Uma poesia para cada dia que resta
Rodrigo nasceu em Belo Horizonte, há 45 anos. Hoje, mora em São Francisco, Califórnia, onde trabalha como engenheiro de software. Foi ali, no escritório, que recebeu o resultado de um exame anunciando: câncer pancreático, metastático. “No dia que escutei a notícia foi um pânico, desespero. Me ligaram falando que havia algo muito sério e que o laudo estava online. O laudo falava em câncer pancreático com grandes chances de metástase. Olhei as estatísticas de sobrevivência e vi que eram em meses e não em anos. Fui para casa chorando, mas minha esposa me ajudou muito. Aceitei relativamente rápido meu destino. Tá, não gosto dessa palavra, mas pode ser sim, vai: destino”.
Era pouco antes do Natal, 2017. Rodrigo foi a um dos mais renomados cirurgiões pancreáticos, em Stanford, que disse: “não há esperança de cura”—não era viável operar o tumor. Mas Rodrigo queria mais. Final de ano não é um bom período para o pai de duas meninas desaparecer. Final de semestre, trabalhos na escola, perguntas que ficariam sem respostas. Ele decidiu adiar o fim ao máximo, tentar os tratamentos possíveis, lutar.
Os caminhos que podem ser percorridos nessa “luta” exigem uma conversa sincera e honesta com o médico. Esse tipo de conversa é um hábito nos Estados Unidos, uma regalia no Brasil. Ele trocou de oncologista no meio do caminho, após a oncologista inicial dar por encerrado o tratamento. “O oncologista atual, do fim, é ótimo. Pão, pão, queijo, queijo. Compartilhou comigo a escolha do tratamento. Ele me deu três alternativas, contou os prós e contras de cada uma e me deixou escolher. Cada semana eu ia lá e conversava sobre o tratamento com ele. Com a piora do meu quadro, ele apontou a alternativa da sedação definitiva. Aqui, essa sedação é uma coisa delicada. No Brasil, é bastante comum.”
Durante nossa conversa, fiquei sensibilizada com sua postura serena, lúcida e positiva perante a proximidade da morte. Ele se sente honrado por ter tido esse tempo, esse um ano e pouco entre o diagnóstico e o momento atual, que é mais definitivo. Se sente abençoado por ter tido tempo para preparar sua morte, sua despedida. Um ataque cardíaco, por muitos considerado uma morte desejável por ser rápida, é visto por ele como ruim. Seu pai morreu assim, de repente, passeando em Goiânia. Rodrigo vê sua vida entre aquele dia no escritório e o hoje como um presente, com a consciência de que cada dia a mais vale a pena.
“É como se eu tivesse morrido e ganhado um bônus para usar da melhor forma possível. De um lado, eu comecei a fazer tudo como se fosse possível ter uma cura. Já do ponto de vista filosófico e psicológico, de auto conforto, eu pensava que mesmo tendo um tempo limitado, tive o benefício de ter tido a notícia antes de morrer. Eu usei esse tempo que eu ganhei para escrever dois livros, melhorar o relacionamento com minha esposa, e cuidar de coisas práticas, como ter certeza de que ela e minhas filhas estarão bem providas materialmente”.
Parte dessa atitude positiva pode vir da transmutação da dor oferecida pela poesia. Rodrigo começou a escrever, sob pseudônimo, um livro de poesias e crônicas (disponível gratuitamente aqui), como esta a seguir e outras que inseri ao longo desse artigo.
Graaaaaaande vantagem
A grande vantagem deste livro sabe qual é?
É que, a ele, ao contrário do outro, nunca me falta inspiração.
Se era pra escrever poesia e à cabeça me vem prosa,
Vai a prosa formatada como poesia, e pronto: está feito.
Aliás, vou lhe contar um segredo: não espalhe, sim?
Este livro é meio como o livro de areia, de Borges:
Dele parecem brotar as páginas, assim, sem mais,
Sem ordem definida, ou, sequer, um propósito claro.
Eu desconfio que no real seja ele mesmo que escreva-se,
Pelas madrugadas afora, enquanto durmo o sono dos justos.
Ah, e sabe qual é outra coisa que brota enquanto durmo?
O meu tumor pancreático. Eu o chamo de Ático, pra simplificar.
