Conheça o velório drive-thru
Existem pelo menos duas funerárias no mundo que optaram pelo drive-thru para seus velórios. O caixão fica exposto enquanto os visitantes desfilam em seus carros, dão uma espiadinha, quem sabe comentam sobre como a pessoa parece pacífica, do que morreu, se sofreu, assinam o livro de visitas e seguem para o próximo compromisso.
Hoje em dia fala-se em velórios com opção via Skype (principalmente para pets), para propiciar esse momento aos que moram longe, mas o drive-thru ainda não despontou no Brasil. A iniciativa da primeira funerária a adotar essa prática não é recente nem tem a ver com a correria que associamos à modernidade.
A funerária Robert L. Adams existe desde 1947 e o êxito de sua empreitada pode ter vindo da extrema violência do bairro onde está localizada, em Los Angeles – em uma região dominada por gangues na década de 80. Os enterros tradicionais eram perigosos devido aos tiroteios que seguiam a morte de um membro de uma gangue. Era mais seguro não sair do carro. O vidro que protege os caixões é à prova de balas até hoje.
O fundador da funerária foi exposto numa janela do seu drive-thru quando morreu, em 2005. Sua esposa, Peggy Scott Adams, cantora gospel já indicada ao Grammy, é quem passou a tocar os negócios. Ela canta nos velórios, quando solicitada.
Atualmente, essa opção encontra sua razão de ser na correria do dia a dia, ou mesmo no desconforto de ir a um velório e encarar a tristeza da finitude.
A notícia da Reuters – fonte das fotos abaixo – indica que a cultura do sul da Califórnia é dominada por carros e não ter que procurar por um estacionamento seria visto como uma vantagem.
Uma funerária de Michigan, Paradise Funeral Chapel, que adotou a prática em 2014, coloca como seu motivo principal propiciar maior conforto àqueles com limitações físicas, como a dificuldade de locomoção dos mais velhos. E aposta nessa tendência para o futuro, por ser mais confortável para as famílias e conveniente aos visitantes – eles assinam um livro constatando sua presença e condolências. Em reportagem para o “Global News”, seu diretor atira: “experimente antes de julgar”.
Eu vou ser um pouco mal-educada e partir direto para a segunda parte. Essa versão fast food da morte é de arrepiar e poderia ser mesmo uma tendência se pensarmos na história da morte no Ocidente e a transferência do morrer da casa das pessoas para o ambiente hospitalar. O que já indica um afastamento do morrer e o isolamento gritante daqueles em fase final da vida. Torço para que o futuro delineie outro cenário. Ao invés de fast food, tenhamos um velório mais para gourmet, personalizado e desenhado especificamente para ajudar aquela família e seus amigos e elaborarem o luto e a finitude com a mesma grandeza que procuram elaborar um nascimento.
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Categoria: bastidores da morte