A Morte Midiatizada: como as redes sociais atualizam a experiência do fim da vida
Renata Rezende é especialista em estudos sobre comunicação social e mídia. Professora de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense, doutorada em comunicação, mestre em comunicação e imagem, pesquisadora e ainda pós-doutorada na área, ela publicou o livro “A Morte Midiatizada: como as redes sociais atualizam a experiência do fim da vida”, pela editora Eduff. A obra inicia com uma frase de Montaigne “quem ensinasse os homens a morrer os ensinaria a viver”, e é dedicado às pessoas que ama e “aos encontros: de ontem, de hoje e de amanhã”.
Segue o depoimento de Renata ao blog, relatando o que a inspirou a escrever esse livro, sua observação sobre os “cemitérios digitais” e a pesquisa de “como a experiência sobre o fim da vida se modifica com as apropriações das ferramentas digitais”.
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A morte midiatizada: como as redes sociais atualizam o fim da vida
Renata Rezende
“A obra examina como a morte se transformou na ambiência da vida midiatizada, particularmente a partir do advento das redes sociais digitais. Nesse contexto, o texto realiza um percurso da história da morte, em uma proposta síntese, da Idade Média à Idade Mídia, analisando como a experiência sobre o fim da vida se modifica com as apropriações das ferramentas digitais, problematizando questões sobre o “atual regime de existir”, no qual os meios de comunicação e informação são praticamente onipresentes e não basta ter corpo de carne e osso, é preciso ocorrer como ‘persona midiática’. Nesse cenário, no qual a materialidade se esvai, o vulto midiático se mantém, graças aos vestígios digitais, projetos de memória construídos nas atuais redes de sociabilidade.
A pesquisa é resultado da minha tese de doutorado e começou em 2006 na construção do projeto, que teve como recorte o já extinto Orkut. A ideia inicial se deu na própria observação das relações construídas na rede, primeiramente em postagens (relatos) individuais de amigos sobre a morte de algum familiar ou conhecido, com desabafos, lamentos sobre a perda e informações sobre velórios e enterros e, posteriormente, aos relatos deixados para os mortos (preces, orações, mensagens nos perfis dessas pessoas). Comecei a verificar que se tornava comum deixar recados nos perfis de pessoas que haviam morrido e, a partir daí, realizando uma espécie de netnografia, cheguei às comunidades dos mortos, que se configuram, ao meu ver, como “ cemitérios digitais”, catalogando perfis e realizando homenagens aos mortos “na vida real”, os quais continuam a circular nessas redes.
Com o fechamento do doutorado, em 2009, comecei a pesquisa no Facebook com objetivo de atualizar os dados e verificar se tais narrativas continuavam nessa rede social.
De uma maneira geral, como tento demonstrar no livro, há permanências das representações da morte, construídas ao longo da História que se estendem nas redes sociais, entre elas, a cruz e a fotografia do morto, por exemplo, mas há também novas operacionalidades que tais plataformas digitais inauguram e ressignificam”.
Renata é professora do curso de Comunicação Social e da Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da Universidade Federal Fluminense. Formada em Comunicação Social/Jornalismo, com mestrado em Comunicação e Imagem e Doutorado e Pós-doutorado em Comunicação.
Contato da autora: renatarezender@yahoo.com.br
Observação: Durante minha licença-maternidade, abri o blog para depoimentos de leitores. Os interessados em ler os artigos já publicados, por favor pesquisem nas abas laterais. Há cem posts disponíveis, separados por temas. Ou entrem na página do Facebook do blog. Para enviar seu depoimento, escreva para mortesemtabu@gmail.com. Um abraço, Camila