Ático, Ático, abane a cauda. Bom menino. Agora finja-se de morto!
Ó: em vez de venenos, dou-lhe açuquínhar. Não fingiu, o maldito.
Ando desconfiado de que ele não é cão, e, sim, uma píton reticulada.
Que diabo de cachorro tem, de uma só ninhada, oitenta filhotes?
Conforto espiritual
Rodrigo buscou conforto espiritual durante o tratamento, apesar de não ter uma religião específica. Fez, por exemplo, um curso de introdução ao zen-budismo, num mosteiro da região. “Eu gosto de elementos de várias religiões. Um aspecto que eu gosto do budismo é o das pessoas passarem por um processo de melhoria. Estamos aqui por uma razão e isso vai gerar um crescimento para nós e para as outras pessoas. Gosto também do amor incondicional do catolicismo. Essa é a base da igreja e as pessoas esquecem. Ficam nesse nós e eles. O que não gosto do cristianismo é o inferno. Isso não deveria existir na religião. Ela deveria ser motivada pelo amor e não pelo medo”.
Autonomia na morte
Hoje, Rodrigo está em casa sob cuidados do Mission Hospice. Ele avalia a possibilidade de um suicídio assistido, como é chamado na maioria dos países. Rodrigo não gosta da terminologia. Ele tem razão, é horrorosa. A Califórnia a chama de “end of life act”. O paciente tem o direito de levar um remédio letal para casa e tomá-lo no momento que achar adequado. O coração demora aproximadamente 30 minutos para parar de bater. Na Suíça, é questão de segundos. Rodrigo já resolveu a parte burocrática do “end of life act” e tem essa opção à sua disposição. Outra alternativa que lhe parece mais palatável é a sedação definitiva. A pessoa é sedada profundamente, de uma maneira que, em geral, leva à morte em alguns dias. É uma alternativa legalizada no Brasil e bastante usada. Em muitos casos, sem o consentimento do paciente. “Eu me sinto no controle desse quando (da morte). Eu tenho duas opções para isso: o remédio de fim da vida e a sedação definitiva. Os dois estão esquematizados pela parte burocrática. É uma questão de decidir quando. Vai depender de quanto tempo eu ainda terei com razoável qualidade de vida, conversando com as minhas filhas, minha esposa, minhas irmãs, lendo algo legal, escrevendo… O que me leva pois a contemplar essa possibilidade é ver que essa minha qualidade de vida nessas últimas semanas piorou bastante”. Ter qualidade de vida para Rodrigo é poder conversar, estar bem ao lado da família, enfim, não estar em um “inferno”, vomitando, com dores, azia, diarréia…
Leia mais sobre esse tema na categoria eutanásia e suicídio assistido no blog.
A jornada até essas “últimas semanas” foi intensa. Ele tentou vários tratamentos possíveis, quimioterapias, terapias direcionadas e uma imunoterapia, até que seu corpo parou de reagir aos tratamentos.“Fiz 5 regimes de tratamentos diferentes. É muito raro isso. Os dois primeiros foram cobertos pelo seguro de saúde do meu emprego. O terceiro foi gratuito, porque era experimental, bancado por um laboratório grande. O quarto e quinto, mais heterodoxos, foram com seguro parcial”. Quando o médico disse que não havia mais opções para ele, pensou: “agora é uma questão de avaliar a qualidade de vida. Eu vou ter majoritariamente dias que valem a pena viver ou dias que não valem a pena?”
Rodrigo foi o cuidador primário da sua mãe—que morreu de câncer um ano e meio antes de seu diagnóstico—na última semana que ela passou em casa. “Eu fui também a pessoa que estava ao seu lado no momento da morte. O processo de ter que lidar com sua doença foi mais doloroso do que ter que lidar com a minha própria doença. Primeiro porque a sobrevivência no meu caso era difícil desde o início, mas não impossível. Embora estejamos falando de 1 ou 2% de taxa de sobrevivência a longo prazo, havia uma esperança. É um mecanismo de autopreservação. Eu entrei nesse modo. De luta, de tentar de tudo. Essa luta pela sobrevivência absorveu muito da minha energia”.
