Morte Sem Tabu https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 Dec 2021 22:32:29 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O que ele foi e fez é maior do que a forma como ele morreu https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/11/25/o-que-ele-foi-e-fez-e-maior-do-que-a-forma-como-ele-morreu/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2020/11/25/o-que-ele-foi-e-fez-e-maior-do-que-a-forma-como-ele-morreu/#respond Wed, 25 Nov 2020 20:49:31 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/ae24a2d6-1615-4bad-9fe7-802fdd6f4446-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=2171 Luciana é psicóloga há 21 anos. Sempre gostou de escutar as pessoas e achava que conseguia, de alguma forma, ajudá-las.

Quando estava se formando na área, em 1999, resolveu dar uma festa de comemoração. Contratou um rapaz chamado Marden, que tinha uma empresa de eventos. Os dois amavam música, ele tocava violão, ela também. Em três anos, engataram namoro e se casaram. Tiveram dois filhos.

Luciana via Marden como uma pessoa animada que gostava de receber amigos em casa, cozinhar, procurava agradar todo mundo. Em uma sexta-feira de novembro de 2015, depois de um dia considerado normal, foram dormir. “A gente se deu boa noite combinando o dia seguinte. Então, fui acordada com a triste notícia de que ele havia se matado”.

Começou a estudar o tema como uma forma de entender melhor o que ocorreu. Hoje, ela vê sinais de mudança de comportamento do marido naquela época, como deitar depois do almoço no escuro, coisa que não costumava fazer até então.

“A depressão não era algo visível. Hoje, vejo claramente que ele era bipolar, só que quando ele ia para hipomania, ele não se deprimia da forma mais comum de se ver. Ele continuava fazendo seu trabalho e realizando suas atividades”. Lamenta não ter tido qualquer matéria sobre suicídio na Federal de Minas Gerais, UFMG, onde se formou psicológa.

Luciana não sentiu culpa ou remoeu acontecimentos, como pode ocorrer em situações assim. Ela sentiu que Marden nunca teria feito aquilo por uma reação a algum comportamento dela. “Ninguém acaba com a própria vida por causa de alguém”. Mas o estigma era difícil de ignorar.

“Nos primeiros dias eu pensei: nossa, vou ficar de óculos escuros, porque eu não aguento nem olhar nos olhos das pessoas. Não era de vergonha, porque eu nunca tive vergonha. Tudo o que Marden foi e fez de bom é muito maior do que a forma que ele morreu. Falo com orgulho que fui esposa dele. Mas fica o estigma sim, você se torna a mulher do suicida”.

Nos últimos três anos, Luciana diz termos começado a falar mais sobre suicídio. No setembro amarelo, principalmente. E alerta para alguns mitos que a incomoda, como dizer que a pessoa que deseja se matar não ameaça, vai lá e faz.

“A gente sabe que quando a pessoa diz, tem que ser levado a sério. Isso é um sinal. Outra coisa é quando a pessoa chega a tentar o suicídio, e não morre. Ela é mal tratada nos serviços de saúde, ou até mesmo por familiares. Teve paciente minha que já escutou falarem ‘nem para morrer você presta’. Eu atendo uma pessoa aqui que o médico falou ‘isso aí é falta de homem, você tem que arrumar um namorado’”.

Luciana acha importante termos mais profissionais especializados no tema e psiquiatras trabalhando nas redes públicas, atendendo de forma efetiva. “A pessoa tem que entender sobre isso, fazer um treinamento dentro de pronto socorros, por exemplo”.

Como mensagem final, ela coloca: “Eu gostaria que as pessoas soubessem, que quando uma pessoa tira a própria vida, ela tá com estreitamento cognitivo de consciência. Ela não sabe exatamente o que  está fazendo. Está tão desesperada que a única forma que ela consegue enxergar para acabar com essa dor insuportável, é se matando. O suicídio não tem a ver com falta de amor. Então não achem que  uma pessoa que se matou não te amava”.

Contato da Luciana:

psicologiabh.luciana@gmail.com

@luciana.psicologia

 

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Como ajudar uma pessoa em luto: comece não atrapalhando https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2019/04/16/como-ajudar-uma-pessoa-em-luto-comece-nao-atrapalhando/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2019/04/16/como-ajudar-uma-pessoa-em-luto-comece-nao-atrapalhando/#respond Tue, 16 Apr 2019 14:05:08 +0000 https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/IMG_8608-320x213.jpg https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=1695 No último post, escrevi sobre a morte do meu sogro. Acabei me dando conta de que, focada no processo da morte em si, deixei de lado algo fundamental: o que vem depois dela. Não dei atenção ao luto do meu marido. Me vi falando frases bestas como, “vai passar”, “não se cobre muito”, “é normal sentir isso ou aquilo”. Me senti impotente, não consegui oferecer suporte. Ainda bem que existem pessoas que se dedicam e estudam especificamente esse assunto.

Acompanho a página “Vamos falar sobre o Luto”, o “Instituto 4 Estações”, o “Lelu: Laboratório de estudos e Intervenção sobre luto”, de Maria Helena Franco, e o Projeto Lutar no Instagram. Estou lendo o livro “A ridícula ideia de nunca mais te ver”, de Rosa Montero, da editora Todavia.

E conversei com a psicóloga e psicanalista Eleonora Jabur. Compartilho aqui nossa troca.

Não há uma receita sobre como ajudar uma pessoa enlutada, por ser um processo individual, mas algumas recomendações podem ser feitas. Eleonora disse que a melhor forma de ajudar é não atrapalhar o processo do outro. “Costumamos ficar muito angustiados com o sofrimento de quem está perto e, para acalmar essa nossa angústia, tentamos aplacar a dor do outro, usando frases como “vai ficar tudo bem”, “vamos sair, pensar em outra coisa”. Queremos que o outro sofra menos. O resultado disso pode ser ruim, porque a pessoa sente que não pode ter esse espaço de dor. A intenção é ótima, você quer dizer “tenha esperança”, mas ela não está, necessariamente, sentindo isso naquele momento. O efeito pode ser oposto e essa pessoa acabar se sentindo na obrigação de estar bem”.

Frases como: “Eu sei o que você está passando”, poderiam ser substituídas por algo como “eu imagino como está sendo difícil isso para você”.  Estimular o outro a sair, frequentar ambientes sociais, pode soar muito invasivo.  “O processo de luto é um processo de introspecção. Não atrapalhar é deixar o processo correr e estar disponível. ‘Estou por aqui para o que precisar’, ‘Você gostaria de conversar? ‘.’Você gostaria de tomar um café?’”.

Comentei que me senti impotente na situação de amparar o luto de alguém tão próximo. Eleonora me acalmou: “a impotência surge porque você quer fazer alguma coisa, você quer tirar a dor dele, mas isso não é possível. O processo de luto precisa de um tempo para acontecer. Essa impotência é uma angústia mais sua do que dele”. Touché.

Lembrei do livro “O Pai da Menina Morta”, de Tiago Ferro, que resenhei para a QuatroCincoUm. Tiago menciona esse constrangimento do outro tempo todo. Todas as pessoas que já entrevistei na seção de luto desse blog sentem-se mal nesse sentido. Quando se aproximam de um grupo que está conversando, todos ficam sérios, em silêncio, constrangidos. Se mencionam a pessoa falecida, há um climão no ar. E muitas vezes, essa pessoa quer falar sobre seu luto, contar histórias de quem morreu, relembrar. Ela está totalmente imersa naquilo. É o outro quem evita.

