2030: a fusão entre homem e máquina
Por volta de 2030, poderemos ter o que o engenheiro do Google, autor e futurista Raymond Kurzweil chama de “pensamento híbrido”. Significa pensarmos em parte de forma orgânica, de acordo com a biologia de nosso cérebro, e em parte de forma artificial – uma possibilidade do avanço exponencial da tecnologia. Um nanorobô se instalaria em nosso neocortex (no cérebro) possibilitando acesso direto á “nuvem”, ao conjunto de informações acessíveis via internet. Essa tecnologia também permitira transmissões ao vivo da visão de alguém, entre outras possibilidades.
Seríamos fundidos à máquina, ou melhor, a traríamos para dentro do corpo humano. Parece ser o desenho de um futuro mais provável para a inteligência artificial do que essa dicotomia pintada na maioria dos filmes de ficção cientifica, de homem versus máquina, de robôs dominando a humanidade ou os usando para benefício próprio. Acho que não será uma questão de um ou outro, mas um e outro formando um outro ser, um novo conceito de humanidade. Apesar dessa imagem me dar arrepios.
A nanorobótica ainda é uma tecnologia emergente, mas promete revolucionar a medicina num futuro próximo. Nanorobôs são robôs do tamanho de uma célula sanguínea que poderão circular em nosso corpo fazendo diagnósticos, levando nutrientes e realizando micro cirurgias.
É estranho pensar que em poucos anos um novo tipo de ser humano possa surgir. Mas refletindo sobre o avanço que tivemos nos últimos 30 anos, não é de forma alguma impossível. Em palestra no TED, Kurzweil explica o desenvolvimento de seu raciocínio. Clique aqui para assistir.
Matéria de capa da revista “Time” “2045: The Year Man Becomes Immortal” explora a possibilidade de fazermos downloads de nossas mentes em outros recipientes, como robôs, e questiona quais implicações isso traria. 2045 seria o ano da singularidade, ainda impossível de ser compreendida, por não conseguirmos pensar fora de nosso linear e químico cérebro animal.
O termo singularidade é usado para representar uma corrente de pensamento, muitas vezes tida como um movimento. Indica que a humanidade passará por enorme avanço tecnológico em um curto espaço de tempo, no qual a inteligência artificial predominará sobre a humana. O termo é creditado ao cientista Vernor Vinge. Kurzweil, que profetizou o surgimento da internet, é um dos fundadores da Singularity University, que tem a missão de “educar, inspirar e empoderar líderes para aplicarem tecnologias exponenciais no tratamento dos grandes desafios da humanidade”.
Outro relevante membro dessa filosofia é o gerontologista Aubrey De Grey. Ele afirma que o primeiro ser humano a viver 1000 anos já nasceu. De Grey vê o envelhecimento como uma doença a ser curada e explica como isso poderia ocorrer nessa palestra aqui. Ele é autor do livro: “Ending Aging” (importado sob encomenda pelas livrarias).
O ano de 2045 para a singularidade foi definido com base na lei de Moore -ela diz que a capacidade de processamento dos computadores dobra a cada 18 anos, com custos permanecendo constantes. Essa lei analisou dados do passado e tem sido usada há 30 anos.
Kurzweil acredita que vamos parar o envelhecimento e tornar a imortalidade possível. É apenas uma questão de vivermos o suficiente para vivermos para sempre, como diz no seu livro: “Transcend: Nine Steps to Live Forever” (Transcender: nove passos para viver para sempre). Ele também é adepto da teoria da restrição de calorias para aumentar a expectativa de vida. Ponto que defende em diversos livros, assim como o uso da genética para manipularmos genes para barrar o envelhecimento e prevenir doenças. Veja o site do livro “Fantastic Voyage”.
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Albert Einstein teria dito: “A humanidade precisará de uma substancial nova forma de pensar se quiser sobreviver”. Essa frase normalmente é atribuída ao homem ter que mudar seu comportamento em relação a recursos naturais, ao meio ambiente e a questões sociais e éticas. Pensar em prol de um bem comum e não mais em benefício próprio. Transformar uma mentalidade imediatista para uma visão a longo prazo. Quem sabe, Einstein também estaria profetizando sobre o pensamento híbrido de Kurzweil.
Os avanços tecnológicos podem trazer benefícios mas costumam ser atrelados a efeitos colaterais que nos prejudicam e precisam ser discutidos. Como o vício da internet, a alienação do celular e a solidão das redes sociais. Esse homem-máquina teria um novo desafio a sua frente: como lidar com a liberdade de escolha em um cenário de acesso instantâneo e ilimitado a informações? Teorias filosóficas seriam reformuladas e outras apareceriam. Existencialistas se debruçariam sobre a nova responsabilidade do homem diante um livre arbítrio tecnológico e a angústia existencial gerada pelo processo de tomada de decisões com tantas opções e informações disponíveis. Sartre não ia querer perder a oportunidade de refletir sobre um outro tipo de ser humano e iria implorar para nascer de novo.