Somos condicionados a ver a morte como uma inimiga. Em diversos obituários ainda se lê: lutou contra um câncer até o final mas não aguentou, perdeu a vida para um câncer, batalhou até o fim. A morte de alguém doente, como ocorre na maioria dos casos e muito provavelmente será o meu destino e o do leitor, traz em si essa teoria cinematográfica da trajetória do herói. O herói vence a morte. O anti-herói é vencido por ela, definha, morre. O curta metragem “A Senhora e a Morte” faz uma caricatura desse momento, colocando o médico como um ser nada simpático, a lutar contra a morte a qualquer custo.
Rodrigo não vê seu tratamento como uma perda, apesar de usar a palavra “luta”. Ele vê seu tempo, e cada dia que passa, como uma conquista. Ele quer decidir como e quando morrer. Ele possivelmente sentiue sente um desconforto que muitos de nós nem consegue imaginar. Mas ele aprecia cada bom momento que passa com sua família e com os amigos. Cada momento que compartilha, cria. Não se contentaria com menos do que isso. Não é possível saber se Rodrigo ainda estaria vivo sem os 5 tratamentos a que se submeteu. Inclusive, ele não poderia ser julgado caso tivesse optado por nenhum. Ele não teria desistido ou deixado de lutar. Essa ideia de “perdedor” é um estigma, uma construção social que se transforma ao longo do tempo. Para mim, essa história é um convite à reflexão sobre autonomia, escolhas, e a forma como nos comportamos perto de alguém diagnosticado com uma doença sem cura. E, claro, uma valorização da vida, dure quanto durar.
Conte praquelas suas amigas que reclamam dos maridos
Que o menino
Mesmo cancerígeno
Mesmo pancreático
Mesmo envenenado
Mesmo irreativo
Mesmo semivivo
Mesmo operado
Mesmo metastático
Mesmo sem antígeno
Mesmo nesta briga
Mesmo tão pequeno
Mesmo tão doído
Mesmo tão drogado
Mesmo enjoado
Mesmo mal-dormido
Mesmo com preservativo, a não lhe passar veneno
Mesmo com dezoito anéis de ferro na barriga
Ainda agora, quiçá depois
Lhe causa, sem mais, um bom orgasmo ou dois.
No caso, dois.
Abaixo, um pouco mais da nossa conversa.
O que você acha da ideia da imortalidade?
“Toda vez que me perguntam sobre isso, eu penso nas semanas mais horripilantes que eu passei. Combinação de dor, náusea, vômito, diarreia. Eu tenho mais horror a esse cenário, da pessoa presa em uma situação de que ela não pode sair. Acho a imortalidade extremamente perigosa nesse sentido. Não gosto também da ideia de uma imortalidade imóvel, como no cristianismo, onde você atinge um estágio de plenitude, final e imutável. Mas aceito a imortalidade se for uma imortalidade com evolução contínua, aprendendo coisas novas, melhorando”.
Arrependimentos?
“Todos. Eu queria ter tantas outras vidas para viver. Explorar outras possibilidades. E se eu tivesse feito isso diferente, ou aquilo? A vida é como fluir rio acima. Na medida em que ficamos mais velhos, vamos estreitando os afluentes. O ideal seria conhecer todo o rio, todas as nascentes. Arrependimento não é a melhor palavra, mas eu teria vontade de experimentar como seria a vida se eu tivesse feito outras escolhas. Não necessariamente as grandes decisões: as pequenas, as que parecem insignificantes. Eu tenho saudades do futuro, desse futuro do pretérito, do que podia ter acontecido, sabe? Honestamente, eu não estou angustiado, amedrontado… eu já estive psicologicamente muito pior do que estou agora. Mas eu queria ter feito mais na vida. Me deixa chateado não poder passar mais tempo com as minhas filhas, minha esposa, minhas irmãs, amigos, família… É chato saber que meu tempo agora é muito limitado. Eu queria ter realizado aqueles sonhos de criança, sabe?—como escalar o Aconcágua”.
Como seus amigos estão reagindo?
