México: Alegria substitui melancolia no “Día del Muertos”
Desde o século I, cristãos rezam celebrando a vida eterna dos entes falecidos, mas só no século XIII, estabeleceu-se um dia específico no ano para isso. Dizem que o ritual iniciou-se quando um abade do mosteiro de Cluny, na França, ordenou que os monges orassem pelos mortos. A oração virou uma tradição, até que se escolheu uma data para fixá-la, que foi um dia após do Dia de Todos os Santos, 1° de novembro, onde celebra-se os que morreram em estado de graça e não foram canonizados.
No México, o Dia dos Mortos é comemorado em 2 de novembro, numa festividade que se inicia em 31 de outubro. A tradição diz que os mortos vêm para visitar seus parentes e recebê-los é motivo de festa nesse país. Há bolos, caveiras de açúcar – que normalmente têm o nome dos defuntos, música e flores coloridas. As almas das crianças viriam visitar no dia 1 de novembro e as dos adultos, no dia 2.
Antes da colonização espanhola, os mexicanos acreditavam que o futuro dos mortos eram definido pelo tipo de morte que tiveram e não pelo comportamento em vida, como acredita a Igreja Católica, com a noção de céu e inferno. Assim, para esse povo, a alma iria a um mundo específico de acordo com o tipo morte. Por exemplo, quem morreu de algo relacionado á água, como afogamento, iria para o paraíso Tialoc, Deus da Chuva. E quem morria em combate, iria para o paraíso do sol, governado pelo Deus da Guerra, Huitzilopochtli. A celebração da festa dos mortos era feita por volta de 5 de agosto. Mas quando os espanhóis chegaram, fizeram com
que coincidisse com os rituais católicos do Dia de Todos os Santos e Dia dos Fieis Defuntos, 2 de novembro.
Dois fotógrafos brasileiros estão no México registrando essa festividade. Clayton Khan e Duda Maués se dedicam ao projeto “Escaping from Life”, desde 2015, fotografando cemitérios ao redor do mundo para retratar o lado cultural da morte,
Clayton e Duda dizem que esse projeto surgiu com a finalidade de “transmitir por meio das artes visuais a naturalidade da morte e os ensinamentos que a diversidade cultural nos ambientes de sepultamentos podem ensinar a partir de suas manifestações artísticas, preservação do patrimônio histórico, cultural e familiar de cada local. Em qualquer canto do mundo, a cultura de cada lugar dita a forma como vamos ser sepultados e também diz muito sobre como a família viverá o luto”.
A dupla escreveu o blog para contar um pouco o “Día Del Muertos”. Clayton Khan, 34 anos, é formado em jornalismo, pós-graduado em comunicação empresarial, fotógrafo e professor universitário. Duda Maués, 22 anos, é fotógrafo e graduando em publicidade e propaganda.
México: Alegria substitui melancolia no “Dia Del Muertos”
Por Clayton Khan e Duda Maués
Bem diferente dos cemitérios brasileiros, tomados pela melancolia e enxurradas de flores e velas no Dia de Finados – 2 de novembro, no México, diversas festas e alegrias invadem todos os lugares, principalmente as ruas. A tradicional comemoração do Día del Muertos celebra a visita das almas à Terra.
A festa, que acontece entre os dias 31 de outubro a 2 de novembro, é uma das maiores celebrações do país e é considerada pela Unesco como patrimônio da humanidade. O festival reúne famílias, amigos e os já falecidos, é claro. Os mexicanos recebem as almas dos entes queridos com muita animação, comidas e bebidas típicas, fantasias e altares repletos de muitas cores.
Com o projeto “Escaping from Life”, em seus quase dois anos de vida, já passamos por vários países retratando a morte em suas diversas culturas, mas nenhuma se compara com a intensidade, emoção e espontaneidade dos mexicanos em viver este assunto, que para a maior parte das pessoas, é um verdadeiro tabu.
Diversos carros alegóricos e milhares de pessoas saem às ruas fantasiadas e com os rostos pintados para celebrarem a vida na morte. Um dos símbolos mais famosos da celebração é a caveira mexicana La Catrina, que inspira pessoas de muitos países com suas cores, graça e beleza. O evento é quase o nosso carnaval brasileiro, mas com apenas um enredo, a alegria na morte.
Durante o desfile de celebração deste ano, um grupo emocionou a todos ao lembrar dos heróis do recente terremoto que ocorreu no dia 19 de setembro na Cidade do México, com magnitude 7,1, que matou 338 pessoas e deixou dezenas de edifícios totalmente destruídos. Em nosso trajeto pela capital, ainda é possível observarmos grandes marcas deixadas pelo forte tremor.
Não podemos esquecer da gastronomia mexicana que encanta pelos sabores e cores, e neste período, tudo ganha mais brilho e vida, mesmo quando se festeja a morte. O café da manhã se inicia com uma iguaria, o famoso pan de muerto, que leva erva doce, raspas de açúcar e pode ter o formato de caveira. Adoçar o chá ou café tem um toque totalmente especial, com pequenas caveiras de açúcar.
Claro que nossa passagem pela capital do México resultou em uma bela visita ao famoso Panteón Francés de la Piedad, onde descansa Roberto Bolãnos, mais conhecido no Brasil pelos personagens Chaves e Chapolin Colorado. Já eram quase 18h do horário de inverno local, quando uma sagrada e forte chuva encerrou nossa passagem pelo barril eterno do grande artista.
Nossa experiência por aqui ainda não terminou. Apenas um ano é muito pouco para descobrir e desvendar todos os encantos e mistérios dessa grandiosa festa que celebra o Dia dos Mortos. Talvez necessite uma vida inteira, ou mais.
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