Projeto fotográfico busca retratar o lado cultural da morte

Camila Appel

 

Clayton e Duda engajaram-se num projeto diferente: o “Escaping from Life” (Fugindo da Vida). Seu objetivo é retratar o lado cultural da morte, fotografando cemitérios pelo país e, em breve, pela América Latina e o mundo. Com o título “Desconstruir a escuridão, à busca de luz”,  enviaram o depoimento abaixo para o blog. Esse título resume bem o pensamento deles, ressaltando a dualidade da vida e a poesia escondida na morte.

ESCAPING FROM LIFE (1)

“Desconstruir a escuridão, à busca de luz

 Arte e abandono. Mármore e barro. Pedra e lágrima. Luxo e cova rasa. Paz e angústia. Luz e escuridão. Imagens e percepções em contraponto povoam a atmosfera do lugar escolhido para a última homenagem ao corpo, o último adeus. Cenário atrelado à finitude, os locais de sepultamento contam com atmosfera carregada de dor, de saudade, mas também de reconhecimento e esperança. Dualidades da vida, também fortemente encontradas com a morte.

Muitos não querem falar ou estar em ambientes de luto, fogem do contato com o inevitável. Contudo, outros encontram motivos para observar e admirar os ritos de passagem e formas como as culturas de cada localidade, de cada povo, conduzem esse momento.

Conhecido como Necroturismo, a visitação aos locais de sepultamentos tem adeptos em todo mundo. Alguns buscam sanar curiosidades sobre as diversidades culturais aplicadas a essa circunstância, outros procuram visitar túmulos de personalidades. O cemitério europeu Père-Lachaise, em Paris (França), por exemplo, é um dos pontos turísticos mais visitados da sua região. Abriga as sepulturas do cantor Jim Morrison (1943-1971), da cantora francesa Édith Piaf (1915-1963) e de diversos escritos como, Honoré de Balzac (1799-1850) e o renomado pintor francês, Eugène Delacroix (1798-1863).

Cemitérios abrigam histórias, arte, arquitetura, cultura e crenças. Têm seus personagens principais, e até seus “milagreiros”. Em Araçatuba (SP), o cemitério da Saudade, o mais antigo e tradicional, guarda a história da menina Laila Ganme (1930-1935), que recebe homenagens em flores e decorações ao túmulo até os dias atuais. Contam que a menina teria morrido engasgada com pipoca, mas na realidade foi acometida por uma pneumonia. Até hoje, há quem leve pipoca ao túmulo; devotos pedem à menina que interceda por outras crianças, para que se livrem de engasgos.

Laila foi lembrada na obra “Cidade dos Vivos: arquitetura e atitudes perante os mortos do estado de São Paulo”, do arquiteto Renato Cymbalista, doutor da Universidade de São Paulo. No livro, o pesquisador observou cemitérios como um microcosmo das cidades – registrou o local de sepultamento de 40 cidades paulistas.

Justamente por conter histórias muito ricas em suas comunidades e registros significativos da cultura de cada lugar, esses locais de morada eterna merecem foco.

O projeto fotográfico Escaping from Life (Fugindo da Vida) surgiu com a finalidade de transmitir por meio das artes visuais a naturalidade da morte e os ensinamentos que a diversidade cultural nos ambientes de sepultamentos podem ensinar a partir de suas manifestações artísticas, preservação do patrimônio histórico, cultural e familiar de cada local.  Em qualquer canto do mundo, acultura de cada lugar dita a forma como vamos ser sepultados e também diz muito de como a família viverá o luto.

Para muitos, essa busca por locais de sepultamento para registro fotográfico pode ser considerada mórbida, e até mesmo insana; mas a intenção é justamente contrária a isso. Busca vida e lucidez, claridade.

A busca é pela cultura, arquitetura, religião, política, enfim, todas as expressões artístico-culturais que demonstram vida e que estão representadas neste cenário. A proposta de Escaping from Life é viajar por várias partes do mundo, dos lugarejos mais simples às capitais históricas para descobrir como essas culturas tratam esse momento de passagem. A ideia é revelar e desmitificar tabus; quebrar barreiras, sejam elas visuais, emocionais ou culturais.

O caminho nesta jornada buscará promover reflexão sobre a vida, e contribuir para a revisão de valores e ideologias sobre a (breve) existência. É lançar claridade a temas e lugares que precisam de atenção; desconstruindo a nós mesmos para uma reinvenção. O ponto de partida já está claro: onde muitos veem escuridão, nós buscamos luz”.

Clayton Khan, 33 anos, é formado em Jornalismo, pós-graduado em comunicação empresarial, fotógrafo e professor universitário. Duda Maués, 20 anos, é fotógrafo e graduando em publicidade e propaganda.

Contato: FaceBook: Escaping from LifeInstagram: @escapingfromlife

E-mail: escapingfromlife@outlook.com

Fones: (18) 99749.0164 – (18)99643.7635

 

 

 

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Arquivo pessoal

Observação:

Durante minha licença-maternidade, abri o blog para depoimentos de leitores. Os interessados em ler os artigos já publicados, por favor pesquisem nas abas laterais. Há cem posts disponíveis, separados por temas. Ou entrem na página do Facebook do blog. Para enviar seu depoimento, escreva para mortesemtabu@gmail.com 

Um abraço, Camila