A morte segundo a conscienciologia
A conscienciologia coloca-se como o estudo integral da consciência. O termo foi proposto publicamente pela primeira vez em 1981 por um conjunto de pesquisadores liderados pelo médico brasileiro Waldo Vieira, morto no ano passado. Partem do princípio de que a consciência é independente do cérebro e teria a capacidade de se projetar para fora do corpo de forma autoconsciente, em dimensões chamadas de extrafísicas. Por isso, seu principal campo de estudo é a projeciologia, popularmente conhecida como projeção astral ou experiência fora do corpo (OBE). É comum escutarmos pessoas comentarem que tiveram um sonho muito lúcido ou que voaram pelo quarto e viram seu corpo dormindo na cama. Para a conscienciologia, não há sonhos lúcidos, mas sim projeções da consciência.Também estudam fenômenos como a telepatia.
Como o espiritismo, consideram a vida após a morte e a reencarnação, mas preocupam-se em utilizar um vocabulário mais objetivo. Um slogan muito divulgado é o “princípio da descrença”, segundo o qual “não se deve acreditar em nada, pois o mais importante para cada indivíduo é usar o senso crítico, o raciocínio, e aprender com as próprias experiências”. Uma grande diferença que se coloca em relação ao espiritismo é não usar o papel de um intermediário para a comunicação com outras consciências, como o médium. Cada um deve ser treinado para tornar-se seu próprio “médium”. O autoexperimento é usado para o fortalecimento de teorias relacionadas aos fenômenos observados.
Conversei com Luiz Cláudio Pereira Costa, professor e palestrante, coordenador do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia (IIPC-Brasília), uma instituição educacional que tem o título de “utilidade pública federal”. Segundo o site do IIPC, trata-se de um instituto de pesquisa sobre as ciências da projeciologia e da ciensciologia. Nas perguntas, procurei usar terminologias e conceitos oferecidos por Luiz Claúdio, para maior identificação e respeito.
O que é a conscienciologia?
Hoje, a conscienciologia é uma proposta de ciência focada em um novo paradigma – o estudo da consciência de forma integral, partindo de premissas que envolvem a consciência que se manifesta em outras dimensões. É a consciência que interage com as energias e as bioenergias e a consciência que tem múltiplas vidas (aquilo que as religiões chamam de reencarnação). A conscienciologia não é uma religião, mas ela estuda as manifestações que as religiões se apropriam. Ela não é um movimento estritamente filosófico, porque ela é experimental. Mas foca muito na auto experimentação, ou seja, o próprio pesquisador também é objeto de pesquisa. Por isso, precisamos de um novo paradigma que sirva de base para trabalhar com algumas proposições que a ciência tradicional não considera.
Ela é uma dissidência do espiritismo?
O Waldo Vieira, um dos propositores da conscienciologia, foi um dissidente do espiritismo. Ele nasceu em berço espírita e, em dado momento, propôs o estudo da projeção consciente, da saída da consciência para fora do corpo. Sua proposta não foi muito bem aceita pelo espiritismo, por eles terem uma grande dedicação aos médiuns – papel descartado pelo Waldo, na medida em que ele coloca a própria pessoa como capaz de entrar em contato com outras dimensões para explorar o conhecimento.
A não presença de intermediários – os médiuns – seria a principal diferença entre a conscienciologia e o espiritismo?
A principal diferença é que a conscienciologia não vai se pautar em crenças. Um slogan que é muito utilizado é o “princípio da descrença”, que é não acreditar em nada do que é dito em palestras e livros, mas sim buscar elaborar suas próprias verdades de acordo com suas próprias experiências. A verdade na ciência é relativa, ela é uma descrição da realidade que serve para você até que alguém venha e a refute. Então, quando você parte do princípio de que tudo o que está sendo dito não é verdade, você fica, de certa forma, imune a qualquer lavagem cerebral ou a qualquer dogma que é imposto para você. Você mesmo vai experimentando e descrevendo a realidade. E, claro, comparando com os outros pesquisadores e buscando consensos.
Que tipos de experimentos são feitos?
