21 livros sobre luto: uma lista para ter por perto
Por Camila Appel e Jessica Moreira
O escritor e filósofo italiano Umberto Eco (1932-2016) já disse que listas fazem parte da cultura de uma nação, da história da arte e da literatura. Elas seriam uma forma de tornarmos o infinito compreensível. Nosso medo da morte seria aplacado cada vez que fazemos uma lista, que traçamos limites para o desconhecido. Há, ali, uma sensação de segurança. Afinal, listas são uma seleção, uma curadoria.
Temos visto uma explosão de livros que trazem o tema específico do luto. Esse movimento não é tão recente. Ele antecede a pandemia, mas se intensifica com ela.
Falar de modo cuidadoso, e sem generalizações, sobre luto é um grande desafio.
Como diz Roland Barthes em “Diário de um Luto”:
“Todos calculam –eu o sinto– o grau da intensidade do luto. Mas é impossível (sinais irrisórios, contraditórios) medir quanto alguém está atingido”.
O desafio de nomear a dor traz uma contradição em suas entranhas. Por um lado, queremos descrever o sentimento, transformar em palavras, nos comunicarmos. Por outro, nos deparamos com a impossibilidade de oferecer forma ao silêncio.
Em “A Ridícula ideia de nunca mais te ver”, Rosa Montero diz:
“Quanto mais você se aproxima do essencial, menos pode nomeá-lo. O tutano dos livros está na esquina das palavras. O mais importante dos bons romances reside nas elipses, no ar que circula entre os personagens, nas frases menores. Por isso, acho que não posso dizer mais nada sobre Pablo: seu lugar está no centro do silêncio”.
Selecionamos algumas leituras que fizemos sobre o tema, tanto mais antigas quanto recentes e dividimos com vocês nesta lista.
Boa leitura!
Um abraço,
Camila e Jessica
PARA CRIANÇAS
A COISA BRUTAMONTES
Autora: Renata Penzani
Editora: CEPE, 2018. Ficção.
Sinopse: Em uma relação de intimidade com as palavras, Renata costura o olhar do menino Cícero, de 11 anos, a partir da morte de Dona Maria, sua amiga, uma senhora de mais de 80 anos. A morte é, então, representada por um rinoceronte enorme que sempre está presente, embora seja ignorado pelos outros adultos. “A primeira vez que me disseram “Maria Morreu”, meu coração reclamou, quis pular fora do peito. Precisaram repetir: morta. Mas morta como se para mim ela continuava?”.
AGORA PODE CHOVER
Autor: Celso Sisto. Ilustração de Anna Cunha.
Editora: Melhoramentos, 2018. Ficção.
Sinopse: Agora pode chover é a história da menina Tatiana lidando com a memória de seu avô, que morreu. Ela não sente tristeza, mas saudade. Busca essa figura amada por toda parte. É um questionamento comum, entre crianças e adultos, quando as pessoas morrem: para onde vão os que simplesmente se vão?
As respostas estão na simbologia. Há teorias prontas oferecidas por crenças religiosas, e outras mais sutis, que pinçam significados nos elementos da natureza — algo tão presente nos indígenas e em outros povos nativos, que se relacionam com os bichos e com as plantas de uma forma já perdida por nós.
Leia também: resenha do livro na Revista 451.
O BALÃO DO VOVÔ
Autor: Marcela Lin
Editora: Frida Editora, 2021. Não-ficção.
Sinopse: Marcela perdeu o pai e a avó no mesmo mês. O pai foi vítima da covid-19. “Escrevi essa história para que meus filhos lembrem do avô incrível que tiveram e agora meu pai segue vivo em cada exemplar”. O livro se tornou um projeto familiar. A mãe de Marcela ilustrou, o irmão diagramou e o filho mais velho escreveu o título da capa com “Encontrei nas palavras uma forma de respirar”. Marcela fundou a rede social @vivendomeuluto.
A JANELA DE ISABELA
Autor: André Castilho
Editora:Alma Books, 2019. Ficção, inspirado em uma história real.
Sinopse: O quarto novo de Isabela não tinha nada de legal. Não havia brinquedos, nem paredes coloridas. Era tudo cinza e chato. Tinha uma janela que ninguém dava bola, já que nada acontecia do lado de fora. Mas isso pra quem não sabia usar a imaginação. Porque pra Isabela, aquela janela era mágica e transportava para um mundo onde tudo era possível: até mesmo esquecer que ela estava em um quarto de hospital.