Questionei sobre quando é necessário buscar ajuda especializada. Eleonora citou Colin Parkes, psiquiatra inglês estudioso do tema: “o luto é o custo do amor”. Só há luto se houver vínculo. Alguns estranham essa sensação, pensam que tem algo de errado com eles. Ela me disse que a depressão e o luto são muito parecidos, por isso a confusão. “É aconselhável buscar ajuda quando não conseguimos mais fazer as coisas básicas do dia a dia, de sobrevivência, como comer, dormir, tomar banho, e ter pensamentos suicidas e de desesperança muito acentuados. É chamado luto complicado quando a pessoa não consegue retomar a vida. Ele é dividido em três: luto crônico, luto adiado e o luto inibido.

Recomendo esse artigo da psicoterapeuta Maria Helena Franco sobre o Transtorno do Luto Complicado. Clique aqui.

Eleonora resulta que quanto mais ambivalente a relação com a pessoa perdida, teoricamente, mais difícil será o processo de elaboração do luto. Mas isso só pode ser analisado depois de um tempo.

Esse tempo não é específico. “Antes, se falava em um ano de luto, depois, falou-se em dois. Cada vez menos temos falado em um prazo específico, por se tratar de um processo individual”.

Outra mudança no entendimento do luto é o conceito dos cinco  estágios, ou cinco fases do luto, como costumava-se dizer. “Nem todo mundo passa por todas as fases do luto e não necessariamente nessa ordem. Hoje, falamos em um processo dual do luto. É um processo que alterna, em direção à reparação e em direção à perda”.

Eleonora usou o termo “vínculos contínuos” para se referir a essa direção da reparação. “A relação com a pessoa falecida estará sempre presente, ela só vai ocupar outro lugar”. Lembrei da página do Facebook “Mães para Sempre”, e as das entrevistas que fiz com sua fundadora Amanda Tinoco.

O luto também é considerado particular porque depende do histórico de cada um. “Você revive alguns lutos quando perde outra pessoa. Por exemplo: se a pessoa perdeu a mãe na infância, pode reviver esse luto ao ter uma perda, aparentemente, insignificante na vida adulta. Esse luto antigo pode ser revivido”.

Eu não sigo uma religião específica, mas vejo os benefícios que um conjunto de dogmas e seus rituais podem trazer nesse momento. No judaísmo, por exemplo, a comunidade se encontra para oferecer suporte ao enlutado. As tarefas básicas, como cuidar da casa, cozinhar, são feitas por essa rede de suporte. No início do luto, é muito difícil manter uma rotina, cuidar do básico. Essa rede é bem-vinda nesse sentido.

Eleonora começou a estudar luto em 2007. Cursou psicologia hospitalar durante a faculdade e quis se aprofundar no assunto para atender familiares dos pacientes que faleciam. Hoje, encontrou uma área de especialização particularmente difícil: Luto na perinatalidade: Gravidez, parto e puerpério.

O luto gestacional faz parte de uma categoria de lutos chamada “lutos não reconhecidos”. Entre eles:  perda de um ex-marido, bichos de estimação, divórcio e aposentadoria. Eleonora comentou que o luto do pai, nas perdas gestacionais, torna-se mais complicado porque todo mundo vai acudir a mãe e o pai torna-se invisível. Há um depoimento comovente, aqui no blog.

Culpa

Algumas pessoas sentem culpa por ficarem bem muito rápido. Há um julgamento nesse retorno à vida social. “Muitas vezes, a pessoa que retoma a vida em pouco tempo sofre preconceito. É um estranhamento nosso, que não faz sentido”, diz Eleonora. Por outro lado, um dos jeitos de lidar com o luto pode ser também o não lidar com o luto. “O luto não elaborado pode aparecer lá na frente e precisa ser cuidado. Mas é possível que seja o processo natural de luto dessa pessoa. É importante se permitir”.

Contato: nojabur@uol.com.br

 

OBS: foi feita uma correção no texto: Colin Parkes é psiquiatra e não psicólogo.

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Marketing da morte https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/11/19/marketing-da-morte/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/11/19/marketing-da-morte/#respond Thu, 19 Nov 2015 10:16:08 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=751 Quem trabalha com propaganda e marketing já sabe de cor os pilares para uma boa campanha. Alguns deles podem ser intuitivos e baseiam-se numa retórica bem construída.

O discurso é um espaço que orienta o pensamento e a imaginação para determinado rumo. Ele é acompanhado por uma sensação positiva de “insight”, satisfação, algo que se conecta com seu emocional por proporcionar o prazer de uma descoberta que a partir de então parecerá óbvia.

O filósofo Michel Foucault via o discurso como uma estrutura de poder internalizada. Seria um sistema de representações mentais, com regras, práticas e um conjunto de afirmações indicando o que tem sentido e o que não tem. O discurso oferece a linguagem apropriada para falar sobre determinado tópico, em um determinado contexto histórico.

O discurso ideológico governa a forma como um tópico pode ser significativamente discutido, implicando o que está excluído dele, aquilo que não pode ser falado ou feito.

De certa forma, ao defender um discurso nos tornamos dependentes de seu dogma pelo vazio que seu questionamento traz. Esse vazio é um abalo emocional que muitos não estão a fim de encarar. Apoiar-se em determinada retórica é dar algum sentido e prazer à uma vida que se depara com tanta vulnerabilidade, resultante de insegurança financeira, familiar e corporativa. Resultante da insegurança de uma forma geral, pois nem com a vida podemos contar, porque um dia ela acaba.

Não sabemos ao certo o quanto somos determinados por fatores biológicos e o quanto somos frutos de uma cultura (no sentido de uma rede de símbolos, significados e representações). O sociólogo Émile Durkheim diz que o indivíduo não tem capacidade de pensar como um ser isolado, mas somente como um membro social (determinismo social).

O mais provável é sermos definidos pelos dois numa relação mais complexa do que a mera submissão de um ao outro. No entanto, há algumas características que podem ser vistas como biológicas. O antropologista Maurice Bloch diz que uma delas é a habilidade nata de procurar sempre classificar o mundo ao redor. Nessa busca por classificação, fabricamos verdades.

Se verdades são construídas, elas têm o poder de servir tanto o “bem” quanto o “mal”. E é nessa distinção entre bem e mal, vítima e vitimizado que nos apegamos para dar algum sentido ao terror de ações violentas e brutais.

O historiador Leandro Karnal comenta, na palestra “Hamlet e o mundo como palco”, que uma característica fundamental desse personagem de Shakespeare é perceber a corrupção não mais como privilégio de um determinado grupo, mas como característica de todos os grupos e também presente nele mesmo. Ele encontrou a corrupção no leito de sua mãe (amante de seu tio) percebendo o que Leandro chama de “a microfísica do poder”. A corrupção começaria em nossos pequenos atos, como andar no acostamento, e teria como desdobramento máximo, a ponta do iceberg, a corrupção enraizada em um partido, em um governo, em um poder, em todos. Haveria uma ingenuidade em acharmos que se eliminando as pessoas que são “do mal” seremos felizes.

