Como as redes sociais tentam prevenir o suicídio
A psicóloga Karen Scavacini faz parte de um grupo de especialistas internacionais que se reúne para discutir como o Facebook, o Instagram e o Google podem criar ferramentas para tratar saúde mental nas redes.
Ela decidiu se especializar em suicídio durante um mestrado em saúde pública, com ênfase em saúde mental, na Suécia. Percebeu a gravidade do assunto, as chocantes estatísticas e a falta de preparo no Brasil para lidar com o tema. Ela trouxe vários aprendizados, como a ideia de se trabalhar, além da prevenção, a posvenção do suicídio, que é o tratamento dos familiares daqueles que morreram, algo até então inexistente no Brasil.
Karen fundou o Instituto Vita Alere em 2013. Nesses 6 anos, sua atuação saltou de minúscula para uma das grandes parceiras nas principais escolas particulares de São Paulo e na discussão sobre segurança no grupo Facebook, Instagram e Google. Ela faz parte do Safety Advisory Comitee do Facebook. É um conjunto de especialistas que se reúnem para discutir questões gerais sobre segurança, bem-estar, formas de ajudar alguém em risco e prevenção do suicídio.
“A gente discute todo tipo de questão, como as fotos de automutilação por exemplo. Se determinadas fotos devem ou não permanecer, se deveríamos colocar um alerta, as nuances que devem ser levadas em conta… para que todos possam se comunicar de forma saudável nas redes. Também falamos sobre como ter ferramentas de escala global. Não adianta trazer soluções que sejam difíceis de serem reproduzidas”, diz Karen.
Um exemplo foi a retirada do placar de likes no Instagram.
O Facebook tem canais de denúncias de potenciais suicidas há 3 anos. O usuário pode enviar um sinal de alerta quando ver uma publicação com tendência ao suicídio.
Uma equipe recebe esse alerta e analisa a postagem. Enviam uma mensagem de ajuda para saber se a pessoa quer conversar com o CVV e fazem a conexão. Oferecem um kit de informações sobre onde receber ajuda e, em alguns casos, podem acionar a polícia ou os bombeiros, se for detectado risco iminente.
Veja a central de ajuda do Facebook para prevenção do suicídio aqui.
Karen também é uma “revisora confiável” do Youtube. Ela tem um acesso específico que a permite marcar vídeos potencialmente prejudiciais para serem analisados.
Uma novidade
Um algoritmo específico do Instagram identificará postagens que indicam bullying. Nesses casos, uma tela irá perguntar ao usuário: “tem certeza?”, para as pessoas terem um momento para repensar a postagem. Essa ferramenta está em processo de implementação.
Suicidio diminui no mundo mas cresce no Brasil
A Organização Mundial de Saúde definiu o 10 Setembro como o Dia Internacional de Prevenção do Suicídio. No Brasil, o Centro de Valorização à Vida se uniu com a Sociedade Brasileira de Psiquiatria para aproveitar a data e estabelecer o mês todo de conscientização, o chamado Setembro Amarelo.
Em relação ao Setembro Amarelo do ano passado, Karen vê uma maior discussão pública sobre o assunto. As universidades e empresas também parecem mais engajadas e preocupadas em tratar disso com responsabilidade.
O suicídio tem diminuído em algumas partes do mundo, principalmente em países desenvolvidos. Mas no Brasil, ele está aumentando. Não só os suicídios, mas como as tentativas.
Algo que tem chamado a atenção, em termos mundiais, é que na faixa dos 16 anos meninas e meninos tem morrido por suicídio na mesma proporção. Algo que ainda não acontece no Brasil. “Ou os meninos estão procurando ajuda ou as meninas começaram a usar métodos mais letais”, explica Karen.
O suicídio tem crescido de forma abrupta entre um grupo específico: os jovens.
O aspecto cultural é importante. Os adolescentes têm muito medo de receber um diagnóstico de depressão e serem medicados. Ainda há estigmas negativos relacionados a transtornos mentais.
Karen vê uma certa romantização da adolescência por parte dos adultos. “Fazemos uma grande confusão sobre a adolescência ao acreditarmos ser normal os jovens se sentirem mal. Normalizamos e banalizamos o adolescente que está angustiado”.
Neste domingo, 8, o Facebook e o Instagram realizam, em parceria com o Instituto Vita Alere, o Centro de Valorização da Vida (CVV), e a SaferNet Brasil, O Festival Amarelo. É um evento sobre promoção de saúde mental para alunos da rede pública de ensino. Serão cerca de 200 jovens, entre 13 a 18 anos em São Paulo. Com palestras e painéis educativos e inspiracionais, combinados com oficinas de dança, poesia, grafite e roteiro de quadrinhos.
As palestras poderão ser vistas ao vivo pela página do Instituto Vita Alere no Facebook.
No dia 10, serão lançadas no site do Vita Alere, 3 cartilhas importantes. Uma do Facebook sobre como falar de suicídio de forma segura. E duas apoiadas pelo Google e a Safernet, sobre prevenção do suicídio na Internet para pais e educadores e outra para os adolescentes.
Destaco algumas passagens das cartilhas: Nunca compartilhe fotos ou vídeos de suicídio. Não publique fotos do local de morte (para evitar o efeito da imitação) . Não romantize ou fale como se fosse “cool”. Quando postar alguma experiência pessoa sobre o tema, ou comentar livros, séries ou acontecimentos, monitore os posts para verificar algum comentário de uma pessoa em crise – há orientações sobre como falar commessa pessoa.
Algumas campanhas já provaram que essa ferramenta dá certo. A série #Eu estou” atingiu mais de 5 milhões de jovens e agora traz depoimentos de sobreviventes na sua segunda fase. Ela está disponível no Facebook e Instagram (@euestou).
A série de vídeos “Você Sabia”?, é baseada em uma pesquisa no Google sobre as maiores buscas feitas sobre o assunto nessas plataformas. Duas delas são: Como cometer suicídio e como ajudar alguém que está pensando em suicídio. Os vídeos vieram como respostas a essas buscas e serão colocados no canal do Vita Alere no Youtube durante o mês de setembro.
Leia mais sobre esse tema na seção “Suicídio” do blog.
Veja um programa sobre suicídio no “Conversa com Bial”.