Leia + : A importância de falar sobre morte com as crianças
A ARTE DE FALAR DA MORTE PARA CRIANÇAS
Autora: Lucélia Elizabeth Paiva
Editora: Ideias e Letras, 2014. Não-ficção
Sinopse: Como falar da morte com as crianças? Trata-se de um assunto delicado, mas que pode ser trabalhado de maneira didática por meio da literatura infantil. A autora propõe a utilização desse recurso como instrumento auxiliar para uma abordagem mais branda da vida e da morte, buscando o acalanto necessário no acolhimento às dores e aos sofrimentos humanos. Fruto de sua tese de doutorado em Psicologia, na USP, o livro é um ótimo material de apoio para profissionais das áreas da saúde e da educação, assim como para os demais interessados no tema.
MIGUEL FOI PRO CÉU
Autora: Ana Rebello
Editora: Bem Cultural, 2021. Não-ficção
Sinopse: Este livro faz parte da coleção “Fale a verdade, apesar da idade”, de Ana Rebello. A ideia da autora é fornecer material lúdico de apoio para os pais e adultos que precisem tratar com as crianças de um assunto que gera tabu muito grande, que é a morte. Apesar de todos terem receio desse acontecimento, ele é tão natural como o nascimento, e é inegável que em algum momento da nossa vida de crianças ou adultos, vamos ter que falar sobre ele, seja na perda de um ente querido na família, um animalzinho de estimação ou uma notícia que aparece na TV. A autora, com a coleção, busca tratar do tema, respeitando as condições dos acontecimentos individuais, ressaltando a necessidade de acompanhamentos psicológicos, quando necessário, e não generalizando as formas de expressar as emoções, tão pessoais em cada indivíduo. Como contar quando alguém se fará ausente para sempre? Qual a hora certa de falar verdade? É simples. A verdade deve ser exposta em todo o momento, levando em conta a idade da criança na hora e forma de falar sobre o assunto. Em todos os livros da coleção os pequenos terão um espaço para expressar seu entendimento sobre a história. Não se pode reparar a falta de um alguém querido, mas uma história pode facilitar a forma de lidar e falar sobre a perda. Essa é a intenção da autora Ana Rebello.
Aqui vamos contar os ciclos da vida e seus “ressignificados”, com boa leitura e aprendizado em família! (sinopse enviada pela assessoria)
NÃO-FICÇÃO
A LUA E O GIRASSOL
Autor: Marina Miranda Fiuza
Editora: Primavera editoral, 2021.
Sinopse: Marina reuniu relatos de mães que perderam seus filhos em diferentes circunstâncias. O prefácio é de Valter Hugo Mãe: “As mães e pais dos mortos são muito sem sentido. Nem sempre sabemos onde têm a cabeça ou os pés porque tanto daquilo que os ordena é agora de outra natureza. Ficamos diante dessas pessoas pasmando, porque elas contêm uma ciência que nenhuma biblioteca vai conter, simplesmente porque não há como explicar o absurdo, ele é uma experiência indizível que os livros imitarão sem sucesso algum””
LUTO É OUTRA PALAVRA PARA FALAR AMOR
Cinco formas de honras a vida de quem vai e de quem fica após uma perda
Autor: Rodrigo Luz
Prefácio de Gabriela Casellato
Editora: Ágora, 2021.
Sinopse: O psicólogo Rodrigo Luz apresenta as muitas faces e os diversos sentimentos que constituem o luto por meio de casos repletos de particularidades que mostram como a experiência pode deixar de ser encarada como fraqueza ou exagero. O livro traz uma abordagem mais afetiva ao tratar de uma das experiências mais devastadoras enfrentadas pelo ser humano. Diante do atual episódio pandêmico, fica ainda mais urgente amparar os milhões de enlutados somente no Brasil.De forma empática e acolhedora, o autor detalha como honrar aqueles que se foram, oferecendo aos enlutados possibilidades de acolher a dor e mostrando que ela é uma das faces do amor, “O amor é uma experiência biológica, psicológica, espiritual e social. E, o luto é uma extensão do amor. Ele só existe porque há amor. Se você ama, você vai viver o luto. É um processo complexo, para o qual não existe um guia infalível. A dor às vezes não diminui, mas a pessoa enlutada pode desenvolver a musculatura para carregá-la e suportá-la, tornando-se mais forte”.
O ENCANTADOR DE PESSOAS
Autor: Liv Soban
Editora:Editora Labrador, 2021.