Leandro também diz que Hamlet é o primeiro homem a agir de acordo com a razão, seguindo seu eu racional e não a metafísica. “A glória e a tragédia do nosso tempo é exclusivamente a nossa crença profunda no eu. E o primeiro ser que proclamou o eu como elemento fundamental do mundo é Hamlet”, diz.

Horror voyeurístico

Thiago Sarkis*, psicanalista de Belo Horizonte já entrevistado no blog em “A Era dos Adictos”, considera um ciclo vicioso na nossa forma de reagir a ataques terroristas. Para ele, “estamos agindo apenas quando o que nos resta como ação é a guerra, ou seja, apenas quando só nos resta entrar no mesmo circuito de barbárie e carnificina no qual entraram os terroristas”.

 Haveria outras possibilidades de reflexão, ação e escuta para minimizar eventos de extrema violência – não só os ataques terroristas, mas também a propagação assustadora de assassinos em massa, grupos como o Estado Islâmico ou mesmo a selvageria que parece fugir ao controle no cotidiano da sociedade.

“A possibilidade de minimização – não eliminação, porque isso não ocorrerá – de cenários como estes está bem antes da chegada de um rapaz de 23 ou 26 anos na Síria pronto para uma ‘Guerra Santa’. Ela passa necessariamente por abdicarmos de leituras e escutas superficiais e maniqueístas que apontam o problema no outro e nos afirmam sãos; reside em abdicarmos de nosso arrebatador narcisismo e praticarmos uma escuta mais atenta e cuidadosa – do outro e de nós mesmos”, afirma o psicanalista.

Em algum grau, nós também repetiríamos a leitura “maniqueísta” que faz o terrorista, porém sem sairmos matando como estes grupos fazem. Segundo ele, após atentados como os ocorridos recentemente em Paris, imediatamente montamos discursos que determinam ‘monstros’ e ‘inimigos’ e criam identidades precárias que nos afirmam como “vítimas”, “solidários” e “não-monstros”, formatando assim uma batalha “humanidade x inumanos”, “bem” contra “mal”.

Esse discurso teria sentido e importância apenas num primeiro momento. “Inicialmente, é um processo fundamental. Afinal, encaramos uma dor dilacerante, um luto terrível e precisamos elaborar isso, tentar dar um sentido, amenizar o sofrimento que nos acomete. Contudo, após a poeira baixar, é importante também sair disso. Dizer que um terrorista não é humano ou que o ato do terrorista não é humano, como o Papa fez, é um equívoco… Um imenso equívoco. O terrorismo é sim humano, porém trabalhamos duramente, cada um de nós, para contê-lo em nós mesmos, assim como tentamos nos conter com nossa corrupção, intolerância, brutalidade, dificuldade de lidar com alteridade, agressividade etc. Entretanto, o fato é que o microcosmos do EI se manifestam em nós –  diariamente no trânsito, em casa, em nossos relacionamentos –, só que usualmente não surgem de maneiras tão gritantes e chocantes quanto às dos terroristas. Enfim, o EI explicita o que contemos, o que temos de mais rústico em nós. A civilização é uma conquista para nós mesmos, mas contra nós mesmos; não é nosso ponto de partida”, pondera Thiago.

 Para o psicanalista, nossa participação nisso tudo é não permitirmos, nem lidarmos com qualquer coisa que fuja de nosso ideal civilizatório. Não damos, assim, tempo para a escuta da dor e para o entendimento dos sintomas antes que eles tomem dimensões mais dramáticas. Essa questão da escuta seria fundamental, pois seria ela o que, segundo ele, abriria o caminho para a linguagem e poderia, assim, contribuir para que os sujeitos destes atos atrozes partissem para “ações menos miseráveis do que comunicados brutais e sem palavras”.

 Thiago complementa: “O terrorismo na verdade propaga o terror tanto para o autor do ato quanto para o alvo: para o terrorista, o terror de novamente ser um à margem, visto como monstro, como a negação da vida e dos valores de uma civilização da qual ele discorda, mas da qual adoraria fazer parte caso alguns vários pontos fossem mudados e adaptados à sua maneira (despótica). Para os alvos do ataque, nós inclusos (em horror voyeurístico acompanhando cada notícia, rumor, imagem), o terror vem pela presentificação inequívoca da morte e do desamparo, o que descontrói os frágeis sustentáculos simbólico-imaginários que nos escoram em um dia a dia ensandecido cheio de sentido para a vida – sentido que o terrorista faz desmoronar; amarras simbólico-imaginárias que desabam com a onipresença da morte e a exposição às mais evidentes marcas de nosso desamparo”, conclui.

* Thiago Sarkis é membro supervisor da CAPA, instituição internacional de psicanálise.

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Morte psicodélica: drogas alucinógenas para pacientes terminais e a morte de Aldous Huxley https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/03/26/morte-psicodelica-drogas-alucinogenas-para-pacientes-terminais-e-a-morte-de-aldous-huxley/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/03/26/morte-psicodelica-drogas-alucinogenas-para-pacientes-terminais-e-a-morte-de-aldous-huxley/#respond Thu, 26 Mar 2015 12:00:44 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=434 Estudos sobre a administração de drogas alucinógenas como tratamento terapêutico entra em pauta novamente com o retorno de pesquisas controladas encabeçadas por universidades ao redor do mundo. O post também traz a história da morte do escritor Aldous Huxley, que pediu para sua esposa injetar LSD em suas últimas horas de vida.

A administração de drogas alucinógenas para tratar estresse existencial e depressão em pacientes com risco de morte iminente voltou ao centro de discussões psiquiátricas. O retorno deve-se a universidades ao redor do mundo estarem desenvolvendo experimentos com voluntários, como aponta artigo recente de Michael Pollan, da revista “The New Yorker”.

Esses estudos controlados têm o objetivo de verificar como essas drogas (como a psilocibina, o componente ativo dos chamados cogumelos mágicos) podem ajudar pacientes com câncer avançado, transtorno de estresse pós traumático, vício de drogas e álcool e ansiedades relacionadas ao fim da vida.

Um artigo de capa do jornal “The New York Times” em 2010, “Hallucinogens Have Doctors Turning In Again” (“Alucinógenos Recebem Atenção dos Médicos Novamente”), mencionou que universidades, como a N.Y.U (New York University) estavam fazendo experimentos controlados com a psilocibina em pacientes com câncer na tentativa de aliviar ansiedade e “estresse existencial”, como citou a reportagem. Um pesquisador disse que “os indivíduos transcendem suas primárias identificações com seus corpos e experienciam um estado de ego-free (ausência do ego), e retornam com uma nova perspectiva e profunda aceitação”. O artigo aponta para uma nova onda de estudos com psicodélicos, desde sua proibição em 1970, quando o presidente Ricard Nixon assinou um ato proibindo o consumo, a venda e o uso medicinal de LSD e cogumelos mágicos (psilocibina).

