Não morra, vire uma estrela

Camila Appel

Sempre olhei para o céu e achei engraçado o fato de podermos ver brilhar uma estrela que não existe mais. As estrelas mortas estão muito longe da Terra para serem vistas a olho nu, mas com a ajuda de um telescópio é possível avistá-las. “Se a estrela já desapareceu, como ela ainda está lá?”, pergunta a criança. Sim, existe uma explicação. É porque sua luz tá viajando tranquilamente pelo espaço vazio (ou seja lá do que for constituída a cama onde bailam os astros), mesmo depois de ela ter evaporado.

É ainda mais curioso saber que é possível “dar nomes” às estrelas. Dar o seu nome a uma estrela. De forma simbólica, claro. Não há posse legal envolvida e a Nasa não reconhece essa atividade, mas o “batismo” fica registrado no banco de dados da empresa que te vendeu o serviço e até em um livro de acesso público.

Essas empresas divulgam a nomeação como um presente original que pode ser utilizado para casamentos, nascimentos de bebês, Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia dos Namorados, etc. “Dê um presente original, nomeie uma estrela”, diz a “Online Star Registry” em seu site. É muito popular o uso como homenagem in memoriam. “Neste ano, imortalize o nome de alguém dando a uma estrela esse mesmo nome”, anuncia a “Global Star Registry”.

Há pacotes que incluem certificados com diversas molduras, pingentes gravados, mapa estrelar indicando a estrela nomeada, adesivo que brilha no escuro, opções para embrulhos e aplicativos para procurar a estrela no céu. Dar uma estrela de presente é querer dizer: “você agora é imortal. Mesmo depois da sua morte, continuará brilhando no céu, mesmo depois da morte da sua estrela, você continuará brilhando no céu. Seus netos e bisnetos poderão procurar por você lá em cima e de alguma forma se reconfortarem com esse pensamento”. Quando mamãe disser: “vovô virou estrelinha”, ela poderá mostrar qual estrela ele agora é, e se sentir mais verdadeira no uso da metáfora.

4 estrelas chamadas Trump

Há quatro estrelas com o nome Donald John Trump ou Donald J.Trump. Segundo uma matéria da revista americana “New Yorker”, elas foram registradas entre 1988 e 2007. Elaine Slope, uma funcionária do “International Star Registry” (Illinois – EUA), diz na matéria que uma delas é situada na constelação de Perseus, o herói mitológico grego que decapitou Medusa. Há uma Hillary Rodham Clinton na constelação Cassiopeia – nomeada em homenagem a uma rainha vaidosa da mitologia grega. “É interessante que Trump esteja na constelação de um herói e Hillary na de uma rainha”, diz Elaine na “New Yorker”. Só que Trump não deve querer parar por aí, daqui a pouco ele pede para chamar o planeta Terra de Trump.

Nos últimos 37 anos, essa empresa nomeou e registrou cerca de 2 milhões de estrelas. Eu conversei com Elaine, que me informou ter encontrado em seu banco de dados as seguintes celebridades brasileiras com estrelas registradas: Adriana Francesca Lima (constelação Gemini – Gêmeos), Jô Soares (constelação Horologium – o relógio), Pelé (constelação Canis Major – o cão maior), Antonio L. Fagundes (constelação Aquila – a águia), Ayrton Senna (possui duas estrelas na constelação Aquila – águia), Fernanda Nhanhinha Motta (Virgo – virgem), Paulo Coelho (Orion – o caçador mítico) e Giovanna Antonelli (Aquila – águia). As estrelas podem ter sido presentes ou compradas pela própria pessoa. A empresa possui o registro de diversas celebridades internacionais e publica seus certificados na página do Facebook da instituição.

Há uma página em português para vendas ao Brasil, com oferta de R$ 70,00 para o mês de julho. Elaine me esclareceu: “Astrônomos não utilizam os nomes que atribuímos às estrelas. A International Astronomical Union – IAU é o único órgão que nomeia objetos celestes para uso científico e isso é feito com pouca frequência”.

O objetivo de um presente como esse seria o de honrar alguém especial. “Deveria ser um presente lindo e duradouro. Acreditamos que as estrelas não pertencem apenas à comunidade científica, mas sim a todos”, diz Elaine.

Há outras empresas no ramo, mas Elaine defende ser a única com uma listagem pública dos nomes das estrelas e suas coordenadas e oferecer qualidade e experiência: “Estamos nesse negócio há 35 anos e somos membros do Better Business Bureau com um rating A+”.

“Online Star Registry” oferece o registro de uma estrela por US$ 33 dólares. Disponibilizam pacotes de presente por US$ 54 – com certificado, cartinha, desenho da constelação da estrela e sugestões de presentes para datas especiais. Com o aplicativo do site é possível encontrar sua estrela no céu (não testei).

Como mais de uma empresa empreendeu por aí, é possível que a mesma estrela tenha mais de um nome. É um presente simbólico, não há posse legal envolvida. Uma empresa brasileira que oferece esse serviço é a suaestrela.com.br

À primeira vista, confesso que me parece pura vaidade. Mas pode ser um bom presente in memoriam. Se oferecer algum conforto no luto, tá valendo. O luto é dolorido demais para termos qualquer preconceito a respeito.

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banner da “Online Star Registry”