Qual seria seu último sonho? 

Se você estivesse no final da sua vida, e pudesse realizar um sonho, qual seria?

 Uma moça de 50 anos tem ELA.  Está traqueostomizada, gastrostomizada e ligada a um ventilador mecânico. Ela não sai mais da cama. E quer passear de Harley-Davidson. Uma imigrante da República de Camarões, com câncer em estágio avançado, sonha em rever a filha de 14 anos, que ficou no país  africano. Uma senhora de 92 anos está na fase final da vida. E ela quer voar de asa-delta. Mulher com doença cardíaca sem cura sonha em conhecer o morro do Pão de Açúcar. Um menino de 9 anos, com tumor no cérebro, sonha em conhecer um jogador do Flamengo.

Esses são exemplos de desejos realizados por Roberto Palmeira, diretor de sonhos do Instituto Rope. Sua missão: realizar desejos de pessoas que têm suas vidas ameaçadas por doenças graves.

Com sede no Rio de Janeiro, atendem no país todo e, em breve, irão abrir uma sde em São Paulo. Já foram mais de 60 sonhos realizados.

O projeto tem inspiração no Instituto Ambulância do Desejo, da Holanda, que funciona desde 2006. São associados ao Stichting Ambulance Wens Mundial, atualmente presente em 16 Países com mais de 18 mil desejos de pessoas em fim de vida realizados em todo o globo terrestre.

Quando Roberto conheceu o projeto, em 2016, ficou apaixonado. Um ano depois, já conseguiu realizar o primeiro sonho. “Era uma senhora, que ouvia Rádio Tupi o dia inteiro e queria conhecer os radialistas. Eu marquei com todo mundo e lá fomos nós”.

Ele só não usa o nome “Ambulância do Desejo”, como o projeto é chamado no mundo inteiro, porque ainda não conseguiu uma ambulância. Só na Alemanha, são 37 carros disponíveis.

Já levantou um casamento em 18 dias e editou livro em 1 semana, com direito a manhã de autógrafos no INCA. O autor, Mathorino, descobriu um câncer de laringe sem perspectiva de cura, aos 39 anos e sonhava em ter um livro de poesias publicado. Morreu 17 dias depois do lançamento.

O voo de asa-delta e o passeio de Harley-Davidson foram feitos com as pacientes conectadas à pessoa que está vivenciando a experiência. É uma conexão bonita e profunda. Os voluntários descrevem as sensações atrelados a sensores de realidade virtual. A emoção fica nítida nas duas pontas. E contagia. A moça da Harley-Davison partiu uma semana depois.

Uma menina sonhava em ter uma festa de 15 anos. Ganhou até mensagem da ídola, Anitta, e de um ator da Malhação. Ela viveu ainda 2 meses e meio depois da comemoração. “Durante o planejamento da festa, ela foi esquecendo da morte, da doença, deixou de fazer resgate de morfina, diminuiu dores de cabeça e o terror noturno. Ela focou na vida, na alegria da festa que estava por vir”.

Apesar de alguns sonhos serem complexos, levarem tempo e planejamento para serem realizados, também há os que são simples, próximos de uma rotina.“Se eu te perguntar o seu sonho, você vai falar um desses cinco: viajar, casa própria, carro, cirurgia plástica e gadgets. Em geral, são os cinco mais pedidos quando os seres humanos esquecem que vão morrer. Mas se você tem consciência de que a morte está próxima, já vai começar a pensar diferente. Não faz sentido pedir um super carro, um iPhone 12.  Eu quero estar com o meu gato. Eu quero comer uma coxinha de galinha com um guaraná. É o momento em que essas pessoas estão mais vulneráveis, mais sensíveis e mais verdadeiras. Ali não tem espaço para mimimi e vaidade”, diz o diretor de Sonhos.

Viagens, como ver o mar, demandam muita preparação e financiamento, mas Roberto ainda considera mais difíceis os pedidos  de reencontro. “Já trouxe, do Ceará, dois netinhos para ver a avó – vieram para cá e ficaram 4 dias com ela. Já teve pedido de morrer no país de origem, como a menina que conseguimos mandar para o Peru. Teve outro que queria ver a filha antes de morrer”.

Na diretoria, Roberto conta com três grupos de pessoas atendendo a três pilares: sabedoria, força e beleza. “No pilar da sabedoria, eu tenho profissionais da saúde que abrangem os quatro polos de dor, a física, mental, espiritual e social”. Também recebe consultoria de uma anestesista, formada em cuidados paliativos em Harvard, para avaliar se é possível retirar um paciente do hospital, ou não.

O segundo pilar é o da força, que faz acontecer, consegue as ambulâncias,  a mobilização e recursos financeiros.  O terceiro é o da beleza, que cuida da imagem, dos brindes e dos presentes.

Realizar últimos desejos é triste? Para Roberto, nem pensar. “Eu estou no dia mais feliz da vida de pessoas. Quando a Bianca morreu, a do aniversário de 15 anos, é lógico que doeu. Quando o Mathorino, autor do livro, morreu, também. Mas eu estava presente no  dia mais feliz da vida deles”, Roberto encontra sua gratificação.

A próxima etapa é fundar um hospice, que é uma unidade completa de cuidados paliativos. Ele visitou algumas referências na Holanda e está se mobilizando para levantar o projeto.

Roberto considera importante sonhar mesmo no momento difícil que estamos. “Quem deixa de sonhar, deixa de planejar. de sonhar, a gente não planeja nada. Não vê motivos para acordar. Se você não sonha, você apenas se defende”.

Adote um sonho!

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Arquivo do Instituto Rope