. Então, você gera um sofrimento extra para essas pessoas. Elas são lembradas o mês inteiro sobre o que aconteceu ou o comportamento que estão passando e escutam muitas bobeiras, infelizmente. Por exemplo, a informação equivocada de que ‘90% dos casos podem ser prevenidos’. Não há embasamento para esse número e traz uma  culpabilização enorme para aqueles que ficam. 

Eu vi que você divulgou que alguns podem ser prevenidos, mas não previstos.

Nem todos serão evitados, nem prevenidos. Não temos essa estatística. 

Tem outro ponto importante, que eu chamo de marketing amarelo. São as pessoas que colocam a fitinha, postam na rede social, mas não estão realmente abertas para terem essa conversa. (falamos mais sobre orientações para se ter essa conversa, mais para frente, na entrevista )

Como o poder publico tem se posicionado nesse mês? 

Hoje, a gente tem visto muitas prefeituras aprovarem o dia da prevenção do suicídio, ou a semana amarela. Mas o quanto que realmente a prefeitura, o governo, estão trabalhando na prevenção do suicídio?

O que eles deveriam estar fazendo?

Nossa, muitas coisas. Primeiro, ter um programa nacional de prevenção do suicídio. 

Precisaria dar mais apoio ao CVV, por exemplo. O CVV tem um atendimento maravilhoso, mas o estado poderia ajudar também. 

E quando precisamos encaminhar a pessoa para atendimento, encaminhamos para onde?

Precisaria ter espaços de atendimento específicos para o comportamento suicida. Não temos espaço de atendimento para jovens com comportamento suicida.  

Os agentes de saúde e os professores de ensino médio deveriam ter um treinamento de prevenção do suicídio. O que temos hoje em dia em termos de promoção de saúde mental para os próprios professores?

Boa pergunta. Deveríamos ter. Há um longo caminho pela frente.

A notificação compulsória ainda não foi regulamentada. Os hospitais e os profissionais de saúde deveriam fazer notificação compulsória das tentativas de suicídio. Não sei o quanto isso acontece. Não temos como medir. Agora estão querendo regulamentar que a escola também faça notificação compulsória.

E eu não sei até que ponto esse é o papel da escola. Porque aí é notificação compulsória de suicídio e autolesão. E são comportamentos diferentes.

Por que é importante termos essa notificação feita pelos profissionais de saúde e pelos hospitais?

Porque só assim a gente consegue ter uma ideia da quantidade de casos e poderemos fazer uma análise por região, por idade.Para pensar nas melhores práticas ou nas práticas necessárias para a prevenção do suicídio.  

A notificação compulsória funciona para conseguirmos mais dados e funciona para o conselho tutelar ser acionado e verificar em que condições essa pessoa está vivendo. Sempre com muito cuidado para não culpabilizar essa família. Então, o conselho tutelar também precisa ser sensibilizado para a atuação que ele tem junto à família.

 Você mencionou que autolesão e suicídio são comportamentos diferentes. Quais são as diferenças?  

A principal diferença é a intencionalidade. A autolesão acontece, muitas vezes, para um alívio de uma dor psíquica. Mas a intenção é o alívio, não a morte.  No suicídio, a intenção é morrer. Mesmo que a gente entenda que a maioria das pessoas queira acabar com uma dor insuportável e não morrer, ela sabe que a intenção daquele ato é provocar a morte.  

Mas quem se autolesiona tem mais risco de suicídio. Porque a gente também entende que é uma pessoa que não está lidando de forma saudável com suas questões emocionais. Então, ela pode vir a desenvolver um comportamento de suicídio. 

 Quais são ainda, os maiores mitos do suicídio?

 ‘Quem fala não faz’. Relação com coragem, com fraqueza, com falta de Deus no coração. Que perguntar para uma pessoa se ela está pensando em se matar é colocar a ideia na cabeça dela.

Outro mito é que o suicídio pode ser prevenido a todo custo. É um mito que a gente consegue prevenir todos os casos. 

A prevenção é extremamente importante e possível, mas não sabemos quanto. Por isso, não dá para falar em 90% de prevenção, como se fala por aí. 

O que está por trás do mito de ‘quem fala não faz’?

Tem duas vertentes aí. Uma que o suicídio tem a ver com manipulação. Então, se essa pessoa tá falando é porque ela tá querendo me manipular. ‘Cão que ladra não morde’, ‘se falou é porque não quer fazer’, ‘se quer fazer de verdade não fala para ninguém’. 

E a gente sabe que muitas das pessoas que falam, podem fazer. Não se trata de manipulação, e sim de comunicação. De que algo muito difícil está acontecendo com aquela pessoa a ponto dela falar sobre suicídio.  

 Há sinais de que uma pessoa está em risco?

 Existem sinais. Nem sempre são fáceis de interpretar. Alguns são mais óbvios, como dar um sinal verbal direto ‘quero morrer’, ‘vou me matar’. Os sinais verbais mais indiretos às vezes só fazem sentido depois da morte, por exemplo: ‘eu vou acabar com tudo’, ‘logo vocês não vão precisar mais se preocupar comigo’, ‘vou resolver essa situação para sempre’. 

O importante é tentar perceber falas fora de contexto. Se a pessoa está falando isso e parece não ter muito sentido, é um sinal de alerta. Por exemplo: ‘eu não estarei aqui quando você voltar’. Essa fala faz sentido se tiver algo que explique isso. Se não tiver, não faz sentido.

Depois que acontece, os familiares vão buscar na memória algumas falas e decodificam que poderiam ser sinais verbais que não foram percebidos. Isso aumenta a culpa dos familiares. 

Nós temos sinais comportamentais. Os mais fáceis da gente perceber são as mudanças bruscas de comportamento, alterações de sono, aumento da agressividade, aumento de engajamento em comportamentos de risco, uso de álcool e drogas. 

E tem os mais indiretos. Como não ter mais prazer nas coisas que tinha antes. Para adolescentes: problemas na escola, problemas físicos que a gente não entende a causa, como começar a ter muita dor de barriga, muita dor de cabeça. 

Lógico que são sinais de sofrimento emocional. Algumas pessoas com sofrimento emocional podem ter comportamento suicida.

Como ajudar uma pessoa próxima que apresente sinais?

 A primeira coisa é não ficar passivo. 

Podemos chamar essa pessoa para uma conversa. Uma conversa empática, que significa se colocar no lugar do outro, não julgar, não ter essa conversa com pressa. Fazer uma escuta ativa é muito mais ouvir do que falar. Demonstrar sua preocupação é dar espaço para a pessoa contar sua história. 

Se num dado momento, você achar importante, achar que deve, faça a pergunta: ‘Você está pensando, ou já pensou, em fazer alguma coisa com você?’… Ou variantes dessa pergunta. 

Para a gente fazer essa pergunta, temos que superar o mito de ‘se eu perguntar, vou colocar a ideia na cabeça da pessoa’. 

Se ela falar que sim, a gente pode fazer perguntas mais específicas. ‘você já pensou em suicídio? Já pensou em se machucar?’.

Não tem problema usar a palavra suicídio. Não tem problema perguntar isso para alguém. Pode ser justamente a fresta que ela estava esperando para ser ajudada. 

Se você perceber que ela pode estar em risco agora, que é falar que ela está pensando em fazer o ato, que sabe como e quando. Nesses casos, ela precisa ser levada a um pronto socorro psiquiátrico. Nos outros casos, será encaminhada para uma avaliação psicológica ou psiquiátrica. 

No caso de adolescentes, entender que não se deve jurar segredo. 

Como é isso?

Adolescentes contam muito para os outros que estão pensando em se matar e pedem segredo ‘não conta para ninguém’. Tem uma campanha nos Estados Unidos que fala ‘é melhor um amigo bravo do que um amigo morto’, tamanha a quantidade de vezes que isso acontece. 

Você tem duas edições do”Histórias de Sobreviventes do Suicídio”, que são relatos de um concurso de sobreviventes. Depoimentos de tentantes, familiares e profissionais de saúde. Qual é o retorno que você tem tido disso?