A projeção da consciência foi a primeira proposta de experimento. A projeção consciente tem uma utilidade, ela é algo sério, não é algo de lazer ou entretenimento. Da projeção consciente, evoluímos para o estudo da própria consciência. Então, a projeção consciente virou uma ferramenta de autodesenvolvimento. A partir disso começamos a abordar vários outros fenômenos que se relacionam com a projeção consciente.
Quais outros fenômenos são estudados?
O estudo de vidas passadas utilizando a projeção consciente, por exemplo. Fazemos experimentos para perceber o processo de interação energética, buscando alguns experimentos para trabalhar aquilo que chamamos de corpo energético, que seria um outro corpo que a consciência possui. Esse corpo possibilita fenômenos como clarividência, clariaudiência, fenômenos de retrocognição, que é relembrar vidas passadas, ou precognição, que é captar fatos que ainda vão ocorrer – aquilo que chamam de premonição. Trabalhando com a bioenergia, conseguimos desencadear todos esses fenômenos e eles podem ser usados para o seu próprio desenvolvimento.
Como você pode diferenciar uma experiência real de uma fantasia?
Precisamos entender todos os tipos de estados alterados da consciência para poder diferenciar aquilo que estamos vivenciando. E temos que partir de hipóteses. Ensinamos a própria pessoa a investigar para diferenciar um sonho de uma projeção, por exemplo. Mas a comprovação é da pessoa, o processo ainda é muito subjetivo.
Há formas mais objetivas de validação?
Sim, existem experimentos feitos com energia como os de telepatia e os de precognição que acabam se comprovando. Mas é necessário uma metodologia que permita verificar de fato se o fenômeno ocorreu. Eu já vi, em sala de aula, experimentos como o de colocar objetos em outras salas e as pessoas se projetarem até lá e descreverem com exatidão cada objeto. Eu precisaria repetir esse experimento diversas vezes para provar que essa capacidade realmente existe, mas em algum momento a pessoa falha. Parece que tem uma outra variável que a gente não controla.
O que faz algumas pessoas serem mais propícias do que outras para experienciar uma projeção da consciência?
É uma pergunta muito comum em sala de aula. Algo que pode contribuir para uma maior predisposição é ter trabalhado com esse tipo de energia em outras vidas, mesmo que tenha sido através de alguma religião ou algum tipo de ritual. Abusos e medos que são colocados pela família, e pela sociedade, atrapalham bastante essa disposição.
Porque algumas pessoas lembram de sonhos, ou projeções, e outras não?
O interesse por esse tipo de estudo interfere muito. Existem técnicas para trabalhar a memória. Muitas vezes, a dificuldade está no retorno da consciência para o corpo físico. Se ela desenvolver a capacidade de memória do corpo físico, ela pode começar a lembrar das suas próprias projeções. Uma das técnicas é ter um caderninho ao lado da cama para relatar tudo o que aconteceu durante a noite, mesmo quando não se lembrar de nada. Tem que ter persistência e paciência. Também há a autossugestão – antes de dormir, você pode emitir pensamentos sugestivos como “eu vou despertar no extrafísico”, “eu vou lembrar da minha projeção”. Muitas pessoas começam a despertar no próprio quarto e a ver seu corpo na cama.
Como diferenciar um sonho de uma projeção?
Há uma lista de fatores que podem ser usados para verificar se você está projetado ou não. O sonho é uma criação subjetiva, onírica. Isso quer dizer que ter um alto nível de lucidez, de racionalidade, indica que você está projetado. O sonho é repleto de absurdos cognitivos. Você se depara com situações muito estranhas em sonhos sem criticidade – você não é crítico em relação a elas. Se você para em algum momento e tem a consciência de que está sonhando, é um sinal claro de que é uma projeção e não um sonho. Sonhos lúcidos não são sonhos, são projeções com um nível de lucidez ainda um pouco mais baixos.
Também é possível verificar algumas informações que você capta quando está fora do corpo. Em sonhos isso não ocorre. Outra coisa é encontrar alguém que vai lembrar da mesma projeção – o que não ocorre em sonho, já que ele não é compartilhado. Encontrar pessoas que você nunca viu na vida e ter uma conversa de alto nível, de conhecimento ou de acolhimento, também indica uma projeção. Outro exemplo é ir a lugares que você nunca foi e depois confirmar a sua existência. Uma característica forte também é voar. Geralmente, os voos não são sonhos, mas sim projeções.
