É possível ser enterrado vivo?
Vira e mexe aparece uma notícia de alguém enterrado vivo. Em 2014, repercutiu a história de uma grega que foi declarada morta pelos médicos que a tratavam de um câncer e colocada debaixo da terra. Após a cerimônia do enterro, um grupo de crianças que brincavam no cemitério ouviram seus gritos e chamaram ajuda. Ela morreu sufocada antes de ser resgatada.
O maior problema de ser enterrado vivo é o oxigênio dentro do caixão, que deve durar apenas de uma a duas horas. Por isso, é importante tentar manter a calma, para não acelerar a respiração e gastar essa importante molécula.
O pavor de ser enterrado vivo tem nome: tafofobia. Vem de taphosphobia, taphos dignifica “ caixão” em grego e phobia é fobia. George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, teria tanto pânico dessa situação, que deixou instruções para ser enterrado apenas dois dias depois de declarado morto.
O compositor Chopin também sofria desse mal e pediu para retirarem seu coração quando morresse. Ele teria sussurrado, em seu leito de morte na França, para que seu coração voltasse à sua terra natal, na Polônia. O órgão viajou dentro de um jarro com conhaque (isso em 1849) e até hoje é um totem venerado no país.
No início do século 19, esse medo não era completamente irracional, já que sem o avanço da medicina, diversos casos foram relatados e lendas urbanas eram criadas em cima disso.
A rara doença Catalepsia patológica é tida como ter sintomas que podem ser confundidos com um defunto, pois há baixa drástica de sinais vitais e a pessoa aparenta morta. Mas com as técnicas atuais da medicina, seria muito difícil cometer esse erro.
Edgar Allan Poe explora esse tema no conto “O Enterro Prematuro”, narrado em primeira pessoa por um homem que sofre de catalepsia e teme ser enterrado vivo. Sendo Poe, imaginem o que acontece com o homem. “Em A Queda da Casa do Uscher”, a irmã do protagonista tem crises de catalepsia e acaba sendo enterrada viva pelo próprio irmão. Já no conto “ O Barril de Amontillado”, Poe explora uma espécie de “enterrada” como uma forma de vingança contra uma ofensa.
Se você tiver a infelicidade de estar numa situação dessas, há algumas dicas úteis: tente manter a calma para não consumir o oxigênio rápido demais. Medite, ore, entoe mantras, tudo isso. Tente quebrar a tampa do caixão com um anel, como aliança, ou fivela do cinto e use os pés – chutando a tampa. Use sua camiseta para proteger seu nariz e a boca da terra que cairá com tudo e poderá te sufocar. Quando a tampa se romper, não pare de se mexer – sente-se no caixão e use os pés para impulso contra a terra.
Se você tiver sorte, poderá ser “salvo pelo gongo”. A expressão deriva daí. Amarrava-se uma espécie de barbante no braço do defunto, interligado a um sino na superfície. Se os coveiros escutassem um badalo, salvariam o “morto”. O celular parece ser uma versão contemporânea disso. A tanatopraxista Nina Maluf me disse já ter tido uns 12 clientes que, por vias das dúvidas, foram enterrados com seus telefones. A bateria cheia. “O último foi um super celular irado, dá a maior dó”, lamenta.