Sinopse: Esta obra é como uma moeda da sorte: na coroa, um livro sobre a vida de Eduardo Heitor Soban; na cara, uma autobiografia escrita por sua filha Liv Soban. Ao prantear a morte do pai, Liv criou uma obra cativante que fala como poucas sobre viver em plenitude, com gana e leveza mesmo nos momentos mais duros. Este livro é um ato de amor e de vida.
MÃE
Autor: Hugo Gonçalves
Editora: Companhia das Letras , 2021.
Sinopse: Perto de fazer quarenta anos, Hugo Gonçalves recebeu o testamento do avô materno dentro de um saco plástico. Iniciava-se ali uma viagem, geográfica e pela memória, há décadas adiada. O primeiro destino: a tarde em que recebeu a notícia da morte da mãe, em 1985, quando regressava da escola primária. Durante mais de um ano, o escritor procurou pessoas e lugares, resgatando aquilo que o tempo e a fuga o tinham feito esquecer ou o que nunca soube antes sobre a mãe. Das férias da infância aos desgovernados anos em Nova York, ele foi recolhendo os estilhaços do luto: os corredores do hospital, o colégio de padres, uma cicatriz na perna, o escape do amor romântico, do sexo e das drogas ou uma road trip com o pai e o irmão. Gonçalves faz um relato biográfico sobre o afeto, as origens, a família e as dores de crescimento, quando já cruzamos o arco da existência em que deixamos de fantasiar apenas com o futuro e precisamos enfrentar o passado. E o livro é também, inevitavelmente, uma homenagem à figura da mãe, ineludível presença ou ausência nas nossas vidas. (sinopse da editora)
O LUTO NO SÉCULOS 21
UMA COMPREENSÃO ABRANGENTE DO FENÔMENO
Autora: Maria Helena Pereira Franco. Prefácio de Colin Murray Parkes.
Editora: Summus, 2021.
Sinopse: Maria Helena é uma das grandes especialistas em luto no Brasil. Sem dúvida, pioneira no tema. Ela explora seus anos de pesquisa e experiência com luto. Os aspectos médicos, sociais, espirituais, sociológicos e psicológicos da perda. “Oferece um amplo panorama a respeito das teorias e pesquisas sobre luto, sempre se valendo do rigor científico e de uma visão peculiar nesse processo, que integra aspectos psíquicos, sociais, cognitivos, espirituais e físicos. Tomando por base a teoria do apego, de Bowlby, a autora aborda, entre outros temas, os diversos tipos de luto, seus fatores predisponentes, recursos para o diagnósticos e modos de intervenção terapêutica”.
PSICANÁLISE E PANDEMIA
Autores: Diversos autores reunidos no Fórum do Campo Lacaniano-MS, em maio de 2020.
Editora: Aller Editora, 2020.
Sinopse: São mais de 4 milhões de mortes, o sentimento de perda se instala. Sigmund Freud, que perdeu sua filha para a epidemia de gripe espanhola em 1920, pôde elaborar seu luto? O que os psicanalistas têm a dizer em tempos de pandemia? Psicanalistas refletem e buscam escutar as diversas respostas possíveis que cada sujeito é capaz de criar para o mal-estar que assola nossa civilização. As mortes pela Covid-19, por conta do perigo de novas contaminações, trouxeram restrições às cerimônias de despedida, culminando em mais uma consequência para os que ficam: como poder se despedir sem contar com o apoio dos que também amaram, conviveram e se relacionaram com aquele que morreu? Essas cerimônias são importantes para que a dor possa ser expressa e compartilhada, já que o processo de luto é essencialmente caracterizado por uma tristeza que leva a pessoa a se ensimesmar.
VIDA, MORTE E OUTROS DETALHES
Autor: Boris Fausto
Editora: Companhia das letras (lançamento em 27/09)
Sinopse: “Da minha parte, a pandemia fez reviver o passado, que se tornou uma presença cotidiana, e me aproximou, ainda mais, de meu irmão Ruy pela via do divertimento. Sua morte inesperada e essa aproximação me impulsionaram a escrever este livro, passo a passo, sem um esquema prévio”, diz Boris Fausto no início de Vida, morte e outros detalhes.
