A origem do Halloween e do Dia dos Mortos

Camila Appel

Muitas crianças adoram o Halloween porque é uma data divertida, com fantasias, atividades lúdicas e doces, muitos doces. Apesar de não ser uma festividade brasileira, clubes e escolas organizam eventos de Halloween. Perguntei a uma amiga, que estava levando as crianças para um evento desses, o que elas pensavam que era o significado desse dia. Ela disse que o viam como uma festa como o Carnaval. A intuição das crianças faz sentido, porque além de terem o uso da fantasia em comum, Carnaval quer dizer “adeus à carne”, que pode ser relacionado, de certa forma, à celebração da morte.

O Halloween é uma festividade realizada, no dia 31 de outubro, pelos povos de língua inglesa, como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Irlanda. Ele ocorre um dia antes do Dia de Todos os Santos e dizem que seu nome é inspirado daí: All Hallow´s Eve, que significa “véspera de todos os santos”. Outra possibilidade para a origem do nome é Hallow Eve – noite sagrada, comemorada na cultura celta.

 A teoria mais aceita diz que a tradição do Haloween tem origem no ritual celta Samhaim. É um ritual de ano novo, onde se comemora a passagem do ano e o início do inverno (início de novembro no hemisfério Norte). Nessa data, acreditava-se que os mortos retornavam para visitar seus familiares e buscar alimento. Segundo esse pensamento, o Samhain teria sobrevivido à cristianização na forma do Halloween.

Atualmente, o evento é marcado por fantasias, decorações envolvendo abóboras, velas e doces. Crianças passam nas casas vizinhas perguntando se o morador prefere “doçuras ou travessuras” e normalmente recebem doces de presente. Uma possível origem para esse costume está na Idade Média, quando as crianças iam pedindo um bolo (chamado de bolo da alma) e em troca faziam uma oração para os familiares de quem recebiam o bolo.

 O uso de fantasias seria uma forma de evitar o reconhecimento por espíritos que vagam o mundo dos vivos nesse dia.

 E a origem da abóbora estaria vinculada a uma lenda irlandesa, sobre um homem chamado Jack. Alcoólatra grosseiro, ele teria se encontrado sem dinheiro para pagar sua bebida e fez um pacto com o diabo que se transformou numa moeda. Ao morrer, Jack não foi aceito no céu nem no inferno, pois o diabo se sentiu traído por ele. Mas o diabo entregou uma brasa para que Jack iluminasse seu caminho pelo limbo. Jack guardou a brasa num nabo, para durar mais. Quando os Irlandeses chegaram na América do Norte, essa “lanterna” foi transformada numa abóbora, pois era mais abundante do que nabos. É muito bonitinho ver uma foto da família americana toda reunida em volta de uma abóbora, contornando feições humanas com estilete, sem saber que, no fundo, ela representa uma lanterna para iluminar o caminho de uma pobre alma penada presa no limbo. Só como garantia, já fiquei com vontade de fazer uma dessas.

 O Dia do Saci Pererê, em 31 de outubro, é um projeto de lei federal que surgiu como uma crítica à importação dos costumes americanos no Brasil, enaltecendo o folclore nacional no lugar de festividades como o Halloween. Apesar de alguns esforços, não é uma ocasião muito comemorada como tal.

Dia dos mortos – México

 No México, o Dia dos Mortos é comemorado em 2 de novembro, numa festividade que se inicia em 31 de outubro. Celebra-se a vinda dos mortos para visitar seus parentes e recebê-los é motivo de festa nesse país. Há bolos, caveiras de açúcar – que normalmente têm o nome dos defuntos, música e flores coloridas. As almas das crianças viriam visitar no dia 1° de novembro e as dos adultos, no dia 2.

Antes da colonização espanhola, os mexicanos acreditavam que o futuro dos mortos era definido pelo tipo de morte que tiveram e não pelo comportamento em vida, como acredita a Igreja Católica, com a noção de céu e inferno. Assim, para esse povo, a alma iria a um mundo específico de acordo com o tipo morte. Por exemplo, quem morreu de algo relacionado á água, como afogamento, iria para o paraíso Tialoc, Deus da Chuva. E quem morria em combate, iria para o paraíso do sol, governado pelo Deus da Guerra, Huitzilopochtli. A celebração da festa dos mortos era feita por volta de 5 de agosto. Mas quando os espanhóis chegaram, fizeram com que coincidisse com os rituais católicos do Dia de Todos os Santos e Dia dos Fiéis Defuntos, também conhecido como Dia de Finados, 2 de novembro.

Muitas famílias passam a noite no cemitério, enfeitam túmulos e levam comida. A decoração é típica e cheia de significado. O personagem mais importante é a La Catrina, figura de um esqueleto feminino, usando um chapéu grande. O adorno simboliza as mulheres da alta sociedade e a lembrança de que, na morte, todos são iguais. A neutralização das distinções sociais já foi rapidamente comentada nesse blog, no post: O que os mortos falam.

Um leitor, Fabio Storino, me recomendou uma animação, de três minutos, sobre o Dia dos Mortos e a perda, que vale a pena ser conferida.