Michael Pollan conta a experiência de um diretor de reportagem de TV americano com câncer avançado, ao participar desses estudos da N.Y.U, ainda em andamento. Ele cita comentários de psicólogos ressaltando que o uso de drogas psicodélicas com esses fins já foi explorado e bem sucedido no passado. Na década de 60, LSD e psilocibina eram drogas legais e fácies de obter nos Estados Unidos, e há estudos, inclusive financiados pelo governo, indicando o sucesso do LSD para tratar alcoolismo e ansiedade acerca do fim da vida.

Os psicoterapeutas que ele entrevistou para sua reportagem se dizem muito contentes com o resultado que a pesquisa tem mostrado e indicam que pacientes com câncer que recebem apenas uma única dose de psilocibina experienciam “imediata e dramática redução em ansiedade e depressão”, estado que perdura por pelo menos seis meses – com apenas uma dose da droga, e que a droga ajuda os pacientes a superarem o medo da morte.

Muitos pacientes com câncer mencionaram sentir como se estivessem nascendo ou parindo durante o experimento. Alguns também descreveram um encontro com seu câncer, resultando na diminuição do poder que a doença tem sobre eles.

A experiência envolve uma espécie de conversa e os pesquisadores acreditam que isso seja responsável pelo efeito terapêutico da droga.

Os voluntários mencionam uma mudança de perspectiva, pois sentem como se pudessem ver as coisas de uma forma mais abrangente, como um astronauta olhando a Terra. Esse distanciamento proporcionaria uma mudança permanente em suas prioridades.

Uma possível explicação que o repórter coloca para o efeito dos pacientes relatarem deixar de temer a morte, é o fato de eles encararem a morte durante a experiência e voltarem com um aprendizado, ou uma informação, em relação a ela. Uma psicoterapeuta afirma que a própria experiência pode ser considerada uma morte, porque o paciente “desprende-se do ego e do corpo, deixando para trás tudo aquilo que é considerado a realidade”.

O neurocientista Robin Carhart-Harris tem feito estudos com a injeção de psilocibina em voluntários e acompanhado seus efeitos no cérebro com equipamentos como a magnetoencefalografia. Ele diz que as formas de consciência que as drogas psicodélicas proporcionam são um estado primitivo de cognição. “O objetivo principal do desenvolvimento do ser humano é o ego, que impõe uma ordem na mente primitiva. A droga inibe o ego, trazendo o subconsciente à tona”, ele diz na reportagem. Carhart-Harris afirma que o estresse existencial acerca do fim de vida se assemelha a um modelo de hiperatividade – pois o ego, com medo de sua dissolução, fica hipervigilante.

Outras universidades que estão encabeçando experimentos desse tipo são a John Hopkins, a Harbour-UCLA Medical Center, a University of New México, a Universidade de Zurich e o Imperial College – em Londres. Em janeiro deste ano, a mais relevante revista médica da Inglaterra, “The Lancelet”, publicou um editorial defendendo pesquisas sobre o uso terapêutico de drogas psicodélicas, “Turn on and Tune in to Evidence-based Psychedelic Research” (“Se ligue e se conecte nas pesquisas psicodélicas baseadas em evidências”). Outro artigo publicado com esse tema é o “Reviving Research into Psychedelic Drugs” (“Revivendo pesquisas sobre drogas psicodélicas”).

Os resultados dos estudos do centro médico da Harbor-UCLA sobre a administração de psilocibina para pacientes com câncer avançado (estágio 4) foram publicados no “Archives of General Psychiatry” (Arquivos de Psiquiatria em Geral”), em 2011, indicando que o uso da droga para pacientes nesse estágio pode ser feito de forma segura e reduzir a ansiedade e a depressão acerca de suas iminentes mortes, segundo artigo da revista do “The New York Times”, “How Psychedelic Drugs Can Help Patients Face Death” (“Como Drogas Psicodélicas podem Ajudar os Pacientes a Encarar a Morte”).

A distinção entre o uso terapêutico e o recreativo de drogas psicodélicas está na forma como a droga é administrada, no acompanhamento médico e terapêutico das seções, que guiam os voluntários em suas “viagens”, e nos critérios de seleção. Rejeita-se quem tem histórico de esquizofrenia e transtorno bipolar na família, por exemplo. A matéria da “The New Yorker” menciona que as reações negativas normalmente associadas ao uso recreativo dessas drogas, como psicose, flashbacks e suicídio, não foram identificadas em nenhuma das 500 administrações da psilocibina na NYU e na Universidade de John Hopkins.

O laboratório da Hopkins está, atualmente, desenvolvendo experimentos sobre o uso de psilocibina na meditação (com o uso de ressonância magnética para acompanhar o processo) e em profissionais religiosos de diversas crenças, para verificar como a experiência com a droga pode contribuir para seus trabalhos.

Segundo a reportagem da “The New Yorker”, a ideia de oferecer drogas psicodélicas aos moribundos foi criada pelo escritor Aldous Huxley. E aqui sigo para a segunda parte desse post. Vamos falar sobre a “mágica” morte de Aldous Huxley.

A morte de Aldous Huxley

 Em 1953, Huxley conheceu a mescalina, uma substância com propriedades alucinógenas extraídas de um cacto mexicano, numa experiência com acompanhamento médico retratada na crônica “Doors of Perception” (“As Portas da Percepção”, editora Globo, 2002), em 1954. A obra inspirou Jim Morrison a nomear sua banda de “The Doors”. Huxley propôs um projeto de pesquisa que estudasse o uso do LSD em pacientes com câncer terminal, na esperança de tornar a morte uma experiência mais espiritual e não apenas fisiológica.

Em 22 de novembro de 1963, mesmo dia em que John F. Kennedy foi assassinado, Aldous Huxley faleceu. Ele tinha 69 anos e uma avançado câncer na laringe. Horas antes de morrer, ele pediu para sua esposa, Laura, injetá-lo com LSD (veja um vídeo com o depoimento dela aqui).

Laura escreveu uma carta ao irmão mais velho de Huxley, contando sobre seus últimos dias e a experiência com a droga nos momentos finais.

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“LSD, 100µg, intramuscular”, conforme o entendimento que Laura teve das letras

Ela diz achar que o uso do LSD tornou a morte de seu marido “pacífica e bonita”. Nas suas últimas quatro horas de vida, ele recebeu duas injeções da droga, junto com sua mulher, que falava para ele seguir adiante, sem medo. “É fácil e você está fazendo isso lindamente, conscientemente e de sua própria vontade. Querido, você está indo em direção à luz”. Laura afirma que as últimas respirações de Huxley foram como uma música terminando “in a sempre piu piano dolcemente”.

“Tenho a sensação de que a última hora de sua respiração só era o reflexo condicionado do corpo, que estava acostumado a isso por 69 anos, milhares e milhares de vezes. Não havia o sentimento de que com o último suspiro, o espírito se foi. Ele estava gentilmente indo embora pelas últimas quatro horas”, Laura diz na sua carta.

A carta foi retratada no livro “This Timeless Moment, a personal view of Aldous Huxley”, escrito por Laura. Pode ser vista em seu formato original nesse link e foi traduzida no livro “Cartas Extraordinárias” (Companhia das Letras, 2014).