Resultado do luto íntimo e pelo Brasil durante a epidemia mundial de covid-19, este livro divide-se em três partes: “A tribo”, “Vida” e “Morte e imortalidade”. Na primeira, Boris compartilha recordações do crescer e envelhecer ao lado dos irmãos Ruy Fausto e Nelson Fausto, desde as fraturas em sua relação durante a infância até a comunhão singular dos três, mesmo quando em países diferentes. Na segunda e na terceira partes, uma série de vinhetas compõe um mosaico em que a fugacidade da vida e a fragilidade dos afetos se revelam através de episódios notáveis e tragicômicos do cotidiano.
Com Vida, morte e outros detalhes, Boris Fausto abre ao leitor um valioso baú, repleto de memórias, pensamentos e provocações acerca da (in)finitude humana.(sinopse da editora)
DIÁRIO DO LUTO
Autor: Roland Barthes
Editora: Martins Fontes (WMF), 2011.
Sinopse: Existe uma regra para os sentimentos no processo de luto? Roland Barthes mostra nestas páginas que não. Barthes começou a escrever fichas sobre seu estado a partir de 26 de outubro de 1977, um dia depois da morte de sua mãe. As notas foram escritas até o dia 15 de setembro de 1979. Nos dois anos, ele somou 330 fichas que trazem os mais diversos sentimentos e como todos eles estão conectados com a perda de sua mãe. Uma das fichas, de 27 de outubro, diz exatamente sobre isso: “Todos calculam –eu o sinto– o grau da intensidade do luto. Mas é impossível (sinais irrisórios, contraditórios) medir quanto alguém está atingido. O livro de Barthes conversa muito também com filhos que perderam suas mães e que, de alguma maneira, vivenciaram trocas de papéis no cuidado com elas. Um dos trechos, fala sobre a confusão que o cerca, ao sentir como se tivesse perdido também uma filha. “19 de novembro: [confusão de estatutos]. Durante meses, eu fui sua mãe. É como se eu tivesse perdido minha filha (dor maior do que esta?)”.
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ADEUS, GANA
Autora: Tayie Selase
Editora: Tusquets, 2019
Sinopse: Dividido em três partes —”Partido”, “Partida” e “Partir”— a narrativa começa pelo fim. “Em um domingo, antes de amanhecer, Kweku morre descalço”, convidando o leitor a calçar as pantufas do patriarca da família, acompanhando o personagem de Gana aos Estados Unidos. De pano de fundo, somos apresentados aos diferentes períodos de Gana e Nigéria, mostrando as diversas mortes que atravessaram as guerras e desafios desses países. O título original “Ghana Must Go” faz referência à expulsão de milhares de ganenses de território nigeriano em 1983, quando reuniam seus pertences em bolsas de náilon adornadas de xadrez, até hoje chamadas de “Ghana Must Go”, uma bagagem carregada de preconceito, mesmo após 40 anos.Para quem busca uma leitura leve e rápida, esse não é o livro mais indicado, já que exige atenção e fôlego em suas 352 páginas. Selasi não adjetiva as dores das personagens. Escolhe as palavras de forma minuciosa, nos fazendo sentir todas as dores, tanto as do estômago quanto as das partidas, inclusive a do título.
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NOTAS SOBRE O LUTO
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras, 2021
Sinopse: “Eu preciso de tempo”, escreve Chimamanda Ngozi Adichie no relato autobiográfico “Notas sobre o Luto”, em que aborda a morte de seu pai. Lançado pela Companhia das Letras, o livro conta a história do pai da escritora, James Nwoye Adichie, que nasceu em 1932, foi professor de matemática e morreu em 10 de junho de 2020, em decorrência de falência renal. Chimamanda mostra a dificuldade de enlutados assumirem assuntos burocráticos em meio à dor. “Como as pessoas andam pelo mundo, funcionando, depois de perder um amado pai?”. O olhar para o dia a dia é a grande sacada da autora ao falar sobre luto, lembrando que as saudades não estão só nos grandes acontecimentos, mas na emoção ao encontrar a caligrafia curvilínea que anuncia a educação africana colonial ou na imagem do pai caminhando de um lado para o outro em seu exercício matinal.
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A RIDÍCULA IDEIA DE NUNCA MAIS TE VER
Autora: Rosa Montero
Editora: Todavia Editora, 2019.
