O significado da cremação segundo Osho
Há treze anos, visitei Varanasi, uma das cidades mais sagradas da Índia. Corpos são cremados em torres ao ar livre na margem do rio Ganges e suas cinzas jogadas no rio. São os ghates que ligam o terrestre ao divino. Varanasi significa “porta do céu” e daria acesso à vida eterna. Hindus chegam de todo o país para serem cremados nessas torres e pedintes nas ruas imploram por dinheiro para comprar madeira, não comida.
A maioria dos indianos opta pela cremação dos corpos. É uma boa saída, já que arrumar terreno para sepultamento num país tão populoso seria um desafio. Mas o motivo parece ser filosófico, baseado na crença hinduísta de que o fogo regenera o corpo, preparando-o para as próximas reencarnações.
A visão de um indiano proeminente, Osho (1931 – 1990), pode contribuir para essa poetização da cremação. Professor de filosofia e mestre na arte da meditação, publicou mais de 600 livros com seus ensinamentos. Visto como um guru, líder de um movimento espiritual, seguidores o acompanhavam se organizando em comunidades. Ele teve o visto de residência negado em 21 países. Um dos motivos foi o preconceito em torno de seu liberalismo em relação ao sexo.
Osho via a morte como um evento a ser celebrado, um presente da existência. “Ela não é o fim da vida, mas sim seu clímax”, dizia, e por isso afirmava que os funerais deveriam ser um festejo. No vídeo abaixo, “Sim, Nós Celebramos a Morte Também”, seu depoimento é acompanhado por imagens de um funeral, digamos, animado. Ao contrário do semblante triste e das roupas escuras que costumamos ver por aqui, esse tem música e danças que beiram o frenesi, com um aspecto de bloco de rua carnavalesco acabando na Quarta-Feira de Cinzas.
Osho diz que o processo de cremação também deve ser visto por crianças, para “enfrentarem as verdades”, como coloca.
Ele comenta que o fogo é necessário para que o espírito se desprenda do corpo, como símbolo de purificação e desapego. O espírito assistiria seu corpo queimando e se conscientizaria do fim da vida, cortando suas ligações e prisões. A opção pela cremação teria um motivo especial: “O fogo é a única coisa que se conhece que não permite gravidade nenhuma. Ele sempre sobe, e assim é um símbolo da sua espiritualidade, que também sempre sobe. Você vê chamas e em breve elas desaparecem, sua visibilidade ocorre por alguns segundos e já se tornam invisíveis”. O fogo subiria em direção à “nossa casa”, de onde viemos e para onde vamos.
No Japão, a cremação também é a opção predominante. De maioria budista, dispõem de vários rituais fúnebres dependendo da região. É comum um membro da família acionar o forno da cremação. O lindo filme, “A Partida”, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009, mostra a realidade de um agente funeral que prepara corpos no “ritual do acondicionamento”. Baseia-se na limpeza do corpo para o renascimento, já que a morte é vista apenas como uma passagem.
Outras religiões não permitem a cremação, como o judaísmo. Entenda o porquê numa entrevista com o rabino Adrián Gottfried . Veja também o impactante ritual tibetano, conhecido como Funeral Celeste, no qual corpos são ofertados aos Dakinis (urubus).
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