Em seu último livro, escrito em 1962, “A Ilha” (Ed. Globo, 2001), Huxley fala sobre a sociedade idealizada de Pala, que vive em uma ilha fictícia em busca da felicidade, com base em conceitos budistas e hinduístas. Os palaneses confrontam diretamente a morte, meditam e fazem sexo tântrico . Eles buscam atingir o nirvana, estado no qual não há mais sofrimento e sente-se a felicidade plena. Utilizam drogas psicodélicas – (chamadas de “moksha”). Laura diz que Aldous estava fazendo o que ele descreveu em “A Ilha”, e teria ficado ressentido pelo livro não ter sido levado a sério e considerado somente uma obra de ficção científica.

O documentário “Huxley sobre Huxley”, veiculado pela TV Cultura com legendas em português, tem Laura Huxley como protagonista e mostra a casa onde ela vivia com o marido, assim como o escritório onde ele trabalhou e morreu.

Os artigos mencionados nesse post apontam que experimentos em andamento sobre a administração de drogas alucinógenas como a psilocibina para pacientes com câncer avançado têm mostrado benefícios e contribuído para diminuir aflições como estresse existencial e depressão sobre a possibilidade de morte iminente. A aprovação do seu uso medicinal, no entanto, não parece estar em discussão, ainda.

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Ilustração de Stephen Doyle para a reportagem “The Trip Treatment” da revista “The New Yorker”
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A possibilidade da invenção de doenças mentais https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/02/26/a-possibilidade-da-invencao-de-doencas-mentais/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/02/26/a-possibilidade-da-invencao-de-doencas-mentais/#respond Thu, 26 Feb 2015 19:56:57 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=385 “Infelizmente propaga-se por aí uma falácia”, foi o início de um e-mail recebido de uma leitora indignada com o post Mitos sobre o Suicídio, criticando o artigo por “simplesmente reproduzir dados transmitidos por uma indústria farmacêutica apenas interessada em vender mais remédios”, como ela colocou.

Essa linha de raciocínio parte do pressuposto de que doenças podem ser “inventadas” e que os manuais de categorização de doenças mentais, como o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e o CID (Classificação Internacional de Doenças, uma publicação da própria OMS – Organização Mundial da Saúde) são definidos por psicólogos e psiquiatras ligados financeiramente a empresas farmacêuticas (que financiam suas pesquisas, por exemplo).

Para o psicanalista Eduardo Rozenthal*, isso é possível sim, porque vivemos numa sociedade contemporânea monista, baseada em apenas um valor, que é o valor capitalista de mercado. Ela substitui a sociedade moderna, que era dualista, oscilando entre o bem e o mal. “Todas as práticas humanas se mobilizam em direção ao maior valor da cultura, que é o valor de mercado. Isso é automático. Não se trata de nenhuma ‛teoria da conspiração’. Somos seres moldados pela cultura em que vivemos”, Rozenthal diz.

Para o psicólogo Thiago Sarkis, psicanalista de Belo Horizonte, “doenças inventadas” podem ocorrer como fruto de erros e não de más intenções. Ele também diz ser perigoso falarmos de maneira tão categórica sobre uma relação entre estudos psiquiátricos de transtornos mentais e o objetivo de se ofertar algo para aquecer o mercado farmacêutico. Haveria equívocos em estudos e classificações, assim como a hipermedicalização da vida, mas isso diria muito mais respeito sobre quem recebe os resultados dos estudos e medicam seus pacientes a partir deles, do que sobre quem os produziram.

Sarkis diz estar certo de que boa parte dos estudiosos sobre os transtornos mentais estão efetivamente acreditando – talvez mais piamente do que devessem – naquilo que estão fazendo, dedicando-se, e confiando em suas descobertas. “O que guia a ciência, hoje e sempre, é a dúvida, o questionamento. Quando a ciência vira, ou é investida pelas pessoas como uma indústria de produção de verdades, um guia absoluto, temos um problema.”

O caso do TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade

O psiquiatra norte-americano Leon Eisenberg (1922-2009) é considerado o pai do TDAH. Segundo reportagem do “The New York Times”, “nos seus últimos anos de vida, ele teria ficado alarmado com as tendências no campo que ajudou a criar, criticando o que ele viu como uma “confortável” relação entre o mercado de remédios e os médicos e a crescente popularidade do diagnóstico do déficit de atenção”. O semanário alemão “Der Spiegel” trouxe uma reportagem de capa, em 2012, com uma declaração bombástica de que Eisenberg teria dito que o TDAH é uma doença inventada.

A frase atribuída a ele nas matérias que encontrei é: “O TDAH é um excelente exemplo de uma doença fictícia”. O tradutor que consultei disse que colocaria a frase como: “O TDAH é um exemplo de sucesso de uma doença fabricada”. Ele me passou outras informações importantes da matéria, como Eisernberg mencionar que o componente genético da doença foi superestimado e afirmar que “psiquiatras infantis deveriam investigar as motivações psicossociais que possam causar os sintomas da doença, como verificar se existem problemas  de relacionamento na família, se os pais vivem juntos ou se estão brigando muito, por exemplo. São questões importantes, mas demandam muito tempo para serem respondidas. Sendo assim, é mais fácil simplesmente medicar”. A matéria diz que o diagnóstico do TDAH aumentou 40 vezes nos últimos dez anos e muitos dos pacientes mal têm de dois a três anos de idade. Também aponta que não se sabe qual o tipo de consequência dos medicamentos para o cérebro e que essa é uma experiência fora do controle.

Rozenthal diz receber muitos pais em consultório imaginando que seu filho tem a doença e muitas vezes já fazendo uso de medicação como a Ritalina. Ele não se coloca contra remédios, mas sim contra a medicalização hegemônica da sociedade, ou seja, o excesso de medicação que hoje se prescreve, “você dá a medicação e não trabalha com a subjetividade. É mais rápido e mais fácil, mas a longo prazo não serve. Se tirar a medicação volta tudo”.

Depressão

Eduardo Rozenthal diz que a depressão é a doença psíquica por excelência da contemporaneidade. “É alarmante o número de pacientes que chegam falando que têm depressão”. Ele considera haver uma confusão entre o “ficar triste”, por exemplo, diante de uma perda, e o “estar deprimido”. As pessoas teriam o direito de ficarem tristes e a felicidade não deveria ser colocada como uma obrigação. O diagnóstico de depressão é feito às pressas e logo se parte para a medicação. Segundo Rozenthal, há um componente orgânico na depressão que deve ser levado em conta, mas que não deve servir para generalizar o sofrimento.

Ele diz que os remédios mais usados hoje para tratar o excesso de ansiedade, como os ansiolíticos Rivotril, Olcadil e Frontal podem trazer benefícios se utilizados, quando for o caso, como complemento da análise. Podem diminuir a dor e às vezes até facilitar o trabalho psicanalítico. Mas nesse caso, devem ser vistos como circunstanciais e não como tratamento propriamente dito.

Há uma corrente que critica as drogas psicotrópicas por não existir pesquisas científicas comprovando a existência de componentes orgânicos nos distúrbios mentais. Alguns psiquiatras americanos divulgam opiniões contrárias ao status quo em sites pessoais e acabam servindo de fonte àqueles que são contra o uso de certos remédios, como o Dr. David Healy, e o Dr. Peter Breggin, que relaciona violência e suicídio causados por anti-depressivos. O filme “O Marketing da Loucura” traz a história desses medicamentos e depoimentos sobre seus efeitos secundários.

