Depoimento: o primeiro Natal (de muitos) sem ela….

Camila Appel

Acho interessante publicar relatos sobre o luto no Natal. É um dia em que os familiares que já morreram fazem falta. Aposto que a grande maioria de nós irá relembrar, mesmo que calada, alguém que se já foi. O que nos leva à uma reflexão sobre a morte. E como consequência, à vida.

Coloquei uma mensagem na página do Facebook do blog perguntando se alguém gostaria de publicar um relato. Luiza Moré Borges, que se identifica como “Luiza, 37 anos, advogada e espírita”, me escreveu. Ela enviou o depoimento abaixo, “escrito com muito sentimento”, como ela mesma disse.  Sem dúvida. Um feliz Natal para todos.

O primeiro Natal (de muitos) sem ela….

Por Luiza Moré Borges

Esse ano de 2017 foi marcado por uma partida já prevista, de certa forma, até esperada, mas que, mesmo assim, ainda deixa uma ferida aberta. Separar-se, mesmo que momentaneamente, de alguém querido, jovem e próximo, é muito doloroso. Explico o momentaneamente: como espírita, acredito na morte apenas como uma etapa, um distanciamento, que será superado em breve. Mas não menos dolorido.

Minha cunhada, uma jovem linda, de 32 anos de idade, com um filho de 7 anos, cheia de planos, partiu. Em 20 de janeiro de 2017, 3 dias depois de completar 32 anos. Foi vencida pelo câncer (melanoma metastático), que tomou o sistema linfático e o cérebro. Lutou, lutou, nunca perdeu as esperanças, e aceitou todos os desígnios de Deus em seu vida. E morte. Foi muito difícil e dolorido passar os três últimos meses de sua vida com ela, mas, ao mesmo tempo, foi a oportunidade de nos despedirmos e aproveitar um pouco mais de sua permanência neste plano tão hostil.

Essa guerreira linda passou por momentos muito, mas muito difíceis. Quando o tratamento deixou de surtir efeito, comportou – se de maneira resignada, nunca perdeu a fé e a esperança nos médicos e em Deus. Deixou mensagem para seu filho, dizendo que o amava, o quanto o amava, e o quanto o amaria mesmo em outro plano. Pediu pelo seu futuro, fez planos para ele, e partiu.

Dezembro foi um mês muito intenso. Nesta época, em 2016, já estavamos vivendo o luto, embora ela ainda não houvesse partido. Mas seu corpo já demonstrava que não suportaria por mais tempo, embora seu desejo não fosse esse.

Como ela estava na casa de parentes em uma cidade que não era a sua de origem, viajamos para vê-la. Isso nos proporcionou um passo enorme e muito importante em nossas vidas: acabamos por nos reaproximar de familiares que não tínhamos mais contato, deixamos rusgas de lado e vivemos momentos de reconciliação. Amanhã, estaremos novamente naquele lar, por ela, com ela, por nós. Graças a ela.

Nunca me esqueço de um momento que passamos neste lar: ela, frágil, andando com dificuldades, foi até o quarto do menino, um bebê de menos de dois anos, onde estávamos eu, meu esposo, nossos filhos ( um menino de 8 anos e uma menina de 2), e o filho dela, na época com. 7 anos. Era uma bagunça só: as crianças se escondendo no guarda-roupa, gritando, pulando no colchão no chão, uma festa! Ela se sentou na cama e se apoiou em meu marido. Sorria. Sentiia-se feliz, mesmo sob o efeito da dor mascarado pela morfina. É impossível não se emocionar ao relembrar……

Na semana seguinte, ela piorou e precisou ser internada. Três ou quatro semanas depois, faleceu. Lembro-me de ter lhe dado um beijo na testa quando entrou no carro. Foi a despedida. Ainda hoje, lembro de sua face cansada de dor e sofrimento.

Esse ano, será o primeiro de muitos sem ela. Foram poucos os dias deste 2017 em que eu não tenha me lembrado dela. Passou tão rápido e, ao mesmo tempo, tão lentamente…..

Minha sogra faz aniversário dia 23 de dezembro. Tentaremos fazê-la sentir-se menos triste, pois, feliz, será difícil. Mas sei que minha cunhada estará feliz, pois estaremos reunidos em sua memória, no primeiro de muitos Natais sem ela…..