O que alguém pode fazer durante uma projeção consciente?
Isso é importante porque quando a pessoa tem uma ausência de sentido, ela não avança. Às vezes, encontramos pessoas que saem do corpo e não têm ideia do que fazer com isso. Tem muita coisa para você investigar, Primeiro, entender porque você funciona de um jeito, porque você tem uma certa personalidade ou determinado traço que te atrapalha. Algumas dessas condições podem ser investigadas quando você está fora do corpo porque você sente as manifestações emocionais mais intensas.
Também é possível investigar vidas passadas e tentar se conectar com alguém que possa te orientar. Outra possibilidade é tentar acessar uma memória integral da consciência, o “bolo memória”, que é o conjunto de todas as memórias de todas as vidas de uma pessoa. Pode ser útil para essa vida em questão.
Há alguma relação entre a conscienciologia e a física quântica?
A conscienciologia vai usar uma base de premissas para construir seu conhecimento que difere muito da base da física quântica. A física quântica é uma ciência que quebrou um paradigma e passou a investigar a matéria com outro enfoque. A dimensão da conscienciologia é uma dimensão da consciência, ou seja, é uma dimensão que uma consciência se manifesta. Ela não é física. Eu não posso relacionar essa dimensão com a da física quântica, porque as bases de cada uma são diferentes. Uma coisa que é interessante nas duas é que ambas propõe uma quebra de paradigma.
Você acha que um dia a tecnologia pode se apropriar de fenômenos como a telepatia e a projeção consciente?
Penso que sim. Hoje, não temos a instrumentação para provar que uma pessoa saiu do corpo, por exemplo. Ela pode descrever os objetos que estão na outra sala, mas eu não consigo filmar essa consciência – que os espíritas chamam de espíritos – indo até lá e identificando os objetos. Apostamos que isso vá avançar para captarmos alguns desses processos de energia, inclusive o da telepatia.
O que é a morte para a conscienciologia?
A morte é apenas uma transição de dimensão. É um descarte, uma desativação de um corpo biológico e o retorno a uma dimensão extrafísica. Essa abordagem não difere muito da do espiritismo, mas procuramos não utilizar os mesmos termos, porque alguns termos provocam emoções que atrapalham a comunicação. Chamamos a morte de “descarte do soma” e não de desencarne. No momento da morte, a pessoa perde a vitalização do corpo físico e com isso começa a descartar lentamente aquele corpo e passa a ficar mais livre em outra dimensão. Essa consciência passa a ganhar mais lucidez, porque o corpo físico é um conjunto de energias mais densas que limitam a lucidez da consciência. É um processo muito interessante que as pessoas ainda encaram com muito temor.
Essa consciência mantém um gênero após a morte, por exemplo?
Consideramos que uma pessoa tenha múltiplas vidas e possa vir com um sexo diferente. Mas ao descartar o corpo físico, ela mantém a mesma fisionomia da sua última vida. Isso tem algumas funcionalidades como a de ser reconhecida por parentes quando ela aparece para os vivos. Muitas vezes, a consciência pode transmutar para o visual da vida que teve uma maior evolução, mas a maioria escolhe a aparência da última vida.
É dolorido passar por esse processo de lucidez com a morte?
A lógica dessa vida humana é interessante. Vamos nos colocando em cenários – que são as vidas nos corpos físicos – e nesse psicodrama real vamos evoluindo, desenvolvendo uma maturidade que nos dará uma capacidade para entender todo o mecanismo da vida, o que rege as dimensões, para onde vamos depois da morte, qual é o propósito da vida, essas perguntas filosóficas… Quando renascemos, perdemos essa memória e ficamos buscando, pela intuição, o sentido da vida. Ainda somos incapazes de romper com as dificuldades de um corpo físico mais denso.
Há um ditado interessante que diz que quando você eleva a sua vista, você não vê mais fronteiras. A projeção consciente é isso. Você eleva sua visão e pode quebrar seus paradigmas pessoais, seus preconceitos.