“Eu gosto de receber visitas. Escrevi uma crônica sobre isso que se chama Bem-vindo ao meu funeral. O amigo do seu amigo, por exemplo, fica sabendo e quer virar seu melhor amigo de repente. A pessoa faz aquilo na melhor das intenções. Muitos chegam com sugestões para dar. Por exemplo: uma amiga de infância que eu não via há décadas quis me levar no João de Deus. A irmã de um amigo disse: coma casca de limão. Outro amigo mais recente sugeriu brócolis e cúrcuma. E houve ainda um que prescreveu dois banhos frios por dia. Ah, e uma tia quis mandar nove sacos de folha de graviola do Brasil. Recebi dicas até de cogumelos alucinógenos. É uma preocupação sincera das pessoas, que eu tomo como uma prova de amor. Mas vou e guardo com carinho na minha lista de sugestões heterodoxas”.
Bem-vindo ao meu funeral
Ele não deveria estar ali, no regrado,
Mas é ali que clinica a massoterapeuta.
E ela é a única que o põe no ângulo certo e aplica a pressão certa
Sobre uma barriga com tumores tantos e tais.
Então lá vai ele pelo pátio principal da Corporação,
Apressado, em meio à sua licença médica.
Proibido não é, mas roga aos Céus que não o vejam
Os colegas vários que por ali almoçam.
Não é um colega, é um amigo da família que ali trabalha
Quem vem mais adiante pelo caminho, em conversa com um outro.
Está distraído. O verá? Será que o verá? Por certo o verá.
Ele sabe pela esposa dos detalhes da doença. Pronto: o viu.
Do dito se altera completamente o semblante: está consternado.
Ele pede licença ao outro e abre bem os braços, em exigência de firme abraço.
“Não, um sorriso por favor, meu caro, que ainda não é hoje o meu funeral.”
Só que claro que não, né, leitor? Seria uma grosseria sem tamanho.
“Eu lamento profundamente, sim? E a família como está?”
“Aqui: está tudo bem conosco. Estamos encarando da forma mais positiva possível.”
“Olhe, pois nós estamos orando muito por vocês. O que precisarem, é só dizer.”
“Estamos todos bem, de verdade. Mas muito obrigado pelos préstimos.”
Ele olha ao redor, de soslaio.
Ufa: ninguém conhecido parece ter notado a cena.
Imagine se logo além da quadragésima versão daquilo,
Estivessem a quadragésima-primeira, a quadragésima-segunda…
A verdade é que o amigo também não tinha remédio.
Fazer o quê? Dar-lhe um simples bom dia? Seguir adiante?
E quem é que mostra os dentes diante de um condenado?
Ele fez o estritamente sensato, se não exatamente o sensível.
“Olhe, um santo remédio pra isso, sabe qual é? O chá de folha de graviola.”
“Não, chá de casca de limão. Aliás, coloque casca de limão em tudo o que você puder.”
“Ó, não sou médica, mas aí vai um artigo que me parece excelente. De todo, não o li.”
“Dois dias de jejum antes da quimio, e um depois. Banho, só gelado, duas vezes por dia.”
“Cem gramas ou mais de brotos de brócolis por dia. E três gramas de curcumina.”
“Ah, o melhor é você seguir logo os conselhos do Doutor Lair Ribeiro.”
Tá, o Lair Ribeiro foi um exagero retórico. Um pequeno exagero retórico.
Mas o resto é só pra ficar nos parentes mais próximos e amigos mais sinceros.
Unguentos. Emplastos. Ervas. Ninguém diz nada disso por mal.
Aliás, este que vos fala é que deveria ser menos ingrato, honestamente.
E tomar cada receita tal por aquilo que por fato ela é:
Uma prova de que com ele se importam a valer os parentes, os amigos.
Oxalá jamais ponha o bom Deus em seu caminho tal prova, leitor.
Mas, se assim calhar, aceite o seguinte conselho:
Responda cada sugestão dessas com um sincero sorriso,
E use a parca energia que lhe resta para fazer o que lhe diz a oncologista, a nutricionista…
Por você ser jovem, as pessoas parecem se espantar mais?
“Talvez a reação seja mais intensa. Mas pouca gente tocou nesse aspecto específico. Me incomoda quando alguns falam: ‛não se preocupe, vai dar tudo certo, você vai se curar, tem que confiar no milagre, o segredo da cura é confiar que ela vai acontecer’. Eu sou um engenheiro, de coração. Eu acredito em estatísticas, seguir o que tem uma probabilidade minimamente razoável de acontecer. Eu não vou bater boca com ninguém por isso, mas ser relativamente jovem faz diferença nesse sentido. As pessoas chegam mais com essa conversa: você sai dessa. Eu não quero negar, quero lidar com o problema. A negação é chata e improdutiva”.