Classificar, categorizar, rotular

O DSM é um livro que indica a classificação de doenças mentais usado por profissionais de saúde mental dos Estados Unidos. Há uma linha de pensamento que defende que os psiquiatras dessas instituições são ligados a laboratórios e por isso trabalhariam no interesse deles e não da sociedade.

A psicóloga norte-americana Lisa Cosgrove, e outros três colegas, lançaram um estudo intitulado (em tradução livre) “Ligações financeiras entre os membros dos painéis do congresso DSM-IV e a indústria farmacêutica”. O artigo aponta que dos 170 membros do painel, 95 membros (56%) tinham uma ou mais associações financeiras com empresas da indústria farmacêutica. E 100% dos membros dos painéis ‘Transtornos de Humor’ e ‘Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos’ tinham ligações financeiras com as companhias de drogas. O estudo conclui que há fortes ligações financeiras entre a indústria e aqueles responsáveis por desenvolver e modificar os critérios para diagnósticos de transtornos mentais, “as conexões são especialmente fortes nos diagnósticos de áreas em que as drogas são a primeira linha de tratamento.”

A leitora que estimulou esse post enviou o link de um filme criticando o DSM e o CID, filmado pela CCHR – Comissão dos Cidadãos para os Direitos Humanos, de Portugal. Uma das críticas está em não precisar ter conhecimento sobre a causa e efeito da condição para poder classificá-la como uma doença e com isso dar margem à invenção de doenças mentais para alimentar a indústria farmacêutica. O documentário aponta que a inclusão de uma doença no DSM é votado numa reunião entre psicólogos e psiquiatras. O fato de a decisão ser votável indicaria não haver uma definição com base em pesquisas cientificas mas sim em motivos políticos. Também se vota na exclusão de uma doença, como ocorreu com a homossexualidade, anteriormente inclusa no DSM como distúrbio mental e depois retirada. O documentário disse que essa decisão nada tem de base científica, ele foi inserido e removido por razões políticas e não médicas.

A instituição lançou outros documentários como “O Inimigo Oculto” e “A Era do Medo”, disponíveis no seu site.

Para Rozenthal, as doenças precisam ser classificadas para que possamos estudá-las, ensiná-las e finalmente tratá-las e para facilitar a cobertura de planos de saúde também. “O problema surge quando se idealiza a doença – ou a saúde – para fazer com que o mercado lucre”, ele diz. O psicanalista ressalta que somos seres da singularidade e por isso é perigoso trabalharmos com rótulos para alimentar um modelo médico quantitativo, voltado para estatísticas e não para a qualidade.

A indústria farmacêutica

Para Nelson Mussolini, presidente executivo da Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estados de São Paulo), de fato houve uma medicalização da vida em razão do aumento da expectativa e a busca por maior qualidade. “Estamos vivendo cada vez mais e a indústria farmacêutica corre atrás para investir em desenvolvimento de produtos para dar mais qualidade de vida para as pessoas”, ele diz.

Mussolini afirma que podem haver abusos e modismos que são prejudicais para a indústria e que qualquer atividade humana está passível de cometer erros, mas se tem procurado, principalmente nos últimos vinte anos, minimizá-los ao máximo. Como por exemplo, retirar remédios do mercado que apresentem efeitos colaterais graves e criar códigos de conduta para os médicos – como deixar claro suas conexões financeiras, como quem patrocinou seu estudo e para qual empresa trabalham, na hora de apresentar suas teses em congressos, “nenhuma empresa quer ver seu nome envolvido com falta de transparência, porque um dos principais pilares dessa indústria é a credibilidade”.

Sobre o TDAH, Mussolini afirma que ele vem sendo estudado desde 1947 e a Ritalina é um medicamento de 1955. “Me parece estranho falar em uma doença fabricada por um período tão longo quanto esse. De fato, se existisse essa questão, ela já teria sido desmitificada, porque nenhuma ‛mentira’ dura tanto tempo”. Ele diz ser possível encontrar alguns abusos, como ser usado para pais sossegarem seus filhos, mas essa seria uma questão presente em todos os produtos. Por exemplo, o abuso de antibióticos resultou em bactérias mais resistentes levando a indústria a investir em pesquisas para descobrir antibióticos mais potentes.

Acredito que abrir margem para a existência de doenças inventadas possa contribuir ainda mais para o preconceito em torno dos distúrbios mentais e prejudicar a importante pesquisa dos medicamentos psiquiátricos, hoje em curso. Erros e abusos devem ser minimizados e a transparência das ligações financeiras tida como uma prioridade. Mas o debate é bem vindo e pode indicar quão manipuláveis somos, tanto para defender a indústria farmacêutica quanto para criticá-la.

*Eduardo Rozenthal é Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social (IMS) da Uerj e autor do livro “O ser no gerúndio: corpo e sensibilidade na psicanálise”, editado pela Cia de Freud.

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Mitos sobre o suicídio e como preveni-lo

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A era dos adictos https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/01/21/a-era-dos-adictos/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2015/01/21/a-era-dos-adictos/#respond Wed, 21 Jan 2015 11:28:09 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=281 Vamos falar sobre o suicídio.

O tema é considerado tabu e uma questão alarmante. Todos os anos, cerca de 12 mil pessoas se suicidam no Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), e 800 mil no mundo. A taxa de suicídio cresceu 62,5% nos últimos trinta anos, aumentando o ritmo a partir da virada do século, segundo o Mapa da Violência 2014, organizado por Julio Jacobo Waiselfisz. De acordo com esse estudo, há pouca discussão sobre o tema e haveria um tabu na mídia de divulgar essas questões para evitar o efeito de incentivar suicídios por imitação ou indução, chamado de Efeito Werther. A produção acadêmica também não estaria acompanhando essa realidade. Acesse o mapa neste link.

A OMS divulgou um relatório em 2014, colocando o crescimento das taxas de suicídio como um grave problema mundial de saúde pública. É a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e há indícios de que para cada adulto que se suicida, 20 tentaram cometer o ato. A instituição afirma que os suicídios são evitáveis e elaborou uma cartilha sobre como preveni-lo. Disponível aqui.  Ela é destinada a profissionais de saúde, mas acredito poder ser útil para o público em geral. Segundo reportagem da Folha sobre esse relatório, o Brasil é o oitavo país no ranking mundial de suicídios.

Tenho escutado cada vez mais notícias de que um amigo de infância, colega de classe ou mesmo amigo próximo, se suicidou. E acredito que não sou a única. Há várias questões fundamentais a serem discutidas do porquê do aumento das taxas de suicídio e o que fazer a respeito. A entrevista abaixo traz o ponto de vista de Thiago Sarkis, psicanalista de Belo Horizonte, membro e supervisor da CAPA*.

Ele faz uma análise dos tempos atuais, refletindo sobre o que chama de “A era dos adictos”. O cenário traçado me parece um bom ponto de partida para a discussão que pretendo trazer cada vez mais a esse fórum. Já abordei em outros posts as campanhas “Precisamos falar sobre o aborto” e a “Vamos falar sobre o luto”. Agora inicio essa: “Vamos falar sobre o suicídio”, seja pensando sobre características patológicas da nossa sociedade ou mesmo em termos práticos.

