Velório drive-thru – parte 2

Segundo o “The Japan Times News”, o Japão testará um novo tipo de serviço funerário: o drive-thru.

Ele será voltado, inicialmente, para os mais velhos, que apresentam dificuldade de locomoção, por exemplo. Na cidade onde o serviço será testado no final desse ano, Nagano, 30% da população tem mais de 65 anos.

Os amigos e familiares poderão assinar a lista de presença por uma janela, acender um incenso eletrônico e entregar o “dinheiro de condolências” por ali mesmo, conforme o costume japonês.

Talvez, seu objetivo principal seja mesmo diminuir o tempo gasto nesses rituais, em uma versão fast food da morte, indo contra toda uma tendência de humanização do setor funerário.

Mas isso não é novidade no mundo, já que nos Estados há pelo menos duas funerárias com o serviço, como comentei no post “Conheça o velório Drive Thru”, de 2015, abaixo. Vou retoma-lo aqui, porque a história de uma delas é interessante e eu sigo com o mesmo pensamento que expus no conclusão desse texto. O drive-thru é mesmo de arrepiar.

Conheça o velório Drive Thru, Camila Appel, 2015.

Existem pelo menos duas funerárias no mundo que optaram pelo drive-thru para seus velórios. O caixão fica exposto enquanto os visitantes desfilam em seus carros, dão uma espiadinha, quem sabe comentam sobre como a pessoa parece pacífica, do que morreu, se sofreu, assinam o livro de visitas e seguem para o próximo compromisso.

Hoje em dia fala-se em velórios com opção via Skype (principalmente para pets), para propiciar esse momento aos que moram longe, mas o drive-thru ainda não despontou no Brasil. A iniciativa da primeira funerária a adotar essa prática não é recente nem tem a ver com a correria que associamos à modernidade.

A funerária Robert L. Adams existe desde 1947 e o êxito de sua empreitada pode ter vindo da extrema violência do bairro onde está localizada, em Los Angeles – em uma região dominada por gangues na década de 80. Os enterros tradicionais eram perigosos devido aos tiroteios que seguiam a morte de um membro de uma gangue. Era mais seguro não sair do carro. O vidro que protege os caixões é à prova de balas até hoje.

O fundador da funerária foi exposto numa janela do seu drive-thru quando morreu, em 2005. Sua esposa, Peggy Scott Adams, cantora gospel já indicada ao Grammy, é quem passou a tocar os negócios. Ela canta nos velórios, quando solicitada.

Atualmente, essa opção encontra sua razão de ser na correria do dia a dia, ou mesmo no desconforto de ir a um velório e encarar a tristeza da finitude.

A notícia da Reuters – fonte das fotos abaixo – indica que a cultura do sul da Califórnia é dominada por carros e não ter que procurar por um estacionamento seria visto como uma vantagem.

Uma funerária de Michigan, Paradise Funeral Chapel, que adotou a prática em 2014, coloca como seu motivo principal propiciar maior conforto àqueles com limitações físicas, como a dificuldade de locomoção dos mais velhos. E aposta nessa tendência para o futuro, por ser mais confortável para as famílias e conveniente aos visitantes – eles assinam um livro constatando sua presença e condolências. Em reportagem para o “Global News”, seu diretor atira: “experimente antes de julgar”.

Eu vou ser um pouco mal-educada e partir direto para a segunda parte. Essa versão fast food da morte é de arrepiar e poderia ser mesmo uma tendência se pensarmos na história da morte no Ocidente e a transferência do morrer da casa das pessoas para o ambiente hospitalar. O que já indica um afastamento do morrer e o isolamento gritante daqueles em fase final da vida. Torço para que o futuro delineie outro cenário. Ao invés de fast food, tenhamos um velório mais para gourmet, personalizado e desenhado especificamente para ajudar aquela família e seus amigos e elaborarem o luto e a finitude com a mesma grandeza que procuram elaborar um nascimento.