O cemitério mais alto do mundo é brasileiro
O cemitério mais alto do mundo é brasileiro e fica em Santos, São Paulo. Quem afirma isso é o próprio cemitério, o Memorial Necrópole Ecumênica de Santos fundado em 1983 por Pepe Altstut e o “Guinness Book of Records” – com registro desde 1991. O cemitério de Pepe tem fonte, lagoa com carpas, tartarugas, um viveiro com pavões e faisões e um criadouro de araras regulamentado pelo Ibama. O prédio de 14 andares tem ares mais de hotel do que de cemitério. É um espaço para abrigar lembranças empilhadas em forma de ossos, para receber o luto e a saudades. Um novo prédio, em construção, terá 32 andares e 108 metros de altura.
Esse conceito é chamado de “cemitério vertical”, são prédios que abrigam cadáveres em lóculos (gavetas) conectados por tubos para a saída de gases provenientes do processo de decomposição, evitando o mau cheiro. No Estado de São Paulo há outros do tipo, como o Phoenix Memorial do ABC em Santo André, projetado pelo arquiteto Carlos Bratke, o memorial do Alto Tietê em Suzano e o Memorial Guarulhos.
Pepe diz que nossa relação com a morte tem se modificado ao longo dos anos. “Estamos desmitificando esse momento tão difícil, porque é um processo muito agressivo e as necrópoles normalmente são muito frias, não acolhem. Mas o processo pode ser menos traumático em lugares como esse” .
Ele considera o cemitério vertical uma tendência mundial do setor funerário, por não poluir o meio ambiente como o enterro, independer do tempo, como chuva e possibilitar maior segurança para as pessoas. Seu prédio é todo monitorado por câmeras.
A cremação também seria uma tendência forte. “Temos o primeiro crematório privado do país”, diz Pepe. E ressalta ser interessante termos um local para guardar as cinzas, para podermos ir “visitar” o morto e não termos que levar as cinzas para casa. Esse espaço é chamado de Columbário, ele é cobrado e acaba sendo uma fonte de receita importante para os cemitérios.
O interesse pelo negócio de Pepe surgiu da vontade de retribuir a receptividade que recebeu dos brasileiros quando imigrou da Argentina aos 25 anos (hoje ele tem 78). Pepe é ligado em esportes, patrocina 150 atletas – por exemplo, na equipe do campeonato brasileiro de ciclismo e nas paraolimpíadas.
Seu ambiente, além de acolhedor, deve ser igualitário. “No meu cemitério, não existe pobre nem rico, é tudo padrão”.
A padronização dos túmulos é uma marca da modernização, já que no passado, esses espaços eram usados justamente para mostrar a relação de poder entre as famílias. Quanto maior o poder, maior o mausoléu de um nome.
Outra tendência do setor funerário são os cemitérios jardins, como o Cemitério Cerejeiras, no Jardim Ângela, que também padronizam os túmulos tirando esse aspecto de poder social.
Pepe diz ver a morte como uma etapa da vida e não o fim em si. Católico, acredita na vida após a morte e espera um dia reencontrar sua mãe, que dá nome à gruta do local.
E o luto? “O luto é a perda do nosso público. Nossos familiares são nosso público, são o público da nossa vida. Quando perdemos uma pessoa querida, perdemos parte do público e perdemos um pouco da motivação da vida”. Nesse sentido, seu cemitério é um prédio de audiências perdidas, que ganharam de presente, uma linda vista.
Veja um vídeo produzido pela revista eletrônica inglesa, AEON, sobre esse cemitério, clicando aqui.