Durante uma projeção da consciência é possível encontrar alguém que já morreu?
Sim, podemos encontrar uma pessoa que já descartou seu corpo físico. Já aconteceu comigo, quando encontrei meu pai. Ele se aproximou com alguém que eu não conhecia. Ele sabia que estava morto e relatou uma dificuldade em lidar com os pensamentos e com a memória depois da morte. Ele estava com ciclos de amnésia. Em alguns momentos, ele não lembrava da família. Ele estava se adaptando a um corpo extrafísico, já que estava pensando sem o uso de um cérebro físico. Existem pessoas que ainda não sabem que morreram. Existem consciências que ficam adormecidas, aguardando um juízo final. Ou ficam achando que ainda estão vivas e entram numa psicose de criar um ambiente que a proteje de uma realidade que ela não quer ver, como ocorre no filme “O Sexto Sentido”. É um mecanismo de defesa utilizado até que a pessoa tenha maturidade para entender que morreu. Em casos de acidentes, quando a transição para o extrafísico é muito rápida, pode ser mais difícil.
Uma leitora me escreveu relatando que a conscienciologia foi a melhor forma que ela encontrou para lidar com o luto da perda de seu filho de 16 anos. De que forma vocês podem ajudar no luto?
Com o autoconhecimento. Primeiro, entendendo quem ela é nesse contexto de vida. Esse entendimento não ocorrerá por uma crença, mas sim pela prática da projeção consciente, que dará um indicativo de que o processo da morte não é a finitude do ser, mas sim do corpo biológico.
Outro processo que ela pode investigar é tentar entender porque esse filho partiu mais cedo. Um encontro com o filho pode ajudar bastante também. Na nossa atuação, percebemos consciências amparadoras, no extrafísico, que ajudam outras que passaram recentemente pelo processo de morte. Podemos fazer um trabalho junto com essas consciências, que chamamos de “Tarefa Energética Pessoal”.
Uma diferença em relação ao centro espírita é não criarmos dependência com as pessoas, porque não usamos um médium, mas sim procuramos capacitar a pessoa para ter autonomia evolutiva. A própria mãe entra em contato com o filho nesse caso. Já vi muito isso acontecer. Mas há casos em que há uma barreira que não conseguimos atuar.
Você tem ou tinha alguma religião específica?
Não sou religioso. Eu comecei a querer investigar fenômenos porque eu percebia esses fenômenos, eles ocorriam comigo. Então passei a frequentar vários movimentos que envolviam energia, como o reiki. Em algum momento cheguei no espiritismo, porque eu queria usar minhas percepções para fazer algum tipo de auxílio e o espiritismo tem essa abordagem assistencial. Trabalhei como médium durante 3 anos numa casa espírita e comecei a ter algumas divergências em relação a crenças colocadas. Eu não me identificava com a questão religiosa e acabei conhecendo o IIPC (Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia), onde iniciei com um trabalho voluntário.
Como a conscienciologia trabalha o tabu da morte?
A nossa maior fonte de angústia é a morte. A gente precisa caminhar para entender o processo da morte e não ter medo disso. A conscienciologia vai atuar nesse aspecto. Muitas pessoas chegam com medos e vamos buscar a raiz de cada um. Geralmente, a raiz é o medo da morte. Hoje, ainda existe uma cultura que reforça muito o processo emocional da morte, ou seja, você é obrigado a chorar em um enterro, porque é falta de educação não chorar. Eu já vi fazerem isso com crianças.
Como ocorre a morte do corpo físico?
Existe uma equipe técnica no plano extrafísico que auxilia na morte da pessoa. Eles ajudam o corpo de energia a ir se desconectando do corpo físico. Há um campo energético que precisa ser desativado e isso é feito de forma técnica por pessoas que sabem como fazê-lo. Eu atuo como auxiliar dessa equipe, agindo no corpo físico de acordo com orientações que recebo dessa equipe – as ações são sugestionadas na minha mente, como colocar a mão na testa da pessoa, ou no peito, ou seja, é um movimento direcionado. Eu percebo a consciência saindo do corpo e se aproximando de mim. A partir disso, os aparelhos passam a sinalizar que o corpo está morrendo.
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