Sinopse: “Como não tive filhos, a coisa mais importante que me aconteceu na vida foram meus mortos. Talvez, você ache isso lúgubre, mórbido. Para mim é uma coisa tão lógica, tão natural, tão certa. Apenas nos nascimentos e nas mortes é que saímos do tempo. Quando uma criança nasce ou uma pessoa morre, o presente se parte ao meio e nos permite espiar por um instante pela fresta da verdade”. Esta é a frase que apresenta o livro “A ridícula ideia de nunca mais te ver”, no qual Rosa Montero nos fala sobre o luto da cientista Marie Curie pela perda de seu companheiro, Pierry, e, em paralelo, nos conta a sua própria relação com o luto, pela morte do marido Pablo. Mesmo em períodos tão distintos, os escritos de dor e de amor de ambas as mulheres se cruzam nessa narrativa que vem nos falar sobre a morte de uma maneira cuidadosa e generosa, já que Rosa traz nas palavras um pouco de aconchego a quem está passando por uma perda semelhante. “Quanto mais você se aproxima do essencial, menos pode nomeá-lo. O tutano dos livros está na esquina das palavras. O mais importante dos bons romances reside nas elipses, no ar que circula entre os personagens, nas frases menores. Por isso, acho que não posso dizer mais nada sobre pablo [seu marido]: seu lugar está no centro do silêncio”.
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LILI NOVELA DE LUTO
Autora: Noemi Jaffe
Editora: Companhia das Letras, 2021.
Sinopse: Aceitar a morte passa por diferentes lugares. A palavra pode ser um desses, materializando a partida por meio do verbo. É de forma muito poética, sensível e com a honestidade de uma conversa com o leitor que Noemi Jaffe irá falar sobre a morte de sua mãe. Noemi vai mostrar que, independente da mãe ter morrido aos 93 anos e ela de alguma forma saber da proximidade da morte, a sua partida não foi sem dor. Leitura rápida, mas muito profunda.
FICÇÃO
PEQUENA COREOGRAFIA DO ADEUS
Autora: Aline Bei
Editora: Companhia das Letras, 2021.
Sinopse: Julia é filha de pais separados: sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto seu pai não suporta a ideia de ter sido casado. Sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a jovem escritora tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares.
Entre lembranças da infância e da adolescência, e sonhos para o futuro, Julia encontra personagens essenciais para enfrentar a solidão ao mesmo tempo que ensaia sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento de seus pais que lhe traz marcas indeléveis.
Escrito com a prosa original que fez de Aline Bei uma das grandes revelações da literatura brasileira contemporânea, Pequena coreografia do adeus é um romance emocionante que mostra como nossas relações moldam quem somos. (sinopse da editora)
A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS
Autora: Valter Hugo Mãe
Editora: Biblioteca Azul, 2016.
Sinopse: Em uma narrativa carregada de poesia, Valter Hugo Mãe nos convida a olhar do lado de dentro do Senhor Silva, que perde sua companheira de uma vida inteira e vai viver em um asilo. As reflexões passam sobre a dor, a angústia, mas também pelo trabalho de memória que ele empreende na busca de encontrar dentro de si um pouco do amor que nutre por ela. No meio do livro, ainda é possível rir com o jeito irônico e muitas vezes extrovertido de senhor Silva. Ao longo do romance, é possível conhecer um pouco da identidade lusitana –tanto as potências quanto os desafios e dores–, fazendo de A Máquina de Fazer Espanhóis um retrato não só do luto, mas também dos estados de ânimo de uma nação.
Leia também: Como se ama na ausência? Uma homenagem de filho para pai
O PAI DA MENINA MORTA
Autor: Tiago Ferro
Editora: Todavia, 2018.
Sinopse: Empatia está longe de ser pena, não há condolescência nem lamentação. O autor, que escreveu em um artigo na revista Piauí “não quero ser o pai da menina falecida”, agora assume, no título, o rótulo completo, talvez por perceber ser impossível fugir dele. A troca de “falecida” por “morta” não é mera semântica. Sugere a incorporação viva do tabu da morte.
O autor está pouco se lixando para aceitações e oferece uma intimidade visceral. Escritores muitas vezes tentam ser verdadeiros, autênticos e sinceros, sem pudores nem medo de como os outros vão julgar este ou aquele pensamento, ainda mais quando escrevem em forma de diário, sobre um caso conhecido, que foi midiatizado e comentado.
Tiago é pai de Manu, menina de oito anos que morreu em consequência de uma gripe. A febre alta pode ter levado a uma miocardite aguda. O coração parou. Não é à toa que Tiago abre o livro com uma frase de Karl Ove Knausgard: “Para o coração a vida é simples: ele bate enquanto puder. E então para”. Classe média alta, branca. Virou a temida estatística. Link da resenha