Voz ao luto: rede de apoio abre espaço para relatos. Leia o depoimento das organizadoras
“Vamos falar sobre o luto” é a inciativa de sete amigas da área da comunicação que, ao vivenciarem perdas, se uniram para criar uma plataforma de apoio ao enlutado. Dar voz aos que desejam falar sobre a morte e não encontram esse espaço no dia a dia. Elas enviaram um depoimento ao blog. “Vamos falar sobre o luto é um espaço aberto para quem quer falar e saber mais e tornar a experiência da morte de alguém próximo menos solitária. Publicamos histórias inspiradoras de gente que encontrou novas formas de enxergar a morte e transformar a dor em amor”. Leia o depoimento na íntegra, abaixo.
Veja um post sobre o assunto aqui no blog nesse link, e outros na categoria luto.
Obs: Durante minha licença-maternidade, abri o blog para depoimentos de leitores. Os interessados em ler os artigos já publicados, por favor pesquisem nas abas laterais. Há cem posts disponíveis, separados por temas. Ou entrem na página do Facebook do blog. Para enviar seu depoimento, escreva para mortesemtabu@gmail.com. Um abraço, Camila
Vamos falar sobre o luto
Mariane Maciel, Rita Almeida, Amanda Thomaz, Fernanda Ferraz Figueiredo, Gisela Adisse, Sandra Soares e Cynthia de Almeida
Vamos falar sobre o luto? A pergunta nasceu de encontros entre amigas que experimentaram perdas e viram como era bom falar, ouvir e receber o amparo uma das outras. Que bom era poder dizer o nome das pessoas amadas que se foram, chorar e rir com as lembranças e sua eterna presença em nossas vidas. Surgia ali um insight e outra pergunta: será que mais gente quer falar sobre o seu luto? O grupo de sete amigas da área de comunicação (Mariane Maciel, Rita Almeida, Amanda Thomaz, Fernanda Ferraz Figueiredo, Gisela Adisse, Sandra Soares e Cynthia de Almeida) já vivenciara, cada uma de sua maneira, a sensação de incômodo social que cerca a morte e a dor do enlutado. Sofre-se duplamente: pela dor da perda e pelo tabu em torno do morrer. Vivemos numa cultura que celebra a vida como se fosse possível eternizá-la. Não queremos pensar e falar sobre a morte até que ela acontece (e sempre acontece) e nos pega despreparados, cercados por pessoas igualmente despreparadas para prestar o acolhimento de que se necessita. Quando perdemos alguém, o que se vê é uma onda inicial de suporte e solidariedade e, em seguida , um silêncio que muitas vezes cala vozes dentro da própria família. A solidariedade disponível vem quase sempre na contramão dos sentimentos, buscando abreviar ou tirar a pessoa da tristeza, estabelecendo um prazo de validade para o direito de sofrer.
Fomos ouvir pessoas, primeiro através de uma página divulgada em nossas redes sociais em que repetimos a pergunta: Vamos Falar Sobre o Luto? Vieram dezenas, depois centenas de histórias. Belas, tristes, inspiradoras. Os depoimentos nos motivaram a formar grupos de discussão para entender o que ajudava a atravessar esse momento difícil pelo qual todos vamos passar. A pergunta foi de novo respondida: Sim, vamos falar sobre o luto. O primeiro insight era agora o projeto do site, feito pelo grupo de voluntárias e com a ajuda de todos os que colaboraram com seu financiamento coletivo.
A pergunta agora é afirmação e o vamosfalarsobreoluto.com.br é um espaço aberto para quem quer falar e saber mais e tornar a experiência da morte de alguém próximo menos solitária.
Publicamos histórias inspiradoras de gente que encontrou novas formas de enxergar a morte e transformar a dor em amor. Entrevistamos especialistas (somos todas leigas, mas contamos com uma rede de conselheiras psicólogas) , pensadores, compartilhamos diferentes visões e filosofias. Não prestamos atendimento, indicamos profissionais. Sugerimos leituras, filmes, grupos, eventos e também trazemos dicas de como agir para apoiar amigos, família, colegas de trabalho. Tudo isso dentro de um ambiente de leveza e delicadeza: nosso site é lindo , sem os tons carregados e sombrios com que costuma cercar o conteúdo sobre a morte e o morrer.
Entramos no ar em janeiro com a expectativa de uma audiência modesta e fomos surpreendidas por 200 mil visitas logo na primeira semana. Nossa página do Facebook tem mais de 6 mil fãs e nossos posts são compartilhados por milhares de seguidores. Os comentários comovidos e gratos aquecem nosso coração.
Essa é a melhor resposta que poderíamos ter à primeira pergunta: as pessoas querem falar sobre o luto. Querem encontrar e compartilhar apoio, querem desenvolver a empatia e um novo entendimento sobre a finitude da vida. Querem, principalmente, não se sentir um incômodo na sociedade e parar de pedir ou ouvir desculpas por falar sobres seus mortos queridos.