Querida, virei um LP

Camila Appel

Uma possibilidade pouco explorada para o destino das cinzas da cremação é prensá-las em um disco de vinil  -também conhecido como Long Play em inglês, por isso a sigla LP. A empresa inglesa “And Vinyly” é uma das mais conhecidas do ramo. O pacote básico conta com a produção de 30 discos e sai por £3000 libras. Cada disco dura 24 minutos, 12 de cada lado. Extras incluem ilustrações feitas sob encomenda, templates musicais criados para acompanhar uma gravação de voz e músicas originais desenvolvidas especialmente para o cliente. É possível ter seu vinil distribuído em lojas de LPs ao redor do mundo e oferecer apenas uma parte do corpo cremada (caso você prefira que o resto seja enterrado, por exemplo). A empresa também aceita animais.

E o que se grava no LP? Você pode escolher uma playlist de músicas, gravar um depoimento seu sobre a história da família, casos engraçados, um testamento falado ou escolher não gravar nada – para apenas escutarem o som produzido pelas cinzas do vinil passando pela agulha da vitrola.

A revista eletrônica AEON divulgou hoje (01) um vídeo sobre o fundador da “And Vinyly”, Jason. Ele conta ter crescido ouvindo histórias sobre como as cinzas de seu tataravô foram arremessadas ao mar, mas com o vento, acabaram pairando sobre o deck. Com seu avô a coisa foi parecida.

Jason se encheu do vento atrapalhando o destino das leves cinzas e fundou a “And Vinyly”. O vídeo mostra como o processo é feito – as cinzas são jogadas no vinil (um material plástico) antes dele ser prensado, e oferece momentos de reflexão:“O bom da morte é que ela faz você viver, te leva a tentar fazer o máximo com o que tem”.

Jason já pensa no que colocaria em seu próprio disco: uma mistura de músicas com depoimentos pessoais. E acha essa preparação benéfica. “É triste ouvir as pessoas dizerem que somente quando estão próximas da morte é que resolvem começar a realmente viver. Eu comecei a pensar que, talvez, se fossemos mais expostos à morte, ou a planejássemos um pouco antes, poderíamos ter uma vida melhor”, diz.

O disco teria uma função emocional e histórica: “É algo que sua bis-bis-bisneta poderá ver, ouvir, ler a capa, e aprender um pouco sobre você, sobre sua época”.

Opções curiosas de uso para as cinzas têm surgido. Em entrevista para a TV Folha, Mylena Cooper, do Crematório Vaticano, diz ter em mãos uma inovação: misturar cinzas a fogos de artifícios. Ainda há outras opções, como unir tecnologia com arte – ter um quadro pintado com suas cinzas e um QR-Code instalado na moldura direcionando para uma página na internet com sua biografia e vídeos, por exemplo, transformar cinzas em cristais ou diamantes e, claro, a  mais racional e útil de todas – doação do corpo para estudos. Veja como nesse link.

Leia mais sobre essas e outras opções na seção “o que você quer ser quando morrer”, do blog.

Atualização em 2 de agosto: a empresa “And Vinyly” me informou que aceita encomendas internacionais e pode enviar para o Brasil. É possível fazer o pedido pelo e-mail: theundertaker@andvinyly.com