Dizem que não se fala em suicídio na mídia por causa do tal Efeito Werther, que se baseia na ideia de que explorar o tema pode incentivar potenciais suicidas a cometerem o ato, ao lerem notícias de pessoas famosas que se mataram, por exemplo. De forma mais abrangente, o efeito fala sobre como comportamentos humanos podem ser influenciados por ideias, e tem esse nome herdado de um romance de Goethe – “Os Sofrimentos do jovem Werther” (1774), em que o protagonista se suicida por causa de um amor frustrado. Utilizar o medo desse efeito como justificava para ficarmos calados não é válido e talvez uma das causas para as taxas aumentarem ainda mais. Claro que não é benéfico falar em suicídio de forma sensacionalista, mas fora isso, é fundamental discutirmos esse tema e suas ramificações.

Segue, abaixo, a entrevista.

O que seria a era dos adictos?

Vivemos numa era alarmante quanto ao abuso, à compulsão, ao vício. Não só em relação a drogas (remédios e drogas ilícitas), mas também a vícios de todo tipo: viciados em celular, internet, rede social, futebol, televisão, bebida. Tudo é vício e tudo é vivido à exaustão. Compramos demais, comemos demais, bebemos demais, jogamos demais, teclamos demais, produzimos demais, trabalhamos demais, fazemos exercícios físicos demais, contudo, falamos de menos sobre o que eu chamo de “território do negativo” – fragilidade, tristeza, falta de sentido, dificuldades, desordem, morte, falhas, diacronia, estranheza, desencontros, adoecimentos, suicídio etc. Diferenças então? Nem pensar. Jamais tratamos disso.

Esse cenário pode estar relacionado ao aumento das taxas de suicídio?

Essa situação da adição não necessariamente leva ao suicídio ou teria a ver com o aumento das taxas de suicídio, mas os dois temas tocam a mesma questão, que é a de como lidamos com o vazio na contemporaneidade. Procuramos sempre reafirmar nossa identidade, ou aquilo que está no que eu chamo de “território do positivo”. Fazemos com esse território, que inclui, dentre outras coisas, identidade, potência, capacidade, força, saúde, vitalidade, resistência, beleza, sincronia, sentido, ordem, ideal etc., o oposto do que fazemos com o “território do negativo”. Enquanto fugimos e evitamos a todo custo qualquer contato com o registro da falta, vamos sedentos em busca de tudo – e o tempo todo – que tange ao registro do “positivo”. É importante ressaltar que, quando falo de positivo e negativo não associo qualquer ideia de bom ao positivo e mau ao negativo, nem qualquer coisa similar. O território do negativo apenas marca uma subtração no Eu e o do positivo marca um acréscimo, um “a mais”.

Lidar com o registro da falta não é de fato fácil, mas quanto menos o fazemos, mais dificuldade temos ao nos depararmos com isso. Lembro-me de assistir a jogos de futebol com as torcidas misturadas. Hoje em dia a coisa se agravou de tal forma que decidiram separar as torcidas, inclusive impedir que ambas estejam nos mesmos jogos, porque o lidar com o outro, com esse registro da alteridade radical, com aquilo que não confirma minha identidade mas sim marca uma diferença, traz dúvidas insuportáveis: o que sou eu? Quem sou eu? Sou de fato o que penso que sou? Então, procura-se eliminar a dúvida.

Quais aspectos podem ser vistos como determinantes em casos de suicídio e como isso se correlacionaria com o que estamos falando?

Algo que me parece claro no caso do sujeito que comete suicídio é certo raciocínio peculiar que vai se desdobrando desta maneira: “Não há sentido. Tudo dá em nada. Tudo é nada. Nada é tudo. Eu sou nada. Nada vai mudar. Não há mais nada a fazer”. O sujeito que comete um suicídio, entretanto, não é necessariamente um niilista. O niilista vê a falta de sentido em toda e cada parte ou ao fundo de tudo. O suicida não vê nada além do nada. Ele habita exclusivamente o território do negativo e crê que este território é tudo o que há.

Outro aspecto importante: talvez todos nós já passamos por um ou vários destes pensamentos: “tudo dá em nada”, “não há nada que eu faça que adiante”, “tudo é nada”, “eu sou nada”, “eu não sirvo para nada”, “tudo dá errado comigo”. Enfim, estes e similares. O suicida não é alguém que me parece simplesmente passar por estes pensamentos. Ele é alguém que se afunda nestes pensamentos, que não consegue se desvencilhar minimamente de quaisquer destas perspectivas e que, ao invés de se psicanalisar e se tratar a fim de questionar todas estas certezas, encerra seu suplício indo ao encontro da única coisa que enxerga: o nada.

É absolutamente equivocado e simplista dizer que o pensamento da pessoa que comete um suicídio é um “raciocínio estúpido” ou que, para mudar, basta que a pessoa “pense diferente”. Não é uma questão consciente. O raciocínio descrito é resultado de uma série de fatores que incluem agressividade, ansiedade, sensações de depreciação, exclusão, inutilidade, inoperância, impotência, fracasso em relação às próprias expectativas ou de outros, frustrações, sérios conflitos em relações interpessoais (principalmente com aqueles que operam nas funções paterna e materna) etc. A quantidade de questões singulares que acharemos nestas situações é imensa também. Não há como dizer: “é assim para todos”. No máximo: “generalizando, é assim”. Só ouvindo a história de cada um para entender.

O que mais podemos ver de comum em pessoas que pensam ou chegam a efetivar um suicídio?

Outro ponto comum é ver nas pessoas que falam seriamente em suicídio a aplicação em si de uma agressividade que, na verdade, se desviou: inconscientemente se direciona a outro, porém, algo impede que essa agressividade se realize em relação a este outro, e ela “estaciona” na pessoa ou, em termos freudianos, “retorna” na própria pessoa.

Em outros casos, é possível observar a pessoa agredindo o que há deste outro em si. Ao se ver repetir um ato que repudia e que é usual de algum outro que ele não quer ser e com quem não quer se parecer minimamente (em outras palavras, ao se deparar com uma identificação indesejada), o sujeito pode se agredir de múltiplas formas, dentre elas, o próprio suicídio.

Há um abuso do uso de remédios como anti-depressivos e ansiolíticos?

Em determinadas situações, sim, há abuso. O remédio deixa de ser medicamento e passa a ser droga destinada a perpetuar o estado do paciente, ao invés de ajudá-lo. Por exemplo, já escutei analisandos dizendo que não podem parar de tomar o remédio porque não podem falhar, não podem parar de forma alguma em qualquer âmbito: não podem, nem por um instante, vacilar, parar de trabalhar, parar de ser um bom marido, um bom pai, lidar com os próprios limites, pensar em questões pessoais.

 O remédio tem o seu lugar e vem auxiliando para que, mesmo em condições psicológicas desfavoráveis, a pessoa possa seguir a vida. Alguns cenários psicopatológicos são seriamente impossibilitantes e nestes o remédio atua muito bem. Mas o uso do remédio às vezes é que é questionável, pois entra no lugar de uma droga. Ao invés de auxiliar o paciente a lidar com suas questões, o remédio comumente tem surgido como aquilo que se alia ao excesso do paciente e “o ajuda” a não ter que lidar minimamente com quaisquer de suas questões. Algo similar a um jovem que toma uma pílula na boate para poder se manter de pé até o amanhecer. Ou o funcionário que precisa trabalhar a noite inteira e apela a todas as substâncias possíveis para não dormir, “não parar”, “não falhar”. Todos esses cenários partem do princípio da necessidade de se produzir esse “a mais” eterno. É sempre um mais, a coisa não acaba. A pessoa, sim, “se acaba”, mas não sei se no melhor sentido da expressão.