Quais diferenças você vê entre o tratamento no Brasil e nos Estados Unidos?
“Nos Estados Unidos, o tratamento em si é muito mais ágil, há mais opções. A pessoa está muito mais no controle. No Brasil, o oncologista falava o que tinha que fazer e ponto final. Aqui, nos EUA, tem uma troca. Pode ser uma questão cultural e até por razões legais. Minha mãe demorou dois meses para começar a se tratar. Eu estava no cirurgião na mesma semana do diagnóstico. Na semana seguinte estava começando a quimio. Mudei de oncologista no meio dos tratamentos. Mudei porque a primeira oncologista já não acreditava mais no tratamento. Não vou continuar com uma pessoa que não acredita no tratamento corrente e nem quer propor soluções alternativas. Mudei para outro médico com muita facilidade. Na semana seguinte, já estava começando outro tratamento. Essa facilidade de ter uma segunda opinião, terceira opinião, mudar de médico, é maior aqui, nos Estados Unidos”.
O que a convivência com a terminalidade nos ensina?
“A gente tem um mecanismo de defesa que não nos deixa pensar demais na morte. Ter um prazo concreto para a morte remove esse mecanismo de defesa e nos obriga a lidar com a morte como algo real. Serve para colocar a vida em perspectiva e pensar no imponderável, imaginar o que eu desejo para o provir, as alternativas que eu admito como desejáveis. E também para focar nas boas memórias, lembrar das minhas filhas quando eu as segurei em uma mão só, na maternidade. Eu penso muito nas minhas filhas como algo que, por si, já me valeu a vida. Uma das contribuições principais que eu deixo são essas duas mulheres… São ótimas, inteligentes, divertidas, e têm uma consciência social, uma consciência do papel que elas têm nesse mundo”.
Décimas do velho e bom Mestre Zossima
Ó, uma coisa me parece provável nisso tudo:
ou bem o barco flutua, ou bem ele afunda.
E, se ele flutua, ele flutua para todos.
E, se ele afunda, ele afunda com todos.
Por isso, pare de desejar que a água mine
Bem aos pés daquele seu vizinho mais chato.
Sim, que ele é chato, é chato. Eu concordo.
Ô pela-saco, meu Jesus Cristo.
Mas a enxutez, ou é para todos,
Ou é por um tempo bem limitado.
Então, por caridade, pelo bem da harmonia cósmica,
Tenha muito cuidado no você espera que aconteça, sim?
E como eu sei disso?
Bom, eu não sei. O principal da estória toda é que eu não sei.
Outro dia me apareceu alguém num sonho dizendo que se chamava Universo
E ele me disse que essa aí era a verdade. Mas vá se saber.
Outra coisa que ele me disse:
Que cada um, do seu particular ponto de vista,
Rema na direção que lhe parece mais promissora,
E o mar é quase que uma imensidão redonda, e só.
Por isso a resultante do esforço é muito pequena.
Bom, é pequena se comparada ao esforço.
Mas fato é que, se ninguém puser força no remo,
O barco seguirá à deriva.
Por isso reme, leitor.
E se a direção adiante não lhe parece frutífera,
Esprema-se por entre os demais,
E ache uma nova direção.
Reme e reze, mas reze por todos. Por todos, sim?
E peça perdão até aos passarinhos do bom Deus.
“Quem acredita no povo de Deus verá Sua glória,
Mesmo se antes não acreditasse em Deus.”
Essas são as exatas palavras do velho e bom Mestre Zossima.
“Nosso povo resplandecerá na face da terra e todos os homens dirão:
A pedra que os construtores rejeitaram,
Essa veio a ser a principal pedra, angular.”
“E lembre-se principalmente de que você não pode ser juiz de ninguém.
Pois na terra não pode haver juiz de um criminoso, antes de esse juiz compreender:
Ele mesmo é tão criminoso quanto aquele que comparece na sua frente,
E talvez ele seja o primeiro culpado pelo crime.”