 As pessoas ficam muito tocadas com as histórias. Tem pessoas que agradecem poder contar as histórias. Pessoas que leem e agradecem por conseguirem ver o tema de outra forma. Ou conseguirem se ver nas histórias. Profissionais usam para estudo de caso, discussão em grupo. E pessoas que passaram por isso e se identificam. São histórias de superação.

O suicídio aumentou na pandemia?

Não aumentou. Eu faço parte de um grupo internacional de 47 países, a International Covid-19 Prevention of Suicide Research (Pesquisa Internacional de prevenção ao suicídio). É um grupo formado por representantes internacionais do IASP – International Association for Suicide Prevention. A gente tá monitorando, desde março do ano passado, a relação entre covid e pandemia. Temos reuniões mensais para discutir esses temas. Eu sou a representante do Brasil junto com o doutor José Manoel Bertolote, que  fez parte da OMS (Organização Mundial da Saúde). É feito um agrupamento de artigos relacionados ao suicídio e à covid para a gente ver o que ta sendo publicado. 

O que tem aparecido? Uma estabilização do número de casos de suicídios completos. Até diluição em alguns locais, inclusive no Brasil. Para medirmos no Brasil pegamos alguns dados oferecidos pelo Ministério da Saúde e alguns dados cedidos pela prefeitura. 

Junto a uma outra pesquisa que fizemos junto ao corpo de bombeiros de São Paulo em relação ao número de chamadas que eles recebem. 

O único local que teve aumento foi no Japão, em mulheres, a partir de outubro do ano passado. 

Se a gente pegar histórico de outras pandemias, também não vemos aumento durante a pandemia. O número de casos aumenta quando a pandemia acabou. 

Neste mês em que falaremos sobre esse tema, quais são os cuidados ao compartilhar conteúdo? 

O que não falar? Não colocar fotos, vídeos, fotos de métodos, explicações de métodos, não mencionar o local, não colocar suicídio ligado a falta de deus no coração, não falar números sem comprovação científica. Fazer uma revisão de todo o conteúdo antes da postagem, pensando que pessoas vulneráveis podem ter acesso a esse conteúdo. Quando necessário, precisa ter aviso de gatilho. Pensar na mensagem que a pessoa que quer passar. A mensagem não funciona para todos os públicos. 

 Pensar o que você quer comunicar e para quem. Mostrar que o suicídio pode ser prevenível, que existe ajuda disponível.

Sempre, sempre colocar locais de ajuda, como o CVV (188) e o mapa de saúde mental.

Pensar se você estará disponível se alguém vier te procurar. Pensar na pós campanha, na pós postagem. Pensar no que você vai fazer com as pessoas que você sensibilizar e virem te procurar. Pensar em transmitir uma mensagem positiva que é possível fazer algo. No instituto tem uma cartilha com muitos materiais de apoio. 

Podemos e devemos falar  sobre o suicídio, seja em  setembro ou o ano todo. E você, o que tem feito para a prevenção  do suicídio?

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Humanizar é preciso, diz Major do Corpo de Bombeiros https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2021/01/27/humanizar-e-preciso-diz-major-do-corpo-de-bombeiros/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2021/01/27/humanizar-e-preciso-diz-major-do-corpo-de-bombeiros/#respond Wed, 27 Jan 2021 19:57:19 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/39ade921-e6ba-43ba-8d6b-ba55c5321857-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2266 Foi uma visita impactante. Chegamos à Escola Superior do Corpo de Bombeiros, em Franco da Rocha- SP, para entrevistar o Major Diógenes Munhoz sobre o curso de prevenção ao suicídio que ele idealizou e implementou. A ideia da equipe do Conversa com Bial (da qual faço parte) era entrevistar o Major e filmar os diferentes cenários usados para simulações. Toda equipe ficou impressionada. É um trabalho que muda a abordagem do corpo de bombeiros a tentantes do suicídio, para maior humanização do olhar desses profissionais. O vídeo foi ao ar em abril de 2018, pode ser visto no GloboPlay.

O treinamento é feito com simulações em circunstâncias desafiadoras. Em um deles, um homem ameaça se jogar do prédio. Ele está preso a uma corda e há um colchão caso ele se jogue – simulando uma tentativa frustrada de salvar uma pessoa. Os alunos devem se aproximar e convencer o potencial suicida para entrar no prédio. No outro, containers simulam um potencial suicida com fogo. O cenário é bem realista. Ainda há a simulação de um potencial suicida “fora do ar”, vendo elefantes voadores, por exemplo.

Fiquei impactada pela dedicação do Major Diógenes em preparar os bombeiros para esse momento. Até então, a estratégia era distrair e agarrar. Eles deveriam fazer com que o potencial suicida se distraísse para puxá-lo à força para dentro. A nova abordagem busca treinar os bombeiros para acolher seu sofrimento, e ele mesmo desista da ação. Essa pessoa não pode se sentir enganada. O Corpo de Bombeiros, com o treinamento, passa a ser uma fonte de confiança e segurança em um momento de desespero.

O Major nos escreveu um relato, que reproduzo abaixo. “Humanizar é preciso”.

Humanizar é preciso!

Major Diógenes Martins Munhoz

Poderia aqui me ater a dezenas de estatísticas impactantes que abordam o tema suicídio, não só no Brasil, como também no mundo. Poderia também de certa forma chamar a atenção de vocês, queridos leitores, com relação à importância da prevenção do suicídio em toda à população. Tudo isso com certeza faria vocês voltarem suas atenções para o problema que vêm crescendo na sociedade de forma assustadora.

Mas quando fui honrosamente convidado por minha amiga Camila Appel a escrever essas poucas linhas decidi voltar a lupa das atenções para o ato suicida, no qual me encontro engajado há cerca de 15 anos por ser do Corpo de Bombeiros de São Paulo, ou seja, o momento em que uma pessoa decide tirar sua vida, indo de encontro com seus instintos mais primitivos, quer por desespero ou mesmo por desesperança.

Esse momento é o linear espaço, praticamente imensurável, entre a vida e a morte de um ser humano, que possui família, face, história, angustias, vitórias, derrotas, crenças…, enfim uma pessoa como outra qualquer, que por uma somatória de fatores acabou decidindo por sua abrupta inexistência.

Vi, em razão de minha profissão, por 55 vezes a face da morte em viadutos, pontes, torres, quartos, sacadas, e testemunho com toda a certeza, ela não é bonita, mas ela é remediável. Você pode se perguntar o que faz uma pessoa tentar o suicídio. Eu respondo:

Vários fatores endógenos e exógenos, mas creio que a pergunta mais importante para mim que irei agir diretamente na última chance de vida dessa pessoa é: como tirar uma pessoa dessa condição extrema?…a resposta? Simples……humanizar!!!

Dar um novo enfoque para a vida dessa pessoa, mesmo nos locais citados acima, é um meio que vem sendo utilizado nas diversas Corporações que lidam com essa emergência e tem se mostrado muito eficaz. Deve ir ao longe o tempo em que simplesmente distraíamos esses tentantes (palavra que adaptei por respeito ao suicida) e depois de forma ríspida tirávamos dessa situação, sem nos importar com suas dores, histórias e angústias.

Ouvi-los de forma empática, exercitar uma escuta compassiva é fundamental para reverter a impulsividade do desejo de morte. Ajudar tentantes a encontrar soluções é ajudar diretamente em seu prosseguimento da vida.

Para isso um curso foi criado e desenvolvido pelo Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo desde 2015 e já se expandiu para outros 14 Estados do país. Porque deu tão certo? Por que agora a vida desses tentantes sempre estará sendo priorizada nessas emergências. Faces, dores, angustias, desilusões agora têm importância no processo de salvamento.  O primeiro passo para a vida sempre será o mais importante e cabe a nós, profissionais das áreas de Emergência, garanti-lo.

Sigamos salvando! Essa é a missão mais forte e importante, afinal viver pelos outros é a única forma de viver plenamente.

Gratidão

Diógenes Martins Munhoz

Idealizador do Curso de Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio

Site: https://www.diogenesmunhoz.com.br

Foto: Diogenes Munhoz

 

Foto: Diogenes Munhoz

 

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No topo da montanha: ‘quando eu quis morrer ‘ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/12/22/no-topo-da-montanha-quando-eu-quis-morrer/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/12/22/no-topo-da-montanha-quando-eu-quis-morrer/#respond Tue, 22 Dec 2020 14:00:54 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/tempImageVjOA2N-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2199 Recebemos o potente depoimento de Joana. Ela reflete sobre sua tentativa de suicídio após ter sofrido um estupro e ser desacreditada por pessoas em quem confiava… Um trauma profundo. Escrever e falar sobre isso é começo de uma transformação. Leia o texto na íntegra abaixo.

“Entender minha oportunidade de estar aqui, mesmo depois de tanto não querer estar. A morte sempre foi uma ideia plausível. Sempre. Desde pequena. Coisa estranha de se dizer, porque sei que é estranho, mas para mim (e Sylvia Plath), eu sei que não é. Hoje, no entanto, quero pensar na vida. Entender o que significa estar aqui. E perfeita, ainda assim? Sem marcas físicas, psicológicas que me impeçam de realizar. E muito mais forte, principalmente. Imagina se Deus não quisesse mesmo mais nada mais comigo…”

No topo da montanha: ‘quando eu quis morrer ‘

Durante a nossa vida, temos diversos encontros com a morte, e a gente sempre espera que seja com a morte do outro, com o parente do outro, com o amigo do outro, não com o meu, não comigo. 

Há pouco mais de três anos, eu tentei suicídio. Foi, naturalmente, meu “topo da montanha” do insuportável de tudo que eu havia suportado até então, sem perceber. Fazia cinco ou seis anos que minha vida se tornara um dedicado culto a um templo religioso (e sua “religião”), onde eu ia para trabalhar como voluntária e funcionária. Era impossível dizer se me restava o que fazer e viver fora de lá. Todas as pessoas, amores, cheiros e sentidos, para mim, estavam lá dentro. Tínhamos uma cabeça, uma chefe, uma guia… e eu poderia pensar em muitos nomes para ela e não encontrar nenhum. É injusto descrever de maneira tão crua uma pessoa tão complexa. Mas não quero torná-la centro de nada agora, ela vai ter o seu momento. Por ora, vou chamá-la de Ama. A Ama gostava de cuidar de nós, ou da nossa vida, ou de controlar a nossa vida. Ou de ter poder. Coisas que descobri com o tempo, da pior maneira e uma de cada vez. Ela regulava de idade com a minha mãe, que há mais de dez anos morava longe de mim. Foi uma grande oportunidade para a Ama abocanhar a vaga “materna”, e ela – que tinha braços de Medusa – foi ligeira no processo da adoção simbólica, e em pouco tempo, já me chamava de filhinha. 

No entanto, dois ou três anos depois, a minha vida “estável” no templo começou a demonstrar leves sinais de “isso não é estabilidade, é farsa; você vai desmoronar.” E eu comecei a sentir dores que ninguém conseguia enxergar. Daquelas que “pensamentos positivos” não medicam, pioram, porque você não consegue sequer pensar, e “olha como a vida é bela” tampouco. (As pessoas, em geral, precisam realmente rever se têm condições de ajudar alguém em necessidade de emergência mental antes de aconselharem o “belo e colorido” porque “pensamento positivo” é a última solução viável que eu enxergo, já tendo passado por buracos bem fundos). Mas eu estava em um centro religioso, onde a vibe predominante é essa. Eu não tinha como enxergar, e minha dor estava sendo negligenciada da pior maneira possível. Eu não tinha como enxergar, porque toda a solução do mundo, para mim, estava lá dentro, era lá dentro. 

Uma semana antes de eu tentar suicídio, sofri um estupro. Fora do templo. Homens.  Violência. Lembranças ainda muito ruins e embaladas em um curativo mal feito e recente, com cheiro de éter que arde nos olhos. Aquilo reforçou, na minha cabeça, que o mundo fora do templo era um perigo, e eu era um espiral, em velocidade da luz. Não sei se já tentaria morrer, mas depois do estupro, foi definitivo. 

Quando contei à Ama, ela não acreditou. Um baque. Um baque. Mil vezes um baque. Me desmentiu para minha família, para a única pessoa a quem eu havia contado da família, depois de vencer uma muralha de vergonha. E o mais grave de tudo: ela me desmentiu para mim mesma. Mais tarde, quando escalei o cume da montanha e pedi ajuda, nenhuma chegou. De ninguém. Ninguém. Quem ouviu, de longe, foi o coração da minha mãe, que decidiu ir até a minha casa. Quem, “por sorte”, estava na mesma cidade no dia. Foi ela, minha mãe real, quem me salvou. Inexplicavelmente, como sempre funcionam as mães. Porque aí, eu tentei morrer. 

A Ama desapareceu. Decidiu apenas esclarecer semanas depois, quando eu tive alta, que não queria mais se envolver por medo de acreditarem que estávamos vivendo um romance. Queria muito ter dito a ela “Tenha dó!”, mas ainda estava sob efeito de muitos remédios. 

Eu não morri, fisicamente. Na verdade, talvez tenha morrido, sim, por alguns breves instantes, porque tive uma parada cardiorrespiratória. Mas vivi. Até voltei ao templo algumas vezes depois da alta, mas me disseram que não havia mais o que ser feito por mim lá. Deus já havia feito tudo e não poderia mais me ajudar. Esgotei o deus deles!, pensei. E demorei para me convencer que deveria seguir. Matar toda essa vida. Matar de maneira saudável, porque dizia respeito ao que residia em mim, a minha história. Ao meu, a mim. Ressignificar. Viver o luto, que durante anos de terapia, nunca mencionei. Hoje, sem terapia, penso que mencionaria, e muito. Não é realidade achar que as fases do luto são protocolares e ordenadas. Tem dias em que passo por todas elas de uma vez só.

Entender minha oportunidade de estar aqui, mesmo depois de tanto não querer estar. A morte sempre foi uma ideia plausível. Sempre. Desde pequena. Coisa estranha de se dizer, porque sei que é estranho, mas para mim (e Sylvia Plath), eu sei que não é. Hoje, no entanto, quero pensar na vida. Entender o que significa estar aqui. E perfeita, ainda assim? Sem marcas físicas, psicológicas que me impeçam de realizar. E muito mais forte, principalmente. Imagina se Deus não quisesse mesmo mais nada mais comigo…

OBS: Joana é um nome fictício. Ela preferiu não se identificar.

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O que ele foi e fez é maior do que a forma como ele morreu https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/11/25/o-que-ele-foi-e-fez-e-maior-do-que-a-forma-como-ele-morreu/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/11/25/o-que-ele-foi-e-fez-e-maior-do-que-a-forma-como-ele-morreu/#respond Wed, 25 Nov 2020 20:49:31 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/ae24a2d6-1615-4bad-9fe7-802fdd6f4446-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2171 Luciana é psicóloga há 21 anos. Sempre gostou de escutar as pessoas e achava que conseguia, de alguma forma, ajudá-las.

Quando estava se formando na área, em 1999, resolveu dar uma festa de comemoração. Contratou um rapaz chamado Marden, que tinha uma empresa de eventos. Os dois amavam música, ele tocava violão, ela também. Em três anos, engataram namoro e se casaram. Tiveram dois filhos.

Luciana via Marden como uma pessoa animada que gostava de receber amigos em casa, cozinhar, procurava agradar todo mundo. Em uma sexta-feira de novembro de 2015, depois de um dia considerado normal, foram dormir. “A gente se deu boa noite combinando o dia seguinte. Então, fui acordada com a triste notícia de que ele havia se matado”.

Começou a estudar o tema como uma forma de entender melhor o que ocorreu. Hoje, ela vê sinais de mudança de comportamento do marido naquela época, como deitar depois do almoço no escuro, coisa que não costumava fazer até então.

“A depressão não era algo visível. Hoje, vejo claramente que ele era bipolar, só que quando ele ia para hipomania, ele não se deprimia da forma mais comum de se ver. Ele continuava fazendo seu trabalho e realizando suas atividades”. Lamenta não ter tido qualquer matéria sobre suicídio na Federal de Minas Gerais, UFMG, onde se formou psicológa.

Luciana não sentiu culpa ou remoeu acontecimentos, como pode ocorrer em situações assim. Ela sentiu que Marden nunca teria feito aquilo por uma reação a algum comportamento dela. “Ninguém acaba com a própria vida por causa de alguém”. Mas o estigma era difícil de ignorar.

“Nos primeiros dias eu pensei: nossa, vou ficar de óculos escuros, porque eu não aguento nem olhar nos olhos das pessoas. Não era de vergonha, porque eu nunca tive vergonha. Tudo o que Marden foi e fez de bom é muito maior do que a forma que ele morreu. Falo com orgulho que fui esposa dele. Mas fica o estigma sim, você se torna a mulher do suicida”.

Nos últimos três anos, Luciana diz termos começado a falar mais sobre suicídio. No setembro amarelo, principalmente. E alerta para alguns mitos que a incomoda, como dizer que a pessoa que deseja se matar não ameaça, vai lá e faz.

“A gente sabe que quando a pessoa diz, tem que ser levado a sério. Isso é um sinal. Outra coisa é quando a pessoa chega a tentar o suicídio, e não morre. Ela é mal tratada nos serviços de saúde, ou até mesmo por familiares. Teve paciente minha que já escutou falarem ‘nem para morrer você presta’. Eu atendo uma pessoa aqui que o médico falou ‘isso aí é falta de homem, você tem que arrumar um namorado’”.

Luciana acha importante termos mais profissionais especializados no tema e psiquiatras trabalhando nas redes públicas, atendendo de forma efetiva. “A pessoa tem que entender sobre isso, fazer um treinamento dentro de pronto socorros, por exemplo”.

Como mensagem final, ela coloca: “Eu gostaria que as pessoas soubessem, que quando uma pessoa tira a própria vida, ela tá com estreitamento cognitivo de consciência. Ela não sabe exatamente o que  está fazendo. Está tão desesperada que a única forma que ela consegue enxergar para acabar com essa dor insuportável, é se matando. O suicídio não tem a ver com falta de amor. Então não achem que  uma pessoa que se matou não te amava”.

Contato da Luciana:

psicologiabh.luciana@gmail.com

@luciana.psicologia

 

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Mês de prevenção do suicídio traz ainda ideias erradas sobre o tema https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/09/08/mes-de-prevencao-do-suicidio-traz-ainda-ideias-erradas-sobre-o-tema/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/09/08/mes-de-prevencao-do-suicidio-traz-ainda-ideias-erradas-sobre-o-tema/#respond Wed, 09 Sep 2020 00:47:39 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/7d855ed0-40d5-42f8-a0a8-3cacc81a36af-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2099 Criado pela Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo CVV – Centro de Valorização da Vida,  para ressaltar a importância da prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo requer atenção em sua longa duração, alertam especialistas.

Na maior parte do mundo, a data é marcada no 10 de setembro, o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, estabelecido pela Organização Mundial da Saúde em parceria com outras instituições internacionais relacionadas à saúde mental, em 2003, para discutir o tema de forma responsável e acolhedora.

O limite entre informar e aterrorizar, afinal, é nue. E dedicar um mês todo ao tema aumenta o risco de acionar gatilhos, alerta Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.

Na minha visão, hoje, um mês é muito. Isso só ocorre no Brasil. Nos outros países tem o Dia Mundial, ou no máximo, uma semana, nunca o mês inteiro. Precisamos pensar qual é a mensagem que está sendo passada. É mais importante mostrar ações, como as pessoas podem ajudar, do que apenas focar em números.

Um dos cuidados é não espalhar mitos prejudiciais, como eventuais estatísticas relacionando a pandemia com o aumento do suicídio.

Com a quarentena pelo coronavírus, tornaram-se recorrentes inferências em função da maior vulnerabilidade sugerida por esse isolamento, e aumento de distúrbios mentais, que são um fator de risco, mas ainda sem dados oficiais a respeito. Números falsos podem gerar pânico.

A solução não é evitar o tema, e sim ter atenção. Scavacin frisa que o Setembro Amarelo tem o papel crucial de abrir um diálogo com a sociedade e colocar a questão como um problema de saúde pública, além de combater mitos como o de que falar sobre suicídio pode incentivá-lo.

Com medo de perguntar sobre ao assunto e assim dar a ideia, muitos pais se fecham. Isso é um mito. Ter um canal de escuta, falar abertamente, é importante.

Ela diz que o mais eficaz seria ter um plano nacional de prevenção do suicídio, em que os profissionais pudessem ser capacitados no assunto e as escolas montassem espaços de educação em prevenção da violência escolar, um dos fatores de suicídio.

Não adianta fazermos campanha se ela não tiver objetivo claro, se a mensagem não for segura para o público alvo e se não puder ser avaliada depois, afirma Scavacini,  acrescentando ser importante criar uma central de ajuda específica para suicídio, já que o CVV Centro de Valorização da Vida, é aberto para todos os tipos de sofrimento.

Em um período dedicado ao assunto, é necessário também ter cuidados ao criar campanhas ou divulgar informações em redes sociais sem aferir a fonte, a solidez da afirmação, os slogans criados e o bem ou mal que possam causar. Afinal, não se sabe como a pessoa receberá a mensagem.

Segundo o psiquiatra Neury Botega, sinais de alerta nem sempre são claros. “É cil achar os sinais depois que o fato ocorreu, mas, de um modo geral, são os sinais de uma pessoa que não está bem.”

Ele frisa a importância da atenção a mudanças de comportamentos ao longo do tempo, como um jovem sociável que passa a se trancar, mas alerta que há erro na afirmação de que a pessoa que se mata sempre dá sinais.

Além de errado, é uma violência com as pessoas enlutadas. Eu mesmo, como psiquiatra com experiência nessa área, já tive que amargar a perda de um paciente que não deu absolutamente nenhum sinal.

Outra alegação incorreta, diz, é afirmar que um diagnóstico psiquiátrico é possível em 90% dos casos.

Pesquisas mais recentes indicam que, em aproximadamente 50% dos casos, havia um transtorno mental entre os fatores que se combinam para levar uma pessoa a própria morte. Não é tão somente a existência de um transtorno mental que causa um suicídio mas a combinação de vários fatores.

Teresinha Máximo perdeu uma filha de 19 anos por suicídio em março de 2017. Ela tinha depressão, ansiedade e fobia social. Procurou diversos tratamentos, teve dificuldade para encontrar um psicólogo com quem se identificasse, chegou a ser internada.

Com o marido, Joseval, Teresinha participou de campanhas e eventos do Setembro Amarelo em 2017, 2018 e 2019, mas neste ano se diz reticente: A campanha cresceu muito e hoje virou uma salada. Todo mundo é especialista nesse mês”.

Joseval sente o mês de forma desagradável. No primeiro ano, em 2017, achei fantástico. De dois anos pra cá, passei a ver a comunicação feita de forma terrível. Já no final de agosto, eu comecei a ficar tenso. É doloroso para mim.

O casal fica particularmente magoado quando escuta que 90% dos suicídios poderiam ser evitados.

Quando eu posso, corrijo. Eu pergunto, de onde você tirou essa informação? Virou um slogan: 9 de 10 suicídios poderiam ser evitados. É muito sensacionalismo, reclama.

falaram para mim: se a Marina estava em tratamento e 90% é evitável, por que ela se matou? Se a medicina está tão avançada, porque os suicídios continuam acontecendo e aumentando? Onde está o erro? Não há só um fator.

Segundo o psiquiatra Botega, a interpretação errônea de uma famosa revisão de casos de suicídio pela OMS, há 17 anos, faz muitos comunicadores afirmarem que 90% dos suicídios podem ser evitados”. Isso beira o desastroso, pois nenhum estudo científico sério chegou perto desse número, afirma ele.

Nos grupos de apoio para enlutados por suicídio, compartilha-se vídeos polêmicos. Entre eles, o de duas meninas, de 4 e 3 anos, com fitinha amarela nos cabelos, e um texto decorado sobre prevenção do suicídio com conceitos distantes da realidade delas.

As  pessoas encaminharam esse vídeo achando que estão fazendo a parte delas no mês. A mensagem não era ruim, mas a forma me incomodou. Era puro marketing, era apelativo, disse Teresinha.

Em outro vídeo, a diretora de Recursos Humanos de uma multinacional diz que as pessoas com depressão ficam sem coragem de enfrentar a vida.

As pessoas não percebem a mensagem que isso passa. Como um funcionário com depressão vai agora dizer ao RH que ele ta com depressão e pedir uma licença médica se a própria diretora acha que essa pessoa está sem coragem pra enfrentar a vida?, questiona Teresinha. Alguns pais deixam os grupos de apoio neste mês para para se protegerem de afirmações daninhas.

Em um dos eventos de que o casal participou no ano passado, por exemplo, uma líder religiosa, escritora, disse que o lugar que mais morrem pessoas é no leste europeu porque lá “o pessoal é ateu”.

Ela falou que as pessoas se matam porque não são religiosas, ou porque estão solteiras, então todo mundo tem que ter família. E ainda afirmou: é claro que as famílias têm que ter vergonha para falar sobre o assunto.

Teresinha e Joseval não têm. Fundaram uma página na internet com informações confiáveis e relevantes sobre luto por suicídio, Nomoblidis”.

O nome é uma homenagem: em seu perfil do whatsapp, a filha Marina usava a frase em catalão Si us plau, no moblidis, traduzido como por favor, não me esqueça”.

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Prepare-se para o Setembro Amarelo: workshop gratuito para profissionais da mídia e influencers https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/07/31/prepare-se-para-o-setembro-amarelo-workshop-gratuito-para-profissionais-da-midia-e-influencers/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/07/31/prepare-se-para-o-setembro-amarelo-workshop-gratuito-para-profissionais-da-midia-e-influencers/#respond Fri, 31 Jul 2020 11:25:17 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/0d2ed81b-19bf-46de-bdb8-585b7bfa5c13-1-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2053 Em setembro, temos o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, instalado pela Organização Mundial da Saúde e a IASP (International Association for Suicide Prevention). No Brasil, usamos o mês todo, conhecido como ‘setembro amarelo’ para unir iniciativas de conscientização desse tema tão urgente.

Torna-se fundamental uma exposição responsável desse assunto pelos profissionais de mídia e produtores de conteúdo. Se o suicídio é prevenível, possui gatilhos e está suscetível a um efeito chamado de Werther (efeito contágio), cabe a nós tomarmos todo cuidado possível para não o instigar e para colaborar para um aumento de consciência pública e diminuição do tabu com relação ao tema.

Pensando na importância de uma preparação por parte dos comunicadores, o Instituto Vita Alere e o blog Morte sem Tabu organizaram um workshop gratuito para profissionais de mídia e influencers. “A gente ainda vê muitas reportagens falando de uma forma inadequada sobre o tema, podendo ser gatilhos para pessoas mais vulneráveis” – diz Karen.

Existem muitas formas de falar sobre suicídio para impactar positivamente as pessoas. Cabe a nós discutir e refletir sobre quais são essas formas. Veja abaixo alguns exemplos.

Como não abordar:

– Não mostrar fotos da pessoa morta,

– Não dar detalhes sobre o método,

– Não publicar fotos do local da morte – risco do efeito contágio, como ocorre com a Golden Gate, em São Franscisco (EUA),

– Não se referir ao falecido como um herói,

– Não romantizar o ato,

– Não publicar cartas de despedida,

– Não tratar como um tabu,

– Não relacionar a dogmas religiosos.

– Não estigmatizar a pessoa que morreu.

Como abordar: 

– Falar abertamente, com responsabilidade,

– Dar espaço para sentimentos considerados negativos, como depressão e angústias.  Compartilhar relatos nesse sentido nos trazem uma sensação de não estarmos tão sós.

– Respeitar a dor dos que ficaram,

– Sempre indicar um local de ajuda e fontes confiáveis,

O workshop trará exemplos de como grandes casos foram abordados pela mídia, ferramentas de prevenção de redes sociais, e novas pesquisas que irão revelar informações importantes sobre engajamento e consumo de notícias em relação ao suicídio.

O workshop é gratuito, tem vagas limitadas, terá duas horas de duração, e será entregue certificado de conclusão ao final.

Inscreva-se nesse link. Evento exclusivo para profissionais da mídia e influenciadores/criadores de conteúdo digital

Duas curiosidades:

– Usa-se a cor amarela para a campanha porque, lá em 1994, um jovem americano de 17 anos morreu por suicídio em um mustang amarelo que era seu xodó. No dia do funeral, seus pais entregaram fitas amarelas com mensagens de apoio, estimulando quem estivesse passando por uma fase de desespero a buscar ajuda. Assim foi iniciada uma campanha de prevenção com essa cor.

– Efeito Werther é inspirado do livro do autor alemão Goethe (1749-1832), “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, escrito em 1774. O protagonista, Werther, se mata depois de uma frustração amorosa. O drama incitou uma onda de suicídios com jovens usando o mesmo método e a mesma roupa usada pelo protagonista no livro. A publicação chegou a ser proibida por um tempo.

Um abraço,

Karen e Camila

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Seu conteúdo foi removido: gatilho de autolesão e suicídio https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/07/17/seu-conteudo-foi-removido-gatilho-de-autolesao-e-suicidio/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/07/17/seu-conteudo-foi-removido-gatilho-de-autolesao-e-suicidio/#respond Fri, 17 Jul 2020 21:30:47 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/Captura-de-Tela-2020-07-17-às-18.33.01.png https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2027 Pela primeira vez, tive um post removido pelo Instagram. Era um repost de um vídeo publicado no perfil do artista Vik Muniz. Um dedo machucado se curando em fast motion. Um imagem sobre cura, mas mostrava um corte criando cicatriz. Questionei o motivo, e uma segunda análise decidiu que não se tratava de conteúdo prejudicial. Foi liberado.

É relevante entendermos como é a política de remoção de conteúdo do Instagram, e do Facebook, justamente para evitarmos publicar um conteúdo que seja gatilho para automutilação ou suicídio, sem termos essa intenção. Automutilação é considerada qualquer agressão intencional e direta ao corpo, inclusive distúrbios alimentares.

As redes sociais demonstram grande preocupação com saúde mental, promovem discussões, projetos, e criam ferramentas de apoio o tempo todo.

A inteligência artificial do Instagram e do Facebook removem conteúdo inapropriado antes mesmo de serem denunciados. Segundo a assessoria do Instagram, “são posts relacionados a métodos, materiais e conteúdo ficcional que use desenhos ou memes para encorajar ou mostrar representações, imagens explícitas de suicídio ou autolesão”.

O Facebook considera prejudicial imagens que remetam a distúrbios  alimentares, como “representação de costelas, clavículas, espaço entre as coxas, quadris, barriga negativa ou coluna vertebral/escápula protuberante, quando compartilhado com termos associados a distúrbios alimentares”.

A assessoria do Instagram informou que, no primeiro trimestre de 2020, atuaram sobre 1.3 milhão de conteúdo relacionado a suicídio e autolesão. 90% desse conteúdo foi inibido antes de serem reportados pela comunidade. A intenção é que chegue a  100%.

Conheça as diretrizes da comunidade do Instagram nesse link.

Conheça as diretrizes de segurança do Facebook nesse link. 

Ao mesmo tempo, existe a preocupação de não inibir discussões sobre esse assunto ou pedidos de ajuda. Por isso, são permitidas imagens de cicatrizes.

“Os conteúdos que não são explícitos, porém relacionados à automutilação, como cicatrizes curadas, não serão exibidos em pesquisas, hashtags e na guia “explorar”, assim como não iremos recomendá-los. Não estamos removendo esse tipo de conteúdo completamente do Instagram, já que não queremos estigmatizar ou isolar pessoas que possam estar em perigo e  publicam como um pedido de ajuda”, comentou a assessoria.

Há um grupo de especialistas que se reúne uma vez por mês para discutir como deixar a plataforma mais segura e, também, como criar espaços seguros para que os jovens possam falar sobre suas experiências (inclusive de automutilação) no ambiente online. O compartilhamento desses posts geralmente ajuda as pessoas a se conectarem com suporte e recursos que podem salvar vidas.

Compartilhar histórias de sobreviventes tem se mostrado muito benéfico. Essa é a experiência da Karen Scavacini, que faz parte desse grupo mensal de discussão do grupo Facebook. Ela lança, nesse mês, o terceiro concurso de histórias de sobreviventes do Instituto Vita Alere.

Para Karen, conteúdo inadequado são posts que possam ser gatilhos para uma pessoa e incitar o suicídio ou autolesão – que tenha conteúdo gráfico sem contexto.  “Há uma brecha para discutir quando se trata de arte. Se a arte está incitando violência, não é boa. Por isso, muitos conteúdos precisam passar por avaliação humana, para entender o contexto da imagem”.

Entre as discussões do grupo, Karen ressalta a preocupação sobre como tirar o conteúdo de uma forma que não seja ruim para quem está postando, porque muitas vezes isso é um pedido de ajuda.

Ao receber a denúncia de um conteúdo inapropriado, agora aparece uma mensagem: “alguém se preocupou com você e denunciou seu post. Você tá precisando de ajuda?”. Essa pessoa é conectada ao CVV (Centro de Valorização da Vida) ou a uma central de ajuda.

Se há indícios de haver uma tentativa de suicídio em andamento, podem mandar os bombeiros irem até a casa da pessoa.

Ela desenvolveu a cartilha “Como falar de forma segura sobre suicídio”, aprofundando o tema e trazendo considerações sobre postagens que envolvam esse assunto. Na seção “o que não fazer”, ela cita: “Jamais publique ou compartilhe fotos da cena do suicídio, com a pessoa morta ou mostrando o método (corda pendurada, sangue no chão etc.).  Não publique fotos do velório ou do desespero dos pais e amigos. Não publique foto do local da morte (ponte, viaduto etc)”.

Na seção “o que fazer”, ela orienta: “Falamos da pessoa com comportamento suicida e não do “suicida”, pois a pessoa é muito mais do que aquele comportamento. Falar de bem-estar e promoção de saúde mental ajuda na prevenção do suicídio”.

Também há orientações sobre como repercutir massacres. Por exemplo: “Não cite o nome dos atiradores ou divulgue suas fotos. Estudos da The American Psy- chological Association apontam que a busca pela notoriedade e pela fama é uma das motivações mais recorrentes dos assassinos que promovem massacres”.

A cartilha toda é ótima. Há dicas sobre como falar com alguém que demonstra sinais de comportamento suicida nas redes sociais. Acesse-a aqui.

Pensando em ajudar o público jovem,  Karen organizou no ano passado, junto ao Grupo Facebook e à Capricho, o projeto  o “Instapoesia”. Influenciadores e poetas criaram poesias, disponíveis no feed da Capricho, para inspirar jovens a falarem abertamente sobre todos os tipos de sentimentos e buscarem apoio.

Também realizou o Festival Amarelo, um evento para estudantes de escolas públicas com palestras, oficinas e atividades para promover conscientização sobre saúde mental e  prevenção de suicídio.

Por fim, a assessoria relata: “Estamos determinados a fazer tudo o que pudermos para fazer do Instagram um lugar seguro e acolhedor para todos. Isso significa ajudar as pessoas a se expressar e a buscar ajuda para problemas de saúde mental, mas também protegermos outras pessoas da exposição a conteúdo sensível”.

Agradecemos.

Veja abaixo, ferramentas de bem-estar e recursos de apoio do Instagram:

  • Recursos de apoio: ao pesquisar por #ansiedade ou #depressão, o usuário recebe uma notificação pop-up com a mensagem “Podemos ajudar?”, direcionando as pessoas ao apoio adequado. As opções são: conectar com um amigo, com uma linha de apoio como o CVV, e sugestões e dicas de atividades para autoajuda.
  • Ferramentas anti-bullying:O bullying é um desafio enfrentado especialmente pelos jovens, e o Instagram tem o compromisso de liderar o setor nessa luta. Estas ferramentas fazem parte dos esforços para dar às pessoas que são alvo de bullying online a possibilidade de se defender baseada no profundo entendimento de como ocorre a intimidação e como quem é alvo reage ao bullying no Instagram. As ferramentas incluem:
    • Alerta de Comentário: utiliza inteligência artificial para notificar pessoas que um comentário pode ser considerado ofensivo, mesmo antes de ele ser publicado. Essa intervenção dá aos usuários da rede a chance de refletir e desistir do comentário, além de impedir que o destinatário receba uma notificação com o mensagem nociva;
    • Função Restringir: O recurso Restringir tem o objetivo de proteger sua conta contra interações indesejadas. Quando vocêestringir uma pessoa, os comentários dela em suas publicações só ficarão visíveis para ela mesma.
    • Filtros de comentário:o Instagram também possui ferramentas para detectar bullying nas imagens compartilhadas e nas legendas, através de uma tecnologia de aprendizagem computacional (learning machine).
    • Ferramentas para controlar o tempo no Facebook e Instagram:ambos os aplicativos têm um painel de atividades que mostra quanto tempo as pessoas passaram no aplicativo nos últimos 7 dias, do dispositivo do qual estão acessando. Além disso, é possível configurar um lembrete diário personalizável que envia um alerta quando você excede o tempo de uso que considera adequado no aplicativo,  e também é possível limitar as notificações para quando você precisa focar em outras atividades.

 

 

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Uma carta de amor: onde psicólogos choram, as flores têm espinhos e a vida se refaz https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/02/22/uma-carta-de-amor-onde-psicologos-choram-as-flores-tem-espinhos-e-a-vida-se-refaz/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/02/22/uma-carta-de-amor-onde-psicologos-choram-as-flores-tem-espinhos-e-a-vida-se-refaz/#respond Sat, 22 Feb 2020 18:12:25 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/fc1fb20c-24de-487d-9f17-01045073dc22-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=1839 A psicóloga baiana Jalane Maia estava em um congresso no Espírito Santo quando ficou sabendo do concurso de textos de sobreviventes do suicídio do Instituto Vita Alere. Decidiu escrever a  história da sua família pela primeira vez.  Quando conversamos, entendi porque senti tanta vontade de compartilhar seu relato. “Eu nunca tinha estampado a minha vida, já que se trata de uma tragédia e as pessoas se espantam. A minha inspiração foi escrever em forma de amor. A gente não costuma enxergar o amor na dor”. É um texto lindo. Todo amor para você, Jalene.

Uma carta de amor: onde psicólogos choram, as flores têm espinhos e a vida se refaz.

Hoje não é um dia comum! Hoje é 17 de setembro de 2018 e o senhor faria 64 anos de vida. Resolvi escrever a sua história painho, a nossa história. Ao contrário dos que muitos pensam e julgam, essa é uma carta de amor. Esse é o meu presente para ti e para o universo.

Por muito tempo calei, ficava envergonhada de falar a minha filiação: você  é filha de quem? Quem são seus pais? Quando se mora numa cidade pequena, sua identidade é atrelada a identidade dos seus pais. O medo sempre me acompanhou, o choro velado, a angústia, o pesar, desde o ano de 2010, quando o senhor faleceu por suicídio. Aquele foi o pior ano da minha vida; meu marido havia infartado aos 27 anos nesse mesmo ano, éramos recém-casados.

Menos de um mês depois aconteceu a fatídica tragédia: um surto psicótico do meu pai fez com que ele tirasse a vida dos meus dois irmãos, da minha madrasta, e tirasse a sua própria vida. Nada seria igual a partir daquele sábado de 15 de maio. Minha vida deu uma virada de 180 graus.

Mas como? O pai da psicóloga fez isso? Ele surtou? Que tipo de psicóloga é essa que nem cuidou do próprio pai, como vai cuidar dos pacientes? Essas foram algumas das indagações que ouvi na época do acontecido. Como foi difícil sobreviver a tantos julgamentos. Realmente, o termo sobrevivente se aplica perfeitamente a nós enlutados por suicídio. “Assassino, assassino! Como foi capaz de tirar a vida de duas crianças, uma de 2 e a outra de 4 anos? ”; “quando ele aparecer, vamos acabar com ele! Vamos queimar, linchar”; essas frases eu escutei no velório e, principalmente, no enterro dos meus irmãos e da minha madrasta. E eu pensava: meu Deus, não bastando ele morto, ainda querem matá-lo de novo?!

Foram três dias de terror, pois o corpo do meu pai havia desaparecido nas águas do Rio São Francisco, pois ele, para ter certeza de sua morte, usou uma arma de fogo para atirar contra si próprio e, em seguida, seprecipitou da ponte metálica que liga a cidade de Paulo Afonso na Bahia ao estado de Alagoas. Eu tinha certeza que ele estava morto; mas muitas pessoas conjecturaram muitas coisas, inclusive, que ele havia feito tudo aquilo e fugido. O corpo desaparecido reforçava a fantasia de fuga na mente dessas pessoas.

Meu sofrimento era visceral; eu clamava por Deus e Nossa Senhora para nos livrar daquele pesadelo. Essa família que morreu era o segundo casamento do meu pai, na qual nasceu meus dois irmãozinhos por parte de pai. Eu, minha mãe e meus dois outros irmãos somos a família do primeiro casamento. Nossa união, cumplicidade, força e fé fez com que renascêssemos das cinzas, assim como Fênix.

Nos dias do ocorrido, não desgrudávamos; dormíamos juntos, resolvíamos todas as pendências e problemas juntos. Ao terceiro dia, o rio São Francisco resolveu dar uma trégua para o nosso sofrimento: liberou o corpo de painho que estava submerso, estando preso por galhos e tôcos no mesmo local que ele se precipitou.

Era um grande sinal de que as coisas iam começar a ficar bem; foram muitos rumores e total crueldade com os nossos  sentimentos e com nossa vida. As fotos dos homicídios vazaram na internet; as pessoas comentavam do crime “com requintes de crueldade” que ele fizera, mas ninguém se lembrava de mim, da minha mãe e dos meus irmãos. Aquilo era uma vitrine de horror; as pessoas compartilhavam e comentavam sobre as cenas da violência; como o ser humano consegue se comprazer da miséria e da dor do outro?

Por morarmos numa cidade pequena, o ocorrido ganhou uma proporção descomunal, inclusive uma projeção na rede nacional de televisão. Logo que o corpo apareceu e foi reconhecido, fizemos o enterro dele as pressas; era quase dezoito horas da noite. Despistamos os jornalistas que estavam próximo ao Instituto médico legal e corremos para fazer o enterro que contou com a presença de pouquíssimas pessoas (eu, mainha, meus dois irmãos, meu sogro, quatro ou cinco amigos próximos e um primo paterno). Graças a Deus conseguimos arranjar um padre que fizesse a recomendação do corpo já que somos católicos.

Tivemos que fazer tudo à calada do quase anoitecer, afinal, muitos eram os revoltados e dispostos a “matá-lo” novamente.

Os dias corriam lentamente. Meu irmão mais velho conseguiu passar o mês conosco, pois residia em Salvador e o caçula já estava de férias na cidade. Minha mãe, um pedaço de rocha viva, era quem nos dava a base e sustentabilidade emocional necessária. Essa mulher de rocha, cujo nome é Maria José, foi quem resolveu toda a tramitação do enterro dos meus irmãozinhos e da minha madrasta. Até para nos dar a noticia da tragédia, lançou mão de toda sua maestria materna para nos revelar e ao mesmo tempo nos acolher e proteger. Eu e meu irmão mais velho, fomos mais poupados dos fatos, por estarmos em Salvador no dia fatídico; tudo foi sendo revelado passo a passo: primeiro-  a morte do meu pai, segundo- o suicídio; terceiro- os homicídios. Já meu irmão caçula, por estar passando férias na cidade, não teve a mesma sorte; ficou sabendo da notícia da pior forma possível, através do rádio e telefonemas das pessoas menos avisadas.

Com pouco tempo depois, meus irmãos voltaram para Salvador seguindo suas rotinas e eu permaneci em Paulo Afonso. Minha vida seguia num formato diferente; me sentia como se estivesse flutuando; esquecia muito das coisas e desenvolvi uma desorganização crônica com meus objetos, roupas e documentos pessoais. Além disso, apresentei sintomas de estresse pós-traumático; dormia mal e chorava quase todos os dias, escondido. Tinha muitos sonhos e pesadelos. Sentia uma tristeza profunda, os comentários alheios adentravam minha alma como verdadeiras foices afiadas. Eu fiquei anestesiada por um bom tempo.

A terapia me ajudou bastante a superar toda àquela tragédia. Voltei a atender no consultório pouco tempo depois. Meus pacientes também me ajudaram muito. Nenhum deles invadiu minha intimidade; a grande maioria sabia do ocorrido, porém, ao final da sessão ou seguravam fortemente minha mão ou me abraçavam; outros alisavam meu cabelo e diziam: tudo isso vai passar. Todos esses gestos de amor e respeito foram me fortalecendo. Meu consultório aumentava a  clientela a cada dia, muitas pessoas procuravam os meus serviços clínicos e eu não conseguia entender isso, pois ainda tinha muito medo do julgamento das pessoas.

Tempos depois descobri que eu era humana e que psicólogos também choram, afinal somos gente de carne, osso e lágrimas. Eu, mainha e meu marido nos fortalecíamos juntos. Em 2011 engravidei de Dante, meu primeiro filho. Ele nasceu em maio de 2012, mês que marcou minha vida para a dor e para o amor. Em setembro de 2015, nasceu Davi, meu segundo filho. Eu continuava aprimorando meus estudos e atuando como psicóloga clinica e escolar. A priori, eu brigava muito com Deus, pois várias pessoas que me procuravam apresentavam ideação e comportamento suicida. Por quê essas pessoas me procuravam? Logo eu marcada por tamanha tragédia? Deixei de brigar com Deus e decidi estudar mais o universo da vida de flores e espinhos de cada existência humana.

Em 2017 fiz um curso em suicidologia e me apaixonei. Logo após, fui aprovada no mestrado com um projeto de prevenção de suicídio nas escolas. Continuo sendo mãe, esposa, estudante, filha, irmã, amiga, psicóloga. A vida se refez e se refaz a cada dia que aceito minha missão de cuidar de almas tão sofridas e doridas. Não tenho mais vergonha de falar quem foi meu pai. Meu painho, o senhor foi o grande  laboratório de minha existência. Todo seu transtorno bipolar e instabilidade emocional não escamoteou ou diminuiu o seu amor por mim e meus irmãos; o senhor nos amou da forma que podia; sofreu também ao seu modo e nos concedeu a vida para que pudéssemos contar hoje a grande história de amor que vivemos nos melhores momentos de nossa infância, com a saudade apertando nosso peito todas as vezes que vemos as flores das caraibeiras amarelas caídas no chão da primavera, sabendo que algumas  flores podem ter espinhos, mas nada impede a beleza da flor, assim como nada impede a certeza de que a vida se refez e se refaz em cada um de nós.

Instagram da Jalane: @jalanemaia

Jalene Maia – arquivo pessoal

@camilaappel

 

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Histórias de sobreviventes do suicídio https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/02/04/historias-de-sobreviventes-do-suicidio/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/02/04/historias-de-sobreviventes-do-suicidio/#respond Wed, 05 Feb 2020 02:27:38 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/af46c7a8-2342-4aed-a140-e98dee488f3e-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=1832 A psicóloga Karen Scavacini me convidou para escrever o prefácio do livro : “Histórias de Sobreviventes do Suicídio” que reúne depoimentos em diversos formatos de pessoas que tentaram se matar,  dos que perderam parentes, e de profissionais da área.  Com a aproximação do lançamento da coletânea (veja o serviço abaixo), aproveito para colocar aqui esse texto de introdução. Na semana que vem, publicarei um dos relatos – que já chega com o seguinte título: “Uma carta de amor: onde psicólogos choram, as flores têm espinhos e a vida se refaz”.

Prefácio – Camila Appel

O suicídio, a autolesão, nos chocam como um absurdo. Como uma pessoa pode ser violenta com ela mesma, negar a vida e todos seus mistérios, negar um presente divino? A vida pode ser vista como um milagre se pensarmos em tudo que precisa acontecer, dar certo, para um ser vivo nascer. Surgimos no mundo como vencedores. E mais, vencedores evolutivos, já que muitas vezes entendemos a seleção natural das espécies como um processo de evolução.

A vida é esse presente, mas não deixa de ser difícil. Em alguns momentos, ela parece impossível.

É impossível cumprirmos todas as expectativas, darmos conta de exigências, sejam elas reais ou fantasiosas. É possível sermos bons o suficiente para o mundo, estarmos à altura desse valioso presente, contribuirmos com o que podemos dentro dos limites e possibilidades de cada um .

Vermos a vida com tantas pressões pode ser mais um fardo que precisamos carregar. Como Sísifo, aquele da mitologia grega que é obrigado a levar uma pedra montanha acima, para vê-la despencar e então, tornar a carregá-la novamente. Num trabalho sem sentido algum… Para o filósofo francês Albert Camus, a compreensão de Sísifo de que a vida não tem sentido, de que o trabalho não significa nada, traz a grande pergunta existencial: se a vida vale a pena ou não ser vivida. A princípio, a pergunta de Sísifo parece obscena. Como ousa alguém questionar o valor da vida, da preciosidade da vida? Me parece que o problema é a proibição de se fazer tal pergunta. Proibir qualquer reflexão por motivos religiosos ou por medo da conclusão. É impossível fugir dessa questão e reprimi-la pode levar à alternativa do silêncio, onde decisões podem ser tomadas sem qualquer chance de retorno. A conversa, a escrita, não podem ser tratadas como tabus. Não há assuntos proibidos.

Acolher uma pergunta me parece ser sempre a melhor solução.

Os dados que o primeiro capítulo desse livro traz são assustadores. Aumento de taxas de suicídio de 100, 200% entre tribos indígenas e um espantoso crescimento entre os jovens brasileiros. Por que nossa sociedade está doente? O que estamos fazendo de errado?

Hoje, o suicídio não é mais um debate individual ou familiar, mas sim um alerta de saúde pública. É complexo traçar os motivos para tal realidade, mas é necessário fazê-lo. Estamos fracassando na forma como nos organizamos socialmente. Nossas regras de convivência e de sobrevivência são pautadas em paradigmas equivocados. Não pode haver espanto ao vermos uma pessoa que odeia seu trabalho, e passa mais tempo nele do que com as coisas que traz prazer, estar em profunda depressão. Não dá para se espantar com a dor que transborda sem ter para onde escoar. Sem espaços de troca de sentimentos normalmente considerados negativos. Afogados, eles se tornam insuportáveis.

Na pergunta de Sísifo: se a vida vale a pena ou não ser vivida, o que aperta o coração é imaginar a dor terrível que sentiu e sente aqueles que decidem que não e tem a certeza de que o mundo ficará melhor sem eles.

É por isso que o trabalho de Karen Scavacini é fundamental. Entre os projetos do Vita Alere, está esse livro aqui. Me parece a melhor forma de lidar com esse assunto. Oferecer espaço para relatos daqueles que pensaram ou tentaram morrer, de seus familiares e dos profissionais de saúde que lidam com essa temática diariamente.

Aqui, podemos identificar toda a universalidade contida nos relatos e assim nos sentirmos… vivos. Não há tristeza, porque são depoimentos tão verdadeiros que se tornam universais. E na universalidade há força.

Há uma sensação de pertencimento e de acolhimento nas palavras da Barbara, a psicóloga que entende que sua paciente estava exausta… de existir. “Existir cansa”, ela diz.

Nos versos da Carolina que lista possíveis causas para sua tentativa de suicídio. Pode ter sido por tudo isso. Pode não ter sido por nada disso. Mas ainda pode ser a reinvenção, o recomeço.

O silêncio de Ricardo, que aos 6 anos não conseguiu lidar com sua dor, tentou se enforcar. A culpa que o atormentou hoje cede para o amor, um sentimento tão universal quanto a dor. “Hoje, a vida é bela. Tenho um raio de sol que me sorri todos os dias pelas manhãs. Um sorriso desdentado e de poucos meses mas que eu amo tanto que não consigo mensurar”.

As cartas de Debora… Ela pede desculpas. Ela sempre pede desculpas. Ela não quer morrer, ela só quer dormir até a dor passar. A Danielle também, “algumas vezes me deito e peço em silêncio para não acordar mais. Quando o dia nasce e percebo que ainda estou ali, por vezes me alegro, em outras fico triste. Difícil conviver com essa dualidade, esse sentimento de querer estar morta e ao mesmo tempo estar viva.”.

Luz de Carvalho também fala dessa dor insuportável. “Ora a dor era tão grande que sentia meus ossos estalarem e minha alma virava pó”. Todos nós já sentimos um espectro dessa dor, dessa angústia, em algum momento. E também esse vazio aqui: “Ora não sentia nada, e isso me assustava muito mais…”.

Esse vazio é o centro da dor de Olga Marie. “Dentro de mim é um vazio. Um vazio tão grande que encontro dificuldades para explicar meus sentimentos”.

O do poeta Caiubi é as pessoas que ama. “Então…Estamos aqui. Pelas pessoas que ama, disseram. E assim é. Até o último dia”.

Vanessa presenciou tentativas de suicídio da mãe, “aprendi que ninguém muda ninguém, mas que a nossa alegria verdadeira pode contagiar as pessoas que amamos.”

O texto lindamente escrito na terceira pessoa por Marina Karina, que no parapeito da varanda oscilava entre a vida e a morte, olhando a cidade sob o olhar indiferente da lua. “Milhares de pessoas, milhões talvez, e ela se sentindo tão só!”.

O livro também traz relatos dos enlutados pelo suicídio, dos sobreviventes…. Nesses, somos imediatamente transportados para um pesadelo. São relatos que tocam a alma e podem fazer chorar. É por isso que são chamados de sobreviventes do suicídio. Encontrar um filho morto, que optou por morrer é dilacerante. E só resta sobreviver.

A última categoria acolhe textos de profissionais de saúde. Izabela questiona: quem está preparado para lidar com a morte?  Eu criei um blog chamado Morte sem Tabu justamente por isso, eu mesma não estou.

A maior beleza desse livro, na minha opinião, é unir todos esses relatos e nesse coletivo apresentar a prova de que ao contrário do que possa parecer, não estamos sozinhos. A dor, em todas suas intensidades, faz parte do espectro do coração humano. Ela deve fluir como as palavras. Nunca estagnar.

Serviço:

Lançamento:  03 de março, terça-feira.

Livraria Tapera Taperá (SP). Av. São Luís, 187 – 2º andar, loja 29 – República, São Paulo – SP.

19 horas.

Haverá leitura de trechos do livro no dia. Entrada gratuita.

 

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