Você vê alguma pressão para sermos felizes?

Uma marca cruel da atualidade é a exigência de felicidade, assim como a necessidade de você transmitir essa felicidade a seus semelhantes e vivê-la constantemente, ininterruptamente. Isso não é felicidade. Isso é mania. Toca mais no pathos do que na felicidade real, que seria mais próxima de coisas momentâneas, do desfrutar, contemplar do que do “se acabar”, ou viver em um interminável excesso. A felicidade não existe initerruptamente. A tristeza tem o seu lugar e é fundamental que ela tenha o seu lugar. Não podemos excluí-la. E ai tocamos novamente no território do negativo: a tristeza, a diferença, a falha, a incapacidade, a dificuldade, a morte, o adoecimento. Não falamos sobre isso, excluímos esses temas das nossas conversas e agimos como tudo isso sequer existisse.

Mas não é possível tamponar essas coisas porque são elas que se afirmam para além de nossa vontade. Podemos fazer o esforço que for, por meio de drogas, de Instagram, de inúmeros selfies, aquisições e compras de todo tipo, sorrisos amarelos de suposta alegria, horas e horas conectados à Internet, mil “amigos” no Facebook que sequer nos conhecem e qualquer outra coisa que nos ajude a ser vistos da forma desejada ou idealizada por nossos semelhantes, mas não adianta. Esse projeto de “eterno a mais” é fracassado desde seu princípio, por tentar afirmar aquilo que – eventualmente – se conquista, e evitar a todo custo aquilo que inevitavelmente se impõe.

Como lidar com isso?

É uma resposta difícil e não penso que falemos de uma cura aqui. Falamos mais de um tratamento, de algum apaziguamento possível. Talvez um ponto crucial seja conseguir encontrar um sentido próprio para a vida; conseguirmos nos esquivar um pouco dos sentidos ofertados e, assim, tentar encontrar um sentido mais particular, que tenha ressonância com nosso desejo, não com a demanda externa.

Essa tentativa eterna de afirmar um positivo faz justamente com que se caia no vazio – em relação ao próprio desejo principalmente. E se não sabemos lidar com isso, porque evitamos qualquer contato com este ponto no nosso dia a dia, acabamos reagindo aos encontros com o “território do negativo” com quadros de ansiedade, pânico, depressão, adição, e até mesmo, o suicídio.

Porque essa questão da adição, como você coloca, está impactando essa era especificamente?

Além da maneira como lidamos com a falta, nossa era tem uma maneira muito particular de lidar com os objetos. É uma via intensa, funcional, sem limite. O que marca a experiência da adição no nosso tempo pode estar conectado a essa experiência ininterrupta com nossos objetos de investimento. Estamos em absoluto curto-circuito com as centenas de objetos com os quais nos relacionamos.

Acho que isso que estou falando é caricaturalmente representado em um episódio recente dos humoristas do “Porta dos Fundos”, chamado “Sem Bateria”, onde um casal está num restaurante e o homem fica sem bateria do celular. Assim, ele é obrigado a conversar com sua esposa e vê que não sabia nada da vida dela, nem de sua própria de certa forma. Esse sujeito é um emblema da adição da nossa sociedade, da vivência funcional com nossos objetos e de como o “vazio” se impõe para além de todos os nossos infrutíferos esforços do contrário. Estamos em curto-circuito.

Qual é o futuro dessa realidade?

O futuro dessa realidade já é um pouco do que vemos na atualidade. Se é um curto-circuito, em algum momento vamos pifar, entrar em colapso. Mas não é uma situação apocalíptica, porque temos nossos meios e temos outras habilidades. Essa questão de nossas relações de objeto tem uma marca muito forte no homem contemporâneo e nos causa danos seríssimos, mas não somos só isso.

Há solução?

Há apaziguamentos, possibilidades de melhora. Algum excesso, porém, estará sempre ali. Ou melhor, aqui (em nós). E cada analisando encontra a sua forma de melhorar a partir da análise. O certo é que uma forma de amenizar esse processo agudo é passar a discutir essas questões, falar dos sentimentos, falar do que dói, abrir as portas a esse território que tão freneticamente evitamos.

* CAPA: China American Psychoanalytic Alliance

Anxiety
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Psicanálise e morte – assista https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2014/11/21/psicanalise-e-morte-assista/ https://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/2014/11/21/psicanalise-e-morte-assista/#respond Fri, 21 Nov 2014 17:16:35 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://mortesemtabu.blogfolha.uol.com.br/?p=139 Morte sem Tabu” se propõe a falar abertamente sobre morte, sua inserção no cotidiano e impactos na nossa sociedade. Para isso, defendo a ideia de que uma mudança cultural, indicada no post de abertura (veja aqui), pode se beneficiar com essa vertente do blog em trazer pessoas refletindo sobre a relação desse complexo tema com sua área de trabalho. A primeira entrevista publicada, com a astróloga Claudia Lisboa, abordou astrologia e morte (veja aqui). A segunda, com o psicanalista Eduardo Rozenthal, fala da relação com a psicanálise.

Eduardo Rozenthal é membro da Sociedade Psicanalítica Iracy Doyle (SPID) e Doutor em saúde coletiva pelo Instituto de Medicina Social (IMS) da Uerj. É autor do livro“O ser no gerúndio: corpo e sensibilidade na psicanálise” pela editora Companhia de Freud.

Na entrevista abaixo, ele inicia com o que a psicanálise não é, para aí explorar sua definição e teorias de Freud, como a pulsão de morte e o trabalho de 1914 “Luto e Melancolia”. Segundo Eduardo, o luto é uma abertura para o prazer e para a alegria – “É preciso perder e ter consciência de que se perdeu (é um trabalho de luto) para então poder ganhar, vivendo com alegria e vivendo com prazer”, ele diz.

Para quem tiver interesse em ler um pouco mais sobre esse trabalho de Freud, recomendo o artigo da psicanalista Maria Rita Kehl: Freud Fundador.

Quando perguntei como é sua reação ao se deparar com um paciente em consultório, alegando medo, ou pânico da morte, Eduardo defende uma postura já muito debatida nessa área de pensamento, de que o analista não pode ser frio e não pode ser neutro. “Só o analista sendo ele mesmo, ele capacitaria neste encontro o analisante, para que ele também fosse ele mesmo e que não ficasse aquém do que ele pode, que ele conseguisse ir até o limite da sua potência”, ele diz.

Eduardo comenta sobre o pensador Epicuro, que se colocava contra o preconceito da morte, “relacionar-se com a morte é o melhor jeito de ocupar-se com a vida”.

Num âmbito mais pessoal, Eduardo tem a convicção de que a melhor maneira de envelhecer é procurar viver sem comparar o você de hoje, com o que você foi ontem